A ‘guerra fria’ travada entre o presidente Jair Bolsonaro e o ministro da Saúde Luís Henrique Mandetta, que ganhou novos contornos desde a celebre frase “o país não sabe se escuta o ministro ou o presidente”, deve escrever novos capítulos ao longo da semana diante dos indícios de que o mandatário do país pretende dar um basta na situação com a iminente demissão de quem até aqui tem liderado os esforços governamentais no combate a pandemia do coronavírus.
Aliás, neste sentido, é importante deixar claro que Mandetta não é único ‘militante’ dessa guerra contra o vírus que tem espalhado dor e lágrimas mundo afora, mas certamente é um dos mais proeminentes de uma frente de ação que busca e arrefecer os efeitos nefastos comprovadamente registrados a cada dia. Uma eventual demissão sua tem dois efeitos, um positivo e outro negativo em favor do próprio Bolsonaro.
Do ponto de vista prático, caso use a caneta sem moderação como disse dias atrás, terá a oportunidade de pela primeira vez, durante toda essa crise, botar a bola no peito, chamar a responsabilidade para si e comandar todas as ações do governo, assumindo todos os bônus e ônus a partir de agora. Por outro lado, se não o fizer, o ministro segue ainda mais forte, mostra que o presidente não apita nada nas decisões centrais do combate à pandemia, tendo o alento de continuar apostando no papel que brilhantemente tem feito de ‘arauto’ da controvertida tese do fim do chamado ‘isolamento social, porque tudo não passa de uma gripezinha no fim das contas.
Mas, enfim, tudo poderia ser resolvido com uma boa e longa conversa, daquelas de lavar a roupa suja e colocar o preto no branco. Como o caminho do ‘meio’ não é bem o estilo do presidente, a verdade é que se for demitido, Mandetta, cuja popularidade está nas alturas, a julgas pelas últimas pesquisas de opinião, deve sair por cima. Como ele mesmo disse, as comunidades científica e médica esperam um salto no número de infectados e de mortos por Covid-19 entre abril e maio. Mandetta não precisará dizer que a contagem de corpos explodiu após a sua saída, pois o presidente será lembrado diariamente disso – mesmo que não haja uma relação de causa e efeito entre elas.
Bolsonaro vive uma ‘escolha de Sofia’ e muito provavelmente ainda não sabe o que fazer, pois sabe, por mais indomável que seja, que demitir o ministro neste exato momento, em meio a uma pandemia que pode colapsar o sistema de saúde, pode trazer para seus ombros um enorme fardo a ficar ainda mais gigantesco depois que a grave crise econômica bater a porta do país, uma sequência mortal e capaz de abreviar, inclusive, sua estada no Palácio do Planalto.
É como se diz por essas bandas: se correr o bicho pega, se ficar o bicho come.
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