A Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), braço da Organização Mundial da Saúde nas américas, alerta para que a flexibilização das medidas de distanciamento social para combater o novo coronavírus seja adotada com muita cautela. A diretora do organismo internacional, Carissa Etienne, afirmou hoje (14) em conferência para a imprensa que interromper o distanciamento social precocemente pode ter efeito oposto, propiciando uma segunda onda de casos de covid-19 e aprofundando ainda mais a crise econômica e social nas Américas.
Carissa Etienne enfatizou que o distanciamento social é a melhor opção para reduzir a transmissão e deter a propagação do vírus. “Impede que os hospitais fiquem sobrecarregados com muitas pessoas internadas ao mesmo tempo e ajuda médicos e enfermeiros a não terem que tomar as terríveis decisões sobre a quais pacientes dar atenção e a quais não”.
A diretora da Opas reconhece que a situação é difícil para a economia e para o estilo de vida atual, mas ressalta que a pandemia ensinou que essas medidas funcionam. “O distanciamento deve manter-se por um certo período de tempo para que seja realmente eficaz. Depois de um período de distanciamento social, qualquer tentativa de fazer a transição para medidas mais flexíveis deve ser feita com extrema cautela. Essas decisões sempre devem ser tomadas com base nos padrões de transmissão da doença, na disponibilidade de testes, na capacidade de rastreio dos contatos, na disponibilidade de leitos hospitalares e outros critérios objetivos”, afirmou Carissa, acrescentando que o distanciamento é uma forma de ganhar tempo para que os tratamentos, remédios e vacinas possam chegar.
Carissa reforçou que o distanciamento social deve ser acompanhado por medidas de apoio social para os mais vulneráveis. “Isso requer uma capacidade de logística local e nacional adequada para assegurar que se entreguem remédios, testes, alimentos, e outros insumos para as nossas populações. Executar as medidas de combate à covid-19 pode ser perturbador, mas não fazê-lo pode pôr em risco o fim da crise. Interromper o distanciamento social muito cedo pode ter um efeito oposto, levando a uma segunda onda de casos de covid-19, que estenderia o sofrimento e as incertezas socioeconômicas a longo prazo na região das Américas”.
Em relação aos prejuízos econômicos decorrentes do novo coronavírus, a diretora da OPAS afirma que a atividade econômica voltará somente quando as pessoas se sintam seguras, quando sintam que os seus governos estão fazendo tudo o que podem. “Rogo aos líderes da nossa região que ganhem a confiança do povo sendo rigorosos, baseados em evidências e com total transparência nessa luta contra a pandemia”.
Jarbas Barbosa, vice-diretor da OPAS, ressaltou que a pandemia pode ser um desafio até para sistemas de saúde de países desenvolvidos. “Aprendemos com a Itália, com Nova Iorque, algumas cidades da Espanha e da França, que a transmissão comunitária se dissemina com muita velocidade, por isso é necessário tomar as medidas de distanciamento social e físico de uma maneira adaptada à realidade de cada país, mas de maneira rápida para reduzir a velocidade de transmissão e evitar que os serviços de saúde tenham sua capacidade sobrecarregada”.
Para o diretor de Emergências em Saúde da Opas, Ciro Ugarte, o controle da pandemia requer, em primeiro lugar, ampla detecção de quem tem covid-19. “Para poder fazer isso é necessário implementar vigilância epidemiológica, estabelecer uma estratégia de diagnósticos e testes, e também fazer os testes adequadamente. Aqueles pacientes que são detectados têm que estar isolados, um isolamento específico, que significa que ninguém pode entrar e sair dos lugares onde estão as pessoas infectados se não levarem os equipamentos de proteção individual adequados. Se há pessoas que estiveram em contato com os infectados, e que não estiveram protegidas durante o contato, se requer fazer a quarentena de todos os contatos. É extremamente importante entender que se as medidas são feitas adequadamente, o distanciamento é um elemento complementar mas extremamente útil para que os países possam reduzir a curva da pandemia e reduzir a transmissão”.
Setor privado
Carissa Etienne disse ainda que a pandemia realmente surpreende pela magnitude e pela incapacidade da região em dispor de recursos fundamentais, como os equipamentos de proteção individual e os testes massivos. Ela ressaltou a importância do envolvimento do setor privado neste momento de crise. “O setor privado tem que ser parte integral da resposta à covid-19. Peço primeiro que ajudem nossos países da América Latina e Caribe a resolver o desafio mais imediato que é o acesso a atenção e a testes de qualidade para a covid-19. Acho, sinceramente, que a cobertura de saúde de uma pessoa não deve depender de se ela tem um emprego ou não, o acesso aos serviços de saúde da família e da comunidade não deve depender da situação econômica da família e da comunidade, Necessitamos a força do setor privado para enfrentar a covid-19”.
Agência Brasil
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