O comitê científico do Consórcio Nordeste, que assessora as decisões dos governadores da região durante a pandemia, teme uma avalanche de casos de pacientes com Covid-19 vindos do interior dos estados. Na Paraíba, por exemplo, o receio é que o aumento no número de infectados no interior superlote as unidades de saúde da Capital, que experimenta queda dos casos.
O alerta consta no nono boletim do comitê, que ainda não foi publicado e está sujeito a alterações. O documento indica uma possível nova sobrecarga no sistema hospitalar da região.
“Esse efeito bumerangue já começou. Você conhece o efeito do tsunami? A água sai da praia, todos pensam que estão salvos, e, de repente, vem uma baita onda. É o mesmo efeito”, explica o neurocientista Miguel Nicolelis, um dos coordenadores do comitê científico do Consórcio Nordeste.
O agravamento deve acontecer na medida em que os casos começam a se alastrar com maior rapidez nas pequenas cidades da região.
O movimento vem sendo registrado nos últimos dois meses. Em 15 de abril, havia 112 microrregiões nordestinas com menos de 50 casos confirmados. No dia 20 de junho, este número caiu para apenas seis microrregiões.
A interiorização crescente dos casos de Covid-19 se manifesta também nos valores de um dado chamado de fator de reprodução. Ele indica o número correspondente a quantas novas pessoas alguém com o vírus é capaz de infectar. O fator 1, por exemplo, significa que cada doente contamina, em média, mais uma pessoa. Cidades do interior registram um valor muito mais alto do que as capitais.
A região metropolitana da Capital registra uma queda acentuada nos casos e a Paraíba mudança no comportamento do novo coronavírus há 60 dias. Para se ter uma ideia, mais de 70% dos casos já estão concentrados no interior.
Recomendações
Diante do cenário de avanço da Covid-19, o comitê do Consórcio Nordeste orienta decretar bloqueio total ou reverter de planos de afrouxamento do isolamento social em capitais e cidades do interior que estejam apresentando curvas crescentes de casos e óbitos e taxa de ocupação de UTI maior que 80%.
O documento recomenda o chamado lockdown nas cidades de Salvador, Feira de Santana, Teixeira de Freitas, na Bahia, além de Maceió (AL) e Aracaju (SE). Também é citado o município de Caruaru, que já colocou em prática uma quarentena mais rígida em razão do aumento de casos. Na versão final do documento, novos municípios vão ser incluídos.
“O problema de Salvador é que o número de leitos flutua rapidamente. Houve uma tentativa de fazer lockdown de bairros, mas não conseguiu bloquear”, diz Miguel Nicolelis.
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