O filósofo francês Henri Bergson, conhecido como espiritualista evolucionista e cujo pensamento está fundamentado na afirmação da possibilidade do real ser compreendido pelo homem por meio da intuição da duração, é autor da frase “escolher é excluir.” Partindo do pressuposto bergsoniano de que a realidade é sentida e compreendida absolutamente de modo direto, sem a utilização de ferramentas lógicas do entendimento, como a análise e a tradução, não precisa ser nenhum gênio para entender que o prefeito Luciano Cartaxo já conta os dias e as horas para anunciar o nome que acredita ser o melhor para defender o seu legado político e administrativo nas eleições de 15 de novembro, em João Pessoa.
Ontem, em entrevista ao programa Bastidores, do ‘reverendo’ Albeni Galdino, na TV Master. o prefeito pessoense previu que o seu partido, o PV, deve anunciar o nome que disputará a sucessão municipal da Capital até o próximo dia 30 deste mês. Uma decisão esperada há tempos, que pode dizer muita coisa não apenas acerca do processo de construção de alianças, mas sobre futuro do próprio prefeito pessoense, que sabe que não pode errar.
Não é tarefa fácil escolher, sobretudo quando a decisão pode ser interpretada como uma exclusão, como ensina o filosofo francês. Cobri, ainda no inicio da minha trajetória no jornalismo, escolhas que se mostraram equivocadas com o tempo. As eleições de 2004, com Cícero e Ruy Carneiro (ambos, na época, do PSDB) e 2012, com Ricardo Coutinho e Estelizabel Bezerra (ambos do PSB) foram as mais emblemáticas e o resultado dessas escolhas todo mundo já sabe.
A eleição deste ano será diferente. Já escrevi sobre isso aqui mesmo. Sociedade e os governos terão papel decisivo no mundo, no Brasil, na Paraíba e em João Pessoa no pós-pandemia, embora tudo aponte para necessidade de convivência com o vírus pelos próximos meses e até ano, considerando a inexatidão de uma vacina que consiga chegar a todos. E é nesse ambiente de incertezas que o futuro projeta um cenário desolador diante da maior crise sanitária e econômica dos últimos cem anos. Mais que nunca, o compromisso agora é com a recuperação econômica e social, dentro de uma visão de que é chegada a hora de olhar mais de perto desse ‘novo normal’ e começar a tarefa de torná-lo um normal melhor, não tanto para aqueles que já têm muito, mas para aqueles que obviamente têm muito pouco.
O debate eleitoral em João Pessoa não será diferente de São Paulo, do Rio de Janeiro, Belo Horizonte, de Campina Grande ou qualquer outro município brasileiro. A pauta do pós-pandemia dominará as discussões e reflexões daqueles que se apresentarem como alternativas à cadeira principal do Paço Municipal da Capital.
Prestes a completar oito anos à frente da Prefeitura, Luciano Cartaxo sabe que tem uma gestão bem avaliada, apesar de eventuais desgastes provocados por incompreensões ou mesmo posicionamentos contrários quanto as medidas restritivas durante a pandemia, mas está consciente de que a defesa do seu legado, por si só, não bastará para que o seu PV apresente um nome competitivo e capaz de vencer o pleito, mantendo um trabalho que é reconhecido pela sociedade e que, também, aponte para algo diferente e que vá ao encontro desse ‘novo normal’.
Os quatro nomes à disposição de Luciano Cartaxo são perfis executivos que saíram da gestão deixando um legado de ações nas pastas que ocuparam, embora cada um com suas especificidades. Escolher não é tarefa fácil para ninguém, daí a necessidade de se ter muita clareza numa decisão que pode ou não repercutir positivamente numa campanha que não será fácil e que exigirá do escolhido não apenas o domínio tecnicista de uma área ou mesmo uma gestão, mas, sobretudo, ‘jogo de cintura’ para andar e avançar sobre o terreno movediço da política, que não costuma perdoar os mais ingênuos.
O fato é que o jogo será duro e o erro pode ser fatal. A verdade é que escolhido ou escolhida terá que apresentar um discurso que convença a sociedade de sua capacidade de encarar, liderar e vencer os dois grandes desafios que temos pela frente: a recuperação econômica e social da cidade no pós-pandemia. Do contrário, patinará feito adulto querendo ser criança em pista de gelo, contentando-se em cumprir tabela num campeonato que quem erra muito perde feio.
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