Com o afastamento de Wilson Witzel por 180 dias do Governo do Rio por ordem do STJ (Superior Tribunal de Justiça), o comando do estado passa agora para o vice, Cláudio Castro (PSC).
De estilo discreto, o vice-governador já sinalizava e recebia sugestões sobre como deveria comandar o estado caso o afastamento de Wilson Witzel (PSC) do Palácio Guanabara se confirmasse.
O vice chegou a usar o termo “gestão parlamentarista” com deputados para demonstrar a disposição em ouvi-los e ceder-lhes espaço, segundo interlocutores. Recebeu como sugestão que se afaste completamente da eleição municipal que se avizinha.
Castro sempre se apresentou como um primeiro assessor de Witzel, sem protagonismo nas ações governamentais. Ao longo de um ano e meio de mandato, por diversas vezes buscou apaziguar os ânimos entre os palácios Guanabara e Tiradentes nas sucessivas crises entre Executivo e Legislativo.
Desde a aprovação da abertura do processo de impeachment, contudo, o vice não se pronunciou em defesa do titular do cargo. Em suas redes sociais, não publicou nenhuma mensagem de apoio a Witzel. A interlocutores ele tem se queixado sobre a suposta produção de dossiês contra ele por pessoas ligadas ao governador.
Nas conversas com deputados, ele não estimulava a queda do governador, mas também não se empenhava mais na defesa como antes. Castro também se comunicou com o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) a fim de criar pontes com o governo federal caso assumisse o cargo.
Segundo relato de parlamentares, ao ser consultado sobre a hipótese de Castro assumir o governo, o senador disse que só não colocaria um tapete vermelho por não gostar da cor, usualmente associada à esquerda.
Cantor católico membro da Renovação Carismática, o vice é visto como um político conciliador, mas sem voz de comando. Ex-vereador da capital, ele tem a carreira atrelada ao deputado federal Hugo Leal (PSB), com quem iniciou na política no Detran-RJ, e ao deputado estadual Márcio Pacheco (PSC), ex-líder de Witzel na Assembleia Legislativa do Rio, de quem foi chefe de gabinete e dividiu o palco em shows gospel.
Leal já aparece como aposta de eminência parda de uma futura gestão Castro —cogita-se que o deputado ocupe a Casa Civil. Outros nomes cotados para um eventual secretariado são os deputados estaduais Rodrigo Barcellar (Solidariedade), Thiago Pampolha (PDT) e Jair Bittencourt (PP).
Questionado sobre isso semanas atrás, Leal negou. “Este assunto está fora de entendimento. Temos ainda um governador em exercício. Apesar de ficar feliz pela lembrança, não está no meu radar.”
Instalado no quinto andar do prédio anexo ao Palácio Guanabara, Castro era até meados do ano passado um cantor religioso, membro da Renovação Carismática da Igreja Católica, cuja principal meta de curto prazo era renovar seu mandato na Câmara Municipal, para o qual foi eleito com 10.262 votos.
Os planos mudaram quando o ex-juiz Wilson Witzel (PSC) não encontrou partidos para se aliar na disputa pelo governo. Ao se recusar a abrir mão de sua candidatura, apesar de figurar com 1% de intenção de voto nas primeiras pesquisas, teve de encontrar na própria sigla um companheiro de chapa.
“Uma ala defendia uma vereadora de Quissamã e outra o meu nome. Como ela não podia, porque era servidora da prefeitura e não havia se desincompatibilizado, o partido me convidou”, contou ele.
Castro teve de cancelar sua participação no festival Halleluya —espécie de Rock’n Rio católico—, marcado para o fim de semana anterior do primeiro turno. De lá para cá, a ascensão meteórica do atual governador o levou para aquela sala que ainda não parece sua.
Já no início do governo, Castro recebeu a incumbência de tocar dois órgãos alvos de investigação da Operação Lava Jato no Rio de Janeiro. Tanto o Detran como o DER (Departamento de Estradas e Rodagem) foram objeto de acusações de corrupção na gestão do ex-governador Sérgio Cabral (MDB).
Castro é cantor desde 1996, quando era o vocalista da banda “Em nome do Pai”. Agora, em carreira solo, lançou dois CDs —o último em 2015. Ele também foi por sete anos coordenador do Ministério de Fé e Política da Arquidiocese do Rio de Janeiro.
O vice-governador rejeita se apresentar como um representante da Igreja Católica no governo fluminense. Nem sequer demonstra preocupação com o avanço de evangélicos tanto sobre os fiéis católicos como na representação política.
“Eles entendem essa questão da representatividade de forma mais forte, de defender os valores nos meios públicos. A Igreja Católica tem uma visão mais para a sociedade toda”, disse ele.
“A Igreja Católica não tem o seu representante oficial. Não é a forma dela agir. Eu sou um católico na política”, disse à Folha em junho do ano passado.
Para ele, sua função no cargo não é resgatar um protagonismo político ou confessional da Igreja Católica.
“A igreja sempre esteve mais preocupada com os seus, e não com o crescimento do outro. Sempre nos preocupamos em ter gente de qualidade, e não aquele católico de IBGE. A pessoa tem que se sentir bem. E a Renovação Carismática é isso, ela quer que a pessoa se sinta bem”, afirmou.
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