Morreu, aos 103 anos, uma das últimas “Spitfire Women” do Reino Unido — as mulheres que transportavam aeronaves para o front da Segunda Guerra Mundial.
Eleanor Wadsworth era funcionária do serviço Auxiliar de Transporte Aéreo (Air Transport Auxiliary, ATA), uma organização civil criada durante o conflito para fazer melhorias e reparos nas aeronaves de combate e levá-las das fábricas às bases da Força Aérea britânica (RAF, sigla para Royal Air Force).
Segundo a associação de membros da ATA, ela foi uma das 165 mulheres que voaram naquela época sem o auxílio de rádio ou outros instrumentos de voo. No total, 1,250 homens e mulheres de 25 países transportaram por meio da organização cerca de 309 mil aviões de combate, de 147 modelos diferentes.
Wadsworth vivia na cidade de Bury St Edmunds, no condado de Suffolk, na Inglaterra, e morreu após estar um mês adoentada.
‘A ideia de aprender a pilotar de graça era um grande incentivo, então me inscrevi sem pensar muito sobre o assunto’, disse Wadsworth — Foto: ELEANOR WADSWORTH/HOWARD COOK por BBC
Ela nasceu em 1917 na cidade de Nottingham e começou a pilotar em 1943 — algo que, até então, não estava em seus planos. Trabalhando como assistente do departamento de arquitetura da ATA, um dia ela viu um anúncio de vagas para mulheres pilotos com pouca ou nenhuma experiência prévia.
Em uma entrevista dada no ano passado à associação que reúne as últimas mulheres pilotos da Segunda Guerra Mundial, ela contou que “buscava um novo desafio” quando resolveu aplicar para a vaga.
“A ideia de aprender a pilotar de graça era um grande incentivo, então me inscrevi sem pensar muito sobre o assunto.”
Segundo a historiadora Sally McGlone, foi um das primeiras seis candidatas convocadas.
À publicação, Wadsworth disse ainda que o famoso Spitfire, único caça do lado dos Aliados a operar durante todo o conflito, era o modelo que ela mais gostava de pilotar — o que fez 132 vezes.
“Era uma aeronave linda, ótima de conduzir”, acrescentou.
A britânica recebeu diversas homenagens por sua bravura nas redes sociais. O ex-piloto da Força Aérea britânica John Nichol, que foi prisioneiro durante a Guerra do Golfo, lamentou sua morte e disse que, ao comentar no passado sobre sua longevidade, a piloto teria dito: “É sorte! Eu tento não me preocupar muito com as coisas sobre as quais não tenho controle”.
McGlone ressaltou que Wadsworth e suas colegas da ATA “continuarão sendo uma inspiração para mulheres no mundo inteiro”. Howard Cook, também historiadora, destacou que as “Spitfire Women”, como eram chamadas as mulheres que transportavam aviões de combate durante a Segunda Guerra, foram “incrivelmente corajosas”.
A escritora Karen Borden, que entrevistou Wadsworth para seu próximo livro, acrescentou que, “assim como muitas mulheres pilotos, ela era extremamente humilde em relação à sua contribuição ao esforço da guerra”.
“Ela brincava que voar ‘reto e nivelado’ era sua marca… e dizia como era incrível subir aos ares por conta própria.”
Para o filho Robert, ela foi “uma mãe maravilhosa e uma avó e bisavó afetuosa”, mas que era muito “pragmática” sobre o serviço prestado durante a guerra.
‘A ideia de aprender a pilotar de graça era um grande incentivo, então me inscrevi sem pensar muito sobre o assunto’, disse Wadsworth — Foto: ELEANOR WADSWORTH/HOWARD COOK por BBC
Segundo ele, Wadsworth costumava dizer que “todos tínhamos um trabalho a fazer e apenas arregaçamos as mangas e o fizemos”.
Ela era uma das três pilotos membros da ATA ainda vivas, ao lado da americana Nancy Stratford e da britânica Jaye Edwards, que vive no Canadá.
G1Mundo
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