O primeiro pronunciamento público do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), após decisão monocrática do ministro Luiz Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), que anulou todas as condenações do petista no âmbito da Operação Lava Jato por considerar a 13ª Vara de Curitiba, então comandada por Sérgio Moro, incompetente para apreciar os casos, foi marcado pela tentativa do líder político em se apresentar como contraponto ao presidente Jair Bolsonaro e seu governo.
Com um tom diferente do emprego quando da saída da prisão em Curitiba, também após decisão do STF, o discurso de Lula demarcou território para o futuro e demonstrou a disposição do ex-presidente de tentar retornar ao Palácio do Planalto nas eleições do próximo ano.
Em quase duas horas, entre discurso e entrevista à imprensa, Lula procurou passar ao largo das denúncias de corrupção, inclusive ignorando a tal autoavaliação tão reclamada por aliados de outras legendas, falou que foi vítima do maior erro jurídico da história em mais de 500 anos e centrou fogo contra a Lava Jato, o ex-juiz Sérgio Moro, os procuradores, a quem chamou de integrantes de uma quadrilha, e, claro, Bolsonaro.
Com os olhos fixos em 2022, o petista dedicou a maior parte de sua argumentação para espinafrar o governado Bolsonaro, a quem chamou de “desgoverno”. “Esse país não tem governo. Esse país não cuida da economia. Não cuida do emprego, não cuida do salário, não cuida da saúde, não cuida do meio ambiente, não cuida da educação do jovens, da meninada da periferia. Ou seja, do que que eles cuidam?”, indagou com endereço certo ao presidente, a quem tachou de ser um “fanfarrão”.
Lula procurou ser contraponto a Bolsonaro o tempo todo. Criticou a política internacional e a falta de habilidade do país na negociação com os países, ponto do outro lado da balança sua relação com diversos líderes internacionais, inclusive no período pós-presidência. também não poupou críticas à economia, destacou o desemprego, disse que Bolsonaro não conversa com empresários, “porque parece que só conversa com o loro da Havan”, falou que o país agora só pensa em comprar armas, quando deveria cuidar dos empregos, da educação e da saúde, mas foi sobre a pandemia que o petista desancou ainda mais o mandatário do país.
O ex-presidente disse que ao invés de comprar vacinas e criar um gabinete de crise, “o presidente inventou a cloroquina, disse que a Covid-19 era coisa de marica, covarde e que não é esse o papel, num mundo civilizado, de um presidente da República”, e emendou: “Ele não sabe o que é ser presidente da república. Ele não foi nada a vida inteira, se aposentou cedo porque queria explodir quartel. Depois disso não fez mais nada. Foi deputado e ainda conseguiu convencer as pessoas que nunca foi político.”
E mais, ainda acerca da pandemia, em novo contraponto avisou: “semana que vem, se Deus quiser, eu vou tomar minha vacina. Não siga nenhuma decisão imbecil do presidente. Tome vacina!”
Habilidoso e ‘jogando’ para frente, o petista acenou para os empresários, a classe política e, após críticas à imprensa, embora em tom bem mais ameno que as proferidas até pouco tempo, acenou e verbalizou para uma ‘pacificação’ de ânimos. “Nem o João Roberto Marinho gosta mais da imprensa do que eu”, cravou.
A verdade é que a campanha de 2022 já começou e o presidente Jair Bolsonaro passará a ter uma oposição forte e pronta para combatê-lo nas ruas e nas redes, o que obrigará necessariamente de uma mudança radical do governo e do próprio presidente, a começar por mais empenho na compra de vacinas e sendo, ele mesmo, embaixador desse que já é, sem dúvidas, pelo menos até o presente, o único antídoto contra o vírus e os efeitos sociais e econômicos provocados por uma pandemia que ainda está longe de cessar no Brasil.
Não à toa, o flerte com a sanidade e o chamado senso de urgência não vieram após a primeira, a milésima, a ducentésima septuagésima milésima vida perdida. Vieram após o discurso de um adversário político. O que isso quer dizer? Bom, enfim, Lula está de volta. Bem vindos
Discussion about this post