A estudante Glenda Targino, de 18 anos, passou em medicina na Universidade Federal da Paraíba através do Sistema de Seleção Unificada (Sisu). Estudante de baixa renda, ela dava aulas de reforço para ajudar na renda de casa e tinha o sonho de fazer medicina desde pequena.
“Faço o possível para ajudar minha mãe. Ela abdicou de muitas coisas para cuidar de mim e tentar fazer o mínimo do mínimo que ela fez por mim me deixa muito feliz. Eu pago a internet e energia, que é o que eu mais uso para trabalhar”, relata.
Natural de João Pessoa, desde os 5 anos estudou no Centro Estadual Experimental de Ensino-Aprendizagem Sesquicentenário e medicina sempre foi a primeira opção de Glenda. Aos 12 anos, fez o seu primeiro Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e passou em matemática computacional na UFPB, mas não chegou a cursar.
No mesmo ano, se inscreveu no Prouni e conseguiu uma vaga em medicina, dentro de uma universidade privada da capital. Por conta da idade, precisaria de uma emancipação dos pais para ingressar no curso – o que não parecia a melhor opção na época. Apesar dos contratempos, Glenda se manteve focada.
“Medicina é meu curso preferido desde pequena quando brincava de médica”, explica.
Glenda Targino é estudante de escola pública e teve destaque no Enem, com ingresso em medicina na UFPB — Foto: Glenda Targino/Arquivo
Aluna dedicada, estudava o ensino médio pela manhã e de tarde, inglês e redação no Centro de Línguas do Estado. Em casa, fazia as atividades da escola à tarde e, à noite, revisava o conteúdo com foco no Enem.
Em 2019 passou em 3° lugar no Programa Gira Mundo, um projeto de intercâmbio do governo da Paraíba. Passou quatro meses estudando no Canadá e em 2020 voltou para o Brasil, passando a estudar no sistema remoto por conta da pandemia.
O processo não foi fácil – muitas vezes ela não tinha internet e sua mãe estava desempregada, o que a deixou um pouco ansiosa. Começou a dar aulas de reforço de inglês para comprar suas coisas, mas logo a situação apertou em casa e Glenda teve que começar a ajudar nas contas.
“Eu tinha muita insegurança na redação e meus professores da escola e do cursinho me ajudaram muito, até conseguir tirar 920 na redação. Estudava 3 horas no modo remoto na escola pela manhã e 2 horas à noite”, conta a estudante.
Mas para Glenda, a quantidade de horas de estudo não significa qualidade e cada pessoa tem seu ritmo de aprendizagem. O melhor método para ela foi estudar provas do Enem antigas e fazer simulados gratuitos na internet.
Ela sabia que tinha capacidade de passar, mas achou que iria ficar na lista de espera. Entrar na faculdade de primeira foi uma surpresa e a estudante conta que aguarda animada o começo das aulas.
“O processo de vestibulando não é fácil, precisamos de muito apoio da família (…) Estude, estude, tenha foco, estabeleça suas metas e nunca desista do seu objetivo e direitos que lhe assiste”.
Ela entrou pelas cotas – por meio das vagas reservadas para alunos de escola pública com deficiência que se autodeclara pardo, preto ou indígena – e defende que o sistema possibilitou que a capacidade do aluno seja a única coisa definitiva para o ingresso na universidade pública ou privada.
“O sistema de cotas é o sistema que acaba com toda a diferença e equipara o candidato da rede pública de ensino aos demais de igual modo ‘privilegiados'”.
Conforme a Lei nº 12.711, as instituições federais de educação superior vinculadas ao Ministério da Educação devem reservar no mínimo 50% de suas vagas para estudantes que tenham cursado integralmente o ensino médio em escolas públicas, em cada concurso seletivo para ingresso nos cursos de graduação.
G1 Paraiba
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