Uma mulher de 29 anos e a filha de 2 anos resgatadas nesta terça-feira (20) de cárcere privado na cidade de São Bento, no Sertão da Paraíba, estavam sendo mantidas trancadas dentro de casa com um cadeado pelo companheiro da vítima e pai da menina, um homem de 59 anos. As informações são da Polícia Civil e estão de acordo com o relato da mãe da criança na delegacia. No depoimento, a mulher disse ainda que passava fome e que o homem havia instalado uma câmera no banheiro para chantagear divulgar imagens íntimas dela, caso procurasse a polícia.
Em depoimento à polícia, a vítima disse também que possuía um telefone celular para fazer contato com a família, mas que esse contato era controlado e manipulado pelo homem, que determinava o que ela poderia falar. Além disso, ela relatou que era xingada com frequência, sobretudo depois do companheiro ter contraído HPV e a culpava por isto.
No relato, a vítima disse ainda que só saía de casa para ir ao médico com a filha e que elas eram obrigadas a se cobrirem com um cobertor para não serem vistas, nem saberem onde estavam. Conforme o delegado responsável pelo caso, Sheldon Andrius, a vítima apresentou laudos de que contraiu HPV e de que está com anemia, devido à deficiência em vitamina D por não sair no sol.
A mulher disse que as ameaças eram constantes e que o homem usava arma de fogo e facas para intimidá-la.
Versão do suspeito
Ao ser interrogado sobre essas acusações, o suspeito negou que matinha a mulher e a filha em cárcere privado. Segundo ele, a mulher tinha liberdade para ir e vir e ela e a filha não eram agredidas. O suspeito falou também que não possuía arma de fogo, nem comportamento agressivo.
Ele confirmou ter descoberto que havia contraído HPV, mas negou ofender a mulher em função disso, bem como negou que deixava a mulher e a filha passarem fome. Com relação ao telefone, ele disse que tomou o celular da companheira porque ela não estaria cuidado bem da criança e que ela mesma dizia aos familiares que morava em João Pessoa.
Sobre a câmera instalada no banheiro, o homem disse ao delegado que isso não era verdade. Já com relação ao fato das vítimas saírem de casa com o cobertor, ele disse que isso era uma escolha da mãe.
Na casa onde mãe e filha estavam trancadas, foi apreendido o notebook do suspeito, que será periciado para averiguar se há as imagens mencionadas no depoimento da vítima, uma vez que ela disse que ele havia instalado uma câmera no banheiro para filmá-la e chantageá-la, mas essa câmera não foi encontrada no local, segundo o delegado Sheldon Andrius.
O homem suspeito de manter a filha e a companheira em cárcere privado, trancadas em casa com um cadeado, estava trabalhando em uma empresa de material de construção quando foi preso em flagrante. “Fomos até o trabalho dele buscá-lo para abrir o cadeado”, complementou o delegado.
Vídeo do resgate
Um vídeo mostra o momento em que mão e filha foram resgatadas da casa onde eram mantidas trancadas com cadeado. As imagens mostram a conversa da Polícia Civil com a vítima, quando ela explica a situação em que estava vivendo. “Ele ameaça de morte. Se eu denunciar, ele me mata”, relatou a vítima.
Por uma brecha na porta, que está trancada com cadeado, um homem conversa com a vítima. A mulher explica que ficava presa o dia todo e que não saia nem para “varrer essa calçada”. “Eu tenho muito medo. Eu já passei muito tempo nesse problema porque eu tenho muito medo de acontecer alguma coisa”, disse.
Entenda o caso
Um homem de 59 anos foi preso em flagrante suspeito de manter a mulher e a filha em cárcere privado por 5 anos, trancadas com cadeado dentro de uma casa na cidade de São Bento, no Sertão da Paraíba. A informação foi repassada pela Polícia Civil e a prisão aconteceu na manhã desta terça-feira (20).
De acordo com as investigações policiais, o homem agredia as vítimas e as deixava sem comida. Mãe e filha só conseguiram se libertar do cárcere após uma vizinha ter percebido a situação e jogado um aparelho celular pelo muro para que a mulher chamasse a polícia e pedisse ajuda. Em depoimento à polícia, o suspeito negou todas as acusações.
O delegado Sheldon Andrius Fluck, responsável disse que um laudo médico comprovou as agressões na mulher e na criança.
Conforme o delegado, ele “alegou que ela foi para colação de grau em João Pessoa ano passado. Eu questionei ela e ela disse que fez uma faculdade à distância e que realmente foi para a colação em João Pessoa, mas não procurou ajuda porque ele estava com a filha deles em casa e ela não tinha nem registro. Se ele fizesse algo com ela, não teria nem como provar a existência da filha”.
“Ela [a mulher] disse que ele as agredia constantemente e as deixava passando fome. Quando ele saía de casa cortava a energia e ameaçava a mulher de morte caso ela contasse a alguém. Ela não mantinha contato com ninguém. Os vizinhos, que moravam na região há cerca de três anos, nunca tinham visto a mulher nem a criança. Elas só saíram de casa para ir ao médico e mesmo assim eram enroladas com um cobertor, como foi no dia do parto”, detalhou o delegado ao falar sobre o que a vítima relatou à polícia durante o depoimento.
A vítima procurou a polícia e, ao chegarem no local, os policiais constataram o fato. “O lugar estava todo revirado, bagunçado e sem comida”, pontuou o delegado.
O homem preso trabalha em uma empresa de materiais de construção. Ele foi autuado por cárcere privado e encaminhado para a penitenciária de Catolé do Rocha, também no Sertão. A mulher foi ouvida e liberada.
Após ter tomado conhecimento do caso através da imprensa, a equipe do Conselho Tutelar foi à delegacia nesta tarde para apurar as informações e adotar as medidas cabíveis. De acordo com o órgão, a rede de proteção às vítimas foi acionada e mãe e filha foram encaminhadas para os serviços de assistência psicossocial do município.
Elas estão em um endereço seguro aguardando a chegada de familiares, que, pela investigação da polícia, são do estado de Pernambuco.
G1
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