Neste momento, o mundo posta os olhos no chefe de governo brasileiro. Como manda a tradição, ele vai lá fora mostrar a “cara” do país que considera conhecer e presidir, ao discursar na sessão anual da ONU. Aqui, internamente, é forçoso que nos perguntemos: quando o Brasil foi “iniciado em drogas”? Em que esquina o país se perdeu de si e do brasileiro médio, perplexo diante de suas convulsões, crises de overdose e delírios, tornando-se um país tóxico? Quem é o nosso “fornecedor” de ácido lisérgico? O Brasil tem sofrido de overdose de ódio, de mediocridade e de vulgaridade. Sobram atitudes rastaqueras e falta-nos adjetivos para tanta baixaria.
Não bastasse o show de horrores a cada viagem internacional, falta consistência ao discurso que Bolsonaro leva ao mundo, quando os demais líderes esperavam ouvir mensagens a respeito da política ambiental e do direito dos indígenas. Bolsonaro mente, fala para o seu quintal. O seu discurso foi para os caminhoneiros acampados até hoje em Brasília, urrando pelo fim do STF. O que sobra dessas suas viagens são as imagens vulgares e a sensação de que estamos cada vez menores diante dos que nos miram do exterior.
Não é verdade que cuidou dos povos originários durante a pandemia, quando o Diário Oficial da União registrou, em julho de 2020, o seu veto ao fornecimento de água potável, de respiradores e hospitais de campanha para os indígenas. Não é real, e todos nós sabemos, que ele concedeu US$ 800 dólares de auxílio emergencial para os que perderam os meios de sustento. Tampouco interessava ao mundo, que ele destilasse falsidades contra prefeitos e governadores. Sabemos todos, Bolsonaro recusou-se a coordenar a política de enfrentamento à pandemia e o que salvou o nosso povo de estar na casa dos milhões de mortos foi o Sistema Única de Saúde, a abnegação dos seus profissionais e a organização e luta dos governadores, para fazer chegar vacinas ao braço da população brasileira.
Mentiu sobre o desmatamento, citando justo o mês de agosto, o pior no quesito em 10 anos, conforme dados do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon)
Os propalados US$ 800 dólares de auxílio emergencial, que na verdade foram R$ 300,00 reais por quatro meses, estendidos depois de muita luta dos progressistas para cinco meses, atingiu um total, no máximo, de R$ 1.500,00 para cada família, sendo que ainda levou uma eternidade para o início da liberação desses recursos, posto que este governo não sabia onde estavam os nossos pobres. E não foi iniciativa sua. Seu governo jamais havia organizado um banco de dados que incluísse esses brasileiros e, orgulhoso, não pediu ajuda aos que tradicionalmente estudam este segmento, sabe onde encontrá-lo e dimensioná-lo. Incompetência. Insensibilidade. Tudo isto junto e mais a ideologia fascista de que pobre só atrapalha.
Ao se apresentar em Nova York, onde foi desconvidado pelo prefeito Bill de Blasio, um liberal irritado com sua postura “topeironegacionista”, Bolsonaro leva ao centro do mundo a ignorância genuína. Não bastasse o seu discurso mentiroso e vazio, ainda fez questão de se fazer acompanhar de um ministro da saúde que nos estupra, com o dedo médio em riste. Foi assim que nos sentimos, ministro. Fomos todos estuprados com o seu gesto. Nesta semana, em que chegaremos aos 600 mil mortos pela pandemia que o senhor não cuidou, os que escaparam da morte sentiram no ânus o seu dedo indecoroso, num estupro coletivo exposto ao mundo.
Denise Assis é Jornalista. Passou pelos principais veículos, tais como: O Globo; Jornal do Brasil; Veja; Isto É e o Dia. Autora de “Propaganda e cinema a serviço do golpe – 1962/1964” e “Imaculada”. Membro do Jornalistas pela Democracia
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