A fosfoetanolamina, conhecida como ¿pílula do câncer, foi reprovada nos primeiros resultados de testes independentes realizados por pesquisadores da USP de São Carlos. De acordo com o jornal Folha de S. Paulo, a medicação tem baixo grau de pureza e demonstra pouco ou nenhum efeito sobre células tumorais. Também foi constatado que o desempenho é muito inferior ao de drogas anticâncer disponíveis, há décadas, no mercado.
Análises iniciais feitas na Unicamp apontam, por exemplo que as pílulas possuem apenas cerca de 30% de fosfoetanolamina propriamente dita em sua composição. O restante são outras moléculas, algumas delas sem relação direta com o suposto princípio ativo da droga.
Segundo a Folha, dois testes diferentes do conteúdo da pílula, considerando sua ação sobre cinco tipos de células de câncer em laboratório, indicam que ela, talvez, seja quase inócua contra tumores.
Em um dos testes, foi preciso usar concentrações de “fosfo” milhares de vezes maiores que as de drogas anticâncer convencionais para que fosse possível reduzir a proliferação das células tumorais. Em outro, houve um efeito anticâncer, de fato, só que causado pela monoetanolamina, um dos componentes da mistura de substâncias da pílula. Nesse caso, também foi necessária uma concentração altíssima da substância para que o efeito aparecesse.
Procurado pela reportagem da Folha por telefone, Gilberto Chierice, líder do grupo de pesquisadores, disse que não pretendia comentar os resultados.
Os resultados foram divulgados pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, na semana passada. A Pasta havia prometido investir R$ 10 milhões em testes, em 2015, em resposta à pressão de grupos de pacientes que relatavam melhorias após usar a droga.
A mobilização fez com que a Câmara dos Deputados aprovasse, neste mês, um projeto que libera a produção, venda e uso da pílula, mesmo sem a comprovação científica de eficácia. Ainda falta o aval do Senado para a legislação.
A fosfoetanolamina e suas possíveis propriedades anticâncer é estudada desde os anos 1980 por um grupo de pesquisadores liderado pelo químico Gilberto Chierice, hoje professor aposentado da USP. Algumas pesquisas indicam que ela seria capaz de matar múltiplos tipos de células cancerosas.
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