As rimas, versos e músicas de autoria dos adolescentes e jovens que cumprem medidas judiciais de semiliberdade na Fundação Desenvolvimento da Criança e do Adolescente “Alice de Almeida” (Fundac) já não fazem mais parte das histórias contadas apenas dentro da internação. A música vem perpassando os muros das unidades socioeducativas e ganhando espaços sociais, e os alunos que realizaram a Oficina de Artes Cênicas tiveram a oportunidade de apresentar o resultado do seu trabalho durante espetáculo no Teatro Ednaldo do Egypto, na manhã desta quinta-feira (24), para familiares e servidores da Fundac.
A Oficina de Artes Cênicas, ministrada pela atriz Letícia Rodriguez, teve início durante o Circuito Verão Jovem – projeto da Fundac que busca ocupar o tempo dos socioeducandos durante o período de recesso escolar – e contemplou 11 socioeducandos do Centro Socioeducativo de Semiliberdade, que durante o período de 2 meses participaram de encontros semanais.
De acordo com Nilton Santos, coordenador de Esporte, Cultura e Lazer da Fundac, a Oficina é fruto da parceria entre a Fundac (por meio dos eixos Esporte, Cultura e Lazer; Diversidade Étnico-Racial, Gênero e Orientação Sexual; e Educação), e a Prefeitura Municipal de João Pessoa, através da gestão do Teatro Ednaldo do Egypto.
Nilton explicou que a atriz Letícia Rodriguez, além de professora, é gestora do teatro e possibilitou que a oficina acontecesse nos moldes do teatro em sua totalidade. “Durante a oficina, os alunos tiveram a oportunidade de trabalhar não apenas com a parte artística, como também com a parte técnica, utilizando o maquinário do teatro: a parte técnica, o som e a iluminação, ou até como contrarregra, essenciais para a realização do espetáculo”, disse.
Andreina Gama, coordenadora de Diversidade Étnico-Racial, Gênero e Orientação Sexual da Fundac, acredita que o teatro é um dos campos que mais liberta. “Onde podemos exercitar as multifacetas que o ser humano tem, onde podemos nos colocar no lugar do outro, e onde podemos desenvolver o poder da oratória, a desinibição e a postura perante a vida. A cultura, a educação, entender as diversidades e o respeito salvam”, enfatizou.
“Minha palavra é gratidão. Há três anos essas portas se abrem para mim, através de Andreina e Nilton e, desta vez, ter a oportunidade de trazer os jovens para o tablado do teatro é algo que emociona e arrepia. É muito interessante fazê-los entender que o teatro é muito mais do que fazer uma maquiagem e colocar um figurino. O Teatro é libertador e curador. Um lugar que tem espaço para todos, desde encenando ou no maquinário, e é essa brincadeira que eu quero sempre conduzir”, comentou Letícia Rodriguez, atriz e gestora do Teatro Ednaldo do Egypto.
Para Davi Lira, diretor do Centro Socioeducativo de Semiliberdade, o teatro tem uma importância fundamental no processo de formação de toda sociedade. “O Teatro Ednaldo do Egypto, ao abrir suas portas e envolver os socioeducandos em cumprimento da medida de semiliberdade, colabora para que estes tenham oportunidade de atuar efetivamente no mundo, opinando, criticando e sugerindo e, também, permite ajudar a desenvolver visões de criatividade, coordenação, memorização e vocabulário”, pontuou.
“Deixo registrado aqui o sentimento de gratidão à Fundac, através dos eixos Esporte, Cultura e Lazer; Educação; e Diversidade, que oportunizaram essa parceria com o teatro, bem como, a atenção, respeito e dedicação da artista Letícia Rodriguez para com nossos educandos”, acrescentou Davi.
O socioeducando C. R. G., aluno da Oficina de Artes Cênicas, definiu o espaço do teatro como meio de desenvolver os pensamentos e ideologias fora da internação. “Através do teatro, podemos nos distrair, superar a vergonha e conviver com os socioeducandos em outros lugares, além de ser uma oportunidade para que as pessoas possam ver um pouco do que somos”, refletiu.
O encerramento da apresentação contou com o agradecimento especial de Marcondes José, vice-diretor da Semiliberdade, que lembrou do empenho dos socioeducandos para que o momento acontecesse e, de forma disciplinada, realizaram os ensaios. “Meu agradecimento também a Letícia que deu esse apoio total no evento e se dedicou para que o trabalho fosse concluído, além dos familiares e profissionais da Fundac, que puderam prestigiar esse momento”, lembrou.
A apresentação dos socioeducandos contou ainda com o suporte de toda equipe técnica da Semiliberdade: Mara Araújo (assistente social), Mikaella Barreto (psicóloga), Christianne Oliveira (advogada) e Rayssa Katrinny (pedagoga), como também dos demais integrantes do eixo Esporte, Cultura e Lazer da Fundac: Orlando Júnior (jornalista, produtor cultural e oficineiro) e Edson Barbosa (oficineiro).
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