O governo do presidente Jair Bolsonaro (PL) formalizou mais uma troca de comando na Polícia Federal (PF), com a substituição de Paulo Maiurino pelo secretário-executivo do Ministério da Justiça, Márcio Nunes de Oliveira, o número 2 da pasta comandada pelo ministro Anderson Torres, muito próximo da família do mandatário do país. A movimentação levanta uma série de questionamentos, mesmo sendo prerrogativa do governante máximo da nação, porque não é comum que em menos de 4 anos, a corporação troque de comando pela terceira vez, isso sem qualquer fato aparente de improdutividade ou conduta desabonadora.
Nos bastidores, a mudança significa que o comando da PF vai ficar ainda mais próximo do ministro Torres, que é delegado da PF e muito próximo da família Bolsonaro, mas fontes da corporação viam a escolha de Maiurino como um aceno ao Judiciário, já que ele trabalhou em tribunais na capital federal. Vale lembrar que a primeira troca foi ainda mais conturbada, já Maurício Valeixo, que ficou de janeiro de 2019 a abril de 2020, quando foi substituído por Rolando Souza, que assumiu em abril de 2020 e saiu em abril de 2021, foi o pivô da saída do então ministro Sérgio Moro, hoje pré-candidato à presidência pelo Podemos, que apontou uma suposta tentativa de interferência do presidente da República em ‘aliviar’ inquéritos e investigações envolvendo seu filho mais velho, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ).
Todas essas movimentações são atípicas e suscitam uma série de interrogações sobre a autonomia da instituição e o protagonismo assumido nos últimos anos. Na verdade, o governo, que tanto acusa o PT de ter aparelhado o Estado durante os 14 anos de poder no Palácio do Planalto, pratica o faço que o digo, mas não faça o que faço ao interferir de forma tão aviltante no comando da PF pela terceira vez em pouco mais de três anos.
Neste sentido, faça-se justiça ao PT, que nunca interferiu dessa forma na corporação, nem mesmo nos agoniantes momentos do governo Dilma Rousseff, que deixou o poder da forma como todos sabem, por meio de um processo de impeachment, fruto da Operação Lava Jato, que desnudou a corrupção reinante no país naquele momento.
Aliás, em boa hora, a Associação Nacional dos Peritos Criminais Federais (APCF), por meio de nota, demonstrou preocupação a realização de mais uma troca na diretoria-geral da Polícia Federal, uma vez que a iniciativa resulta em prejuízos para a continuidade de ações estratégicas dentro do órgão e fragiliza a instituição.
A prerrogativa de mudar a direção da PF é do Presidente da República, como dissemos, contudo não deve ser confundida com uma espécie de carta branca para destituir, em períodos tão curtos e sem apresentação de critérios objetivos, os dirigentes máximos do órgão. Numa sociedade cada vez mais ávida por transparência e informação, a falta de ambas expõe o governo e levanta suspeitas sobre as razões de tantas e sucessivas trocas na Polícia Federal.
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