Hoje quero falar de saudade, palavra tão nossa e expressão caracterizada pela distância ou ausência de algo ou alguém. Há um ano, no dia 20 de março de 2021, nosso pai nos deixava em razão da Covid-19, mal que a muitas famílias amputou e a tantas outras espalhou um rastro de dor, lágrimas e muito sofrimento nos últimos dois anos.
A vida não apenas mostra, mas ensina que não é possível fugir da dor. Pelo contrário, necessariamente teremos que um dia enfrentá-la e encará-la bem nos olhos, consciente de que, como ensina Henri Nouwen, “aquele que efetivamente cura a ferida é o ferido.”
O tempo passou rápido, as feridas cicatrizaram, mas as marcas permanecem indeléveis, assim como as lembranças, cada vez mais vivas no peito e na alma de quem ficou. E, hoje, em meio a tantas recordações, sou tomado pelo sentimento de gratidão por tudo que pude viver e compartilhar ao lado do meu pai, cuja história renderia um livro sobre um homem simples e vencedor.
Recobrar a trajetória do meu pai, um ano depois da sua partida, é orgulhar-se de vida simples que tivemos; do tempo em que a comida na mesa, a roupa de vestir, os livros e cadernos para o estudo eram nosso maior tesouro. Falar sobre ele no dia de hoje é trazer à tona um amor que nunca se esvai, porque somente quem teve um verdadeiro pai, sabe a dor de não tê-lo nesta vida.
O tempo, como disse, passou rápido. No peito, um vazio preenchido por todas as boas lembranças. E quando me entristeço por qualquer motivo, lembro do meu pai e da minha mãe, e reaprendo a olhar para o amanhã, certo de que a vida precisa e deve ser vivida com graça.
Hoje, meu pai, olho para trás e sinto um orgulho profundo da travessia que fizemos juntos, e invoco a segunda carta aos Coríntios, quando Paulo, no capítulo 4, versículo 18, diz que “fixamos os olhos não naquilo que se vê, mas no que não se vê, pois o que se vê é transitório, mas o que não se vê é eterno”, para confiar na esperança do nosso reencontro futuro, quando “Ele enxugará dos olhos toda lágrima. Não haverá mais morte, nem tristeza, nem choro, nem dor, pois a antiga ordem já passou” (Apocalipse 21:4).
Enquanto esse dia não chega, saiba meu querido pai, que mesmo sem a presença material do senhor e da minha amada mãe, ando sem medo pelo vale das sombras; não apenas porque Deus está comigo, mas porque Ele me trouxe até aqui.
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