Alvo de pedido de prisão domiciliar e um dos investigados na Operação Lava Jato, o ex-presidente da República José Sarney se disse “perplexo, indignado e revoltado” em relação à decisão do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, responsável pela providência. Pronto há uma semana, o requerimento de Janot acusa Sarney e os senadores peemedebistas Romero Jucá (RR) e Renan Calheiros (AL), presidente do Senado, além do presidente afastado da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), de agirem para atrapalhar, cada um à sua maneira, as investigações sobre o esquema de corrupção descoberto pela Polícia Federal na Petrobras. No caso do deputado, há o agravante de que, segundo Janot, ele usou o cargo e o poder de que dispõe na Câmara para barrar o processo de cassação que enfrenta no Conselho de Ética.
Por meio de nota (leia íntegra abaixo), Sarney alega que prestou serviços ao país em sua longa trajetória política e reclama do tratamento de que, agora, recebe das autoridades. “Dediquei sessenta anos da minha vida pública ao país e à defesa do Estado de Direito. Julguei que tivesse o respeito de autoridades do porte do Procurador-Geral da República. Jamais agi para obstruir a Justiça”, diz trecho da mensagem.
No pedido de prisão, Janot leva em consideração que os investigadores da Lava Jato descobriram indícios de conspiração que o justificam, captados que foram nas gravações e reforçados pelas delações do ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado e de seu filho Expedito Machado. O conjunto probatório é considerado mais graves que as provas que levaram o senador cassado Delcídio Amaral à prisão, em novembro do ano passado, e à perda do mandato, em maio. A avaliação é de que enquanto Delcídio tentou manipular uma delação, a do ex-diretor de Internacional da Petrobras Nestor Cerveró, Renan, Sarney e Jucá planejavam derrubar toda a Lava Jato.
Em depoimentos de sua delação premiada, Sérgio Machado disse ter distribuído R$ 70 milhões em propina para Renan, Sarney e Jucá, entre outros integrantes da cúpula peemedebista nos 12 anos em que esteve à frente da subsidiária da Petrobras.
Leia a íntegra da nota:
“Estou perplexo, indignado e revoltado.
Dediquei sessenta anos da minha vida pública ao país e à defesa do Estado de Direito. Julguei que tivesse o respeito de autoridades do porte do Procurador Geral da República. Jamais agi para obstruir a Justiça. Sempre a prestigiei e fortaleci. Prestei serviços ao país, o maior deles, conduzir a transição para a democracia e a elaboração da Constituição da República.
Filho de magistrado e de membro do Ministério Público, mesmo antes da nova Constituição promovi e sancionei leis que o beneficiam, inclusiva a criação da Ação Civil Pública e as mudanças que o fortalecem, sob a liderança do Ministro Sepúlveda Pertence, meu Procurador-Geral e patrono do Ministério Público.
O Brasil conhece a minha trajetória, o meu cuidado no trato da coisa pública, a minha verdadeira devoção à Justiça, sob a égide do Supremo Tribunal Federal.”
Congresso em Foco
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