A deflação registrada no mês de agosto foi acompanhada por uma alta menor dos preços no setor de serviços, o mais importante da economia nacional. No mês, a inflação das atividades do segmento aumentou 0,28%, a menor taxa desde novembro de 2021.
Os dados do IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) correspondem à segunda desaceleração seguida de preços dos serviços, após altas de 0,9% em junho e de 0,8% em julho. Em agosto do ano passado, a inflação do segmento foi de 0,39%.
Mesmo com as altas em ritmo menor, os preços do setor de serviços subiram 8,76% no acumulado dos últimos 12 meses, variação semelhante à do índice oficial de preços (+8,73%), que figura abaixo dos dois dígitos pela primeira vez em um ano.
Eric Barros, economista e assessor de investimentos da Blue3, explica que a retomada da economia tende a elevar o preço dos serviços, cenário que deve ser ainda observado nos próximos meses. “Apesar da queda em agosto, a tendência é que a inflação dos serviços se mantenha em alta por algum tempo”, afirma ele.
Para Rodrigo Sodré, economista e sócio da BRA, os resultados também são reflexo da redução da alíquota do ICMS sobre a gasolina e a energia elétrica nos estados. “Essa queda refletiu nos meses anteriores e foi verificado com menor força no mês de agosto”, destaca.
No mês passado, a perda de força da inflação dos serviços foi impulsionada pela queda de 12,07% no preço das passagens aéreas. Também recuaram os valores dos planos de telefonia móvel (-2,67%), das casas noturnas (-1,16%), do cinema, teatro e concertos (-1,07%) e dos transportes por aplicativo (-1,06%).
Na avaliação de Pedro Kislanov, gerente responsável pelo IPCA, a queda das passagens aéreas após quatro meses consecutivos de alta pode ser explicada pela sazonalidade do mês. “Essa é uma comparação com julho, que é um mês de férias e há aumento da demanda. Além disso, foram quatro meses seguidos de alta, o que eleva a base de comparação. Também há o impacto da redução do querosene de aviação”, avalia.
As variações de preços do setor também são determinantes para os próximos passos do BC (Banco Central) na condução da política monetária e podem determinar um período mais prolongado dos juros em níveis elevados. Em julho, a autoridade monetária avaliou que o processo de normalização de alguns setores de serviços em diversos países emergentes “deve contribuir para manter pressão sobre os índices de inflação”.
Sodré explica que o olhar se dá pela importância do setor de serviços no PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro. “É obvio que o Banco Central tem que ficar atento a esses preços, mas acho que eles vão se acomodar com o passar dos meses”, diz o economista ao prever o início da trajetória de queda da taxa Selic no segundo semestre do ano que vem.
“Copom deu indícios de que os juros básicos não serão elevados na próxima reunião. No entanto, a inflação e taxa básica de juros tem relação direta, pois é exatamente ela que controla a inflação”, pontua Barros.
Ainda que os preços tenham subido em ritmo menor, a alta disseminada entre as atividades do setor ainda chama atenção. Em agosto, chamada difusão atingiu três de cada cinco (65,8%) atividades do setor.
Entre os 38 serviços analisados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), 25 ficaram mais caros, oito (21%) estão mais baratos e cinco (13,2%) apresentaram estabilidade no mês passado.
Entre as altas apuradas no mês aparecem as mudanças (+3,92%), o seguro voluntário de veículo (+2,27%) os serviços de costureira (+2,12%), a hospedagem (+1,52%), o aluguel (+1,42%) e pintura de veículo (+1,12%), os cursos diversos (+1,14%) e a alimentação fora de casa (+0,89%).
De acordo com Sodré, a inflação das refeições distantes do domicílio também é motivada pelo processo de retomada com a redução das medidas restritivas para conter o avanço da pandemia. “As pessoas estão saindo mais para almoçar e jantar, os shoppings estão mais cheios e isso reflete nos preços”, afirma o economista.
R7
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