Olhar a sustentabilidade de forma ampla, aliando políticas econômicas e regulatórias com o compromisso climático. Esse foi o foco do 2º FIT (Fórum ITL de Inovação do Transporte – Fontes Alternativas de Energia no Transporte), realizado recentemente na sede da CNT, em Brasília (DF). O evento, promovido pelo ITL (Instituto de Transporte e Logística), reuniu especialistas e agentes públicos em um debate amplo sobre a busca de novas fontes de combustíveis e renovação de frotas, embaladas em um pacote de inovações que sejam economicamente viáveis e escaláveis e que possam apontar o caminho para os atuais desafios do transporte. O FIT foi realizado em formato híbrido e contou com o patrocínio do Itaú e do BYD.
Na abertura do evento, o presidente do Sistema CNT, Vander Costa, destacou que a Confederação Nacional do Transporte sempre atuou para fomentar o debate sobre a necessidade de desenvolvimento de novas tecnologias e inovações que possam trazer crescimento contínuo ao transporte brasileiro. “O objetivo desse Fórum é reunir o poder público, transportadores e os principais players desse mercado para chegarmos a uma rota de novas soluções. A nossa preocupação com as emissões de carbono sempre foi grande e, em visita recente à Alemanha, pudemos ver de perto como a Europa já possui inovações em termos de combustíveis limpos, como o biometano, o hidrogênio, além de outras formas e fontes de energia.”
O presidente Vander Costa ainda destacou a atuação do Despoluir – Programa Ambiental do Transporte, desenvolvido pela CNT e pelo SEST SENAT em parceria com as federações de transporte de cargas e de passageiros. O programa, que completou 15 anos em 2022, tem se consolidado como grande parceiro dos transportadores por meio de diversas ações que promovem o bem-estar, mudam mentalidades e multiplicam conhecimentos.
Participante do evento, o ministro da Infraestrutura, Marcelo Sampaio, frisou que a agenda de sustentabilidade e de infraestrutura precisa do carimbo de uma agenda verde e sustentável. “Temos que diversificar a matriz energética, com matrizes renováveis e limpas. No setor ferroviário, já estamos diminuindo as emissões. Além disso, a Petrobras irá fazer aportes de renovação da frota de caminhões no Programa Renovar”, afirmou ele.
Na mesma linha, seguiu o ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite, o qual destacou que o Ministério irá buscar soluções climáticas lucrativas para o empreendedor, a natureza e as pessoas. “Somos parceiros do setor privado. Um exemplo é o fundo do clima que será usado para biometano e hidrogênio verde. São soluções inteligentes. Também retiramos os impostos do Programa Metano Zero, que irá produzir biogás e biometano. Temos, ainda, uma oportunidade de reduzir as emissões do setor de transporte com uma receita de crédito de carbono. Vamos sair do passivo para o ativo.”
Durante o primeiro painel do dia (COP26 no Brasil – neutralizando as emissões do transporte), o papel dos combustíveis na questão climática foi o tema central. A diretora de Relações Institucionais da Abear (Associação Brasileira das Empresas Aéreas), Jurema Monteiro, citou que questões ligadas à infraestrutura e ao meio ambiente sempre estiveram no radar da associação. “Estabelecemos metas para reduzirmos os níveis de uso dos combustíveis fósseis e, como alvo, temos a neutralização total das emissões até 2050. Já estamos estudando o SAF (Combustível Sustentável de Aviação, da sigla em inglês), considerado uma alternativa sustentável aos combustíveis fósseis, que pode ser obtido por meio do refino de algas, resíduos agrícolas, óleo de cozinha, entre outros. Ele reduz em até 80% as emissões de CO2 em comparação com o combustível tradicional”, explicou ela.
O segundo painel do dia (Cenário global de energia renovável no modal rodoviário) trouxe para o centro do debate as experiências que já estão sendo utilizadas em diversos países. “Estabelecemos metas de redução dos gases no setor de transporte em 50% até 2030. A principal medida para alcançar essas metas é a difusão de fontes alternativas para carros, caminhões e ônibus.” Por outro lado, hoje, temos fontes como o hidrogênio, que diminui em 90% as emissões de poluentes, citou o representante do ICCT (International Council on Clean Transportation), Oscar Delgado, advertindo que a transição para zero emissão no setor de transporte irá acontecer gradativamente. “Virá junto com as inovações tecnológicas, somadas à criação de padrões de eficiência e emissões.”
Como amostra do desafio, dados da Confederação Nacional do Transporte mostram que operam, atualmente, no Brasil, no segmento de cargas, cerca de 266 mil empresas. Como resultado, a frota do setor é de 2,5 milhões de veículos, entre caminhões e implementos rodoviários. Essa é a realidade que também se apresenta na Europa, como destaca Johannes Thomas, adido econômico da Embaixada da Alemanha. De acordo com ele, atualmente, cerca de 20% das emissões na Alemanha são advindas do setor de transporte.
Descarbonizar o setor
Na parte da tarde, o 2º Fórum ITL promoveu o painel “Novas fontes para a descarbonização”. Para a diretora executiva do IBP (Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás), Valéria Moroso Lima, o petróleo está no centro do problema e também da solução. Na visão dela, o setor petrolífero investe em pesquisas de novas fontes de combustíveis. “Hoje, o maior problema das emissões no Brasil está no uso do solo e na agricultura. E o setor de energia responde por 29%, onde o transporte é o que mais polui, assim como em todo o mundo.” Porém, a diretora pondera que o Brasil já utiliza misturas no combustível que diminuem as emissões. “Já temos um combustível relativamente mais limpo.”
O gerente executivo de Desenvolvimento de Caminhões, da Scania, Mauricio Torrão, destacou que o desafio da descarbonização não é mais uma opção, e, “sim, uma necessidade e que ela passa por entender como os setores se encaixam para melhorar o processo”. Já o consultor de Operações de Transportes da BYD, Bruno Paiva, apontou que os entraves para a mudança de frotas para os elétricos estão, principalmente, no setor de transporte de cargas e passageiros. “O custo, o financiamento e a infraestrutura são os gargalos. Em relação aos ônibus, já estamos nacionalizando a produção.” Por outro lado, Paiva citou que o interesse pelo elétrico aumentou com o aumento do custo do diesel. “O transportador começou a procurar os caminhões elétricos para entender como eles funcionam.” O encerramento do Fórum tratou do tema “A mobilidade do amanhã”. Para Maria Constantino, diretora executiva de ESG do Grupo Comporte, o futuro é a mobilidade sustentável. “Sempre tivemos como pauta a parte social. A mobilidade é essencial para uma cidade. Mas é preciso rever o modelo de negócio”, destacou ela. Essa opinião é compartilhada por Martin Eggenschwiler, conselheiro na Embaixada da Suíça no Brasil. “Na Suíça, o transporte também é visto como um bem social, com políticas públicas e privadas em consonância com as novas tecnologias.”
Durante o evento, a CNT lançou uma plataforma de descarbonização inédita para o transporte. A Verden ESG ajudará o transportador a saber sobre suas emissões e como neutralizá-las para contribuir com a qualidade do ar no Brasil.
Veja aqui a íntegra do 2º Fórum ITL de Inovação do Transporte.
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