Para muitas pessoas, a chegada do fim de ano é sinônimo de confraternização, festa e alegria, entre os amigos, familiares e colegas de trabalho. Já para outras, a época traz sentimentos de saudade, tristeza e até melancolia. Principalmente para aqueles que perderam um ente querido e sentem a falta da pessoa amada. A psicóloga do luto do Morada da Paz, Simône Lira, explica que o luto é um dos maiores estressores para o ser humano, visto que se trata do rompimento de um vínculo significativo. “Isso nos coloca diante de um conjunto complexo de reações frente a esse processo. Um exigente trabalho psíquico em todas os momentos e ainda mais em datas difíceis a serem vivenciadas, agora com a ausência física do ente. Não há como generalizar nem fornecer receitas para um processo que é singular”, explana.
De acordo com ela, possibilitar a escuta dos desejos da pessoa enlutada para a vivência das festas de fim de ano é importante, pois geralmente as famílias se reúnem para festejar e agora haverá “uma cadeira que estará vazia”, o que pode favorecer o isolamento ou momentos de saudade e melancolia. “Algumas pessoas desejarão ritualizar da forma que faziam antes, com comidas que o ente mais gostava, decoração da casa e até mesmo ouvindo as músicas que ele ouvia, pois assim sentirão a ‘presença’ deste em meio aos festejos. O processo de luto não se sustenta apenas na dor, cabe nele sorrisos e tudo o que remete às vivências nessa história de amor que permanece blindada para além da existência física”, fala.
Os amigos e familiares que estão ao lado de pessoas enlutadas podem ajudar na expressão dos sentimentos e emoções, estando disponíveis para o acolhimento das reações e a escuta de todas as histórias narradas e revividas pelo enlutado. “O mesmo acontece com enlutados pela perda de animais, ainda que culturalmente haja uma interdição e questionamento em relação ao vínculo homem/animal e só quem sente a dor pode falar sobre a sua dor e o vínculo significativo que foi estabelecido com o pet. À medida em que há esse rompimento deve ser acolhido e respeitado em seus desejos e necessidades”, expõe Simône Lira.
Para ressignificar o luto também pela perda do pet, no final do ano, muitos tutores podem lançar mão de algumas iniciativas, como fazer um altar em homenagem ao animal de estimação, colocando as cinzas, fotos, e brinquedinhos preferidos ou até mesmo colocar um porta retrato na mesa em que será posta a ceia como forma de participação dele nos festejos.
Luto pela perda de um par amoroso – Para os casais que romperam relações amorosas, as festas de fim de ano são datas dolorosas, pois estarão diante da necessidade de adaptação a um novo mundo. Talvez tenham que estar em comemorações familiares antes vividas junto ao ser amado. “Reconhecer-se como enlutado e permitir-se vivenciar o processo da forma que tenha um sentido maior para si é possibilitar que suas dores sejam elaboradas e ressignificadas. Algumas pessoas podem utilizar expressões descuidadas como ‘arruma outro’, “um amor se esquece com outro amor’, mas curar-se primeiro das dores de uma relação para investir em outra possibilita um crescimento e entendimento maior em relação aos nossos próprios processos e movimentos existenciais”, alega a psicóloga do luto.
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