O ator Luiz Carlos Vasconcelos, que interpretou Drauzio Varella em ‘Carandiru’, passou por uma preparação dentro do presídio, acompanhando as visitas do médico. Filme completa 20 anos de estreia nesta terça-feira (21).
Luiz Carlos Vasconcelos relata que a preparação foi a parte mais difícil e importante do filme. Todas as segundas-feiras, ele saía do Rio de Janeiro, onde morava, e ia para São Paulo, acompanhar as visitas de Drauzio Varella ao Carandiru. Nas ocasiões, ele não revelava que era ator e se comportava como um estudante de medicina, observando e auxiliando o Dr. Drauzio quando necessário.
“Eu ia do Rio para São Paulo toda segunda-feira, que era o dia que o Dráuzio dava plantão voluntário lá no Carandiru. Ele não dizia que eu era ator, ficava ali como um estudante de medicina, vendo ele clinicar, sem luva, sem máscara”, relembrou.
O ator confessa que em alguns momentos ficava assustado com os ferimentos que os detentos apresentavam, porque não estava acostumado a ver esse tipo de coisa, ao contrário do médico.
“Ele tocava nos ferimentos, nos braços quebrados, nos furúnculos. Outras vezes, o cara levantava a camisa e tinha uma facada, eu dava um pulo pra trás porque não estava acostumado”.
Apesar desses momentos de ‘susto’, Luiz Carlos Vasconcelos diz que foi interessante ver como Drauzio se relacionava com as pessoas privadas de liberdade no Carandiru.
“Ele tinha um papel quase terapêutico, sabe? Eu observava o jeito dele. Era interessante ver como ele andava e como ele se relacionava com aqueles presos”.
Além dos detentos, Dráuzio Varella estabeleceu um bom relacionamento com os detentos, chegando inclusive a ir com eles para um bar que ficava em frente à penitenciária, após os plantões. Luiz Carlos Vasconcelos acompanhava.
“Nos finais dos plantões, quando a gente saia do carandiru com os carcereiros a gente ia para um boteco ali em frente e essa relação dele com os carcereiros também resultou em outro livro”.
Realidade do sistema carcerário
Luiz Carlos Vasconcelos define o filme como o mais importante de sua carreira, tanto pela temática quanto pelo sucesso que alcançou. Foi “Só naquela época em cinema foram uns 4 milhões de pessoas, depois teve a minissérie na Globo, aí já vai pra 50 milhões. Eu sentia uma resposta disso muito nos aeroportos em qualquer lugar… ‘Dr Drauzio’ ainda chamam”.
O ator comenta a relevância de ‘Carandiru’ para pensar a realidade carcerária brasileira. Ele fez um paralelo com a situação do Rio Grande do Norte, que passa por uma onda de ataques do crime organizado. Um relatório do órgão federal de monitoramento Mecanismo Nacional de Prevenção e Combate à Tortura (MNPCT) apontou uma série de violações, incluindo tortura, superlotação e comida estragada.
“A importância do filme é muito grande porque, além de ser a denúncia de um fato terrível, de um massacre daquela magnitude… a situação no Rio Grande do Norte agora, e no país inteiro, das pessoas privadas de liberdade, ou seja, todos os que a gente tem conhecimento de casos semelhantes”.
O paraibano acredita que a questão carcerária no Brasil ainda é parecida com 20 anos atrás porque não é uma pauta de interesse político. “É um trabalho que não interessa muito aos políticos porque não dá visibilidade, nem dá voto alimentar bem preso”.
Luiz Carlos Vasconcelos acrescenta que a superlotação e outros problemas que envolvem a população carcerária são como “uma bola de neve” e podem ampliar consequências negativas, como o aumento da criminalidade, uma vez que não acontece uma ressocialização, e até ataques como os que estão acontecendo no estado vizinho.
“É uma bola de neve. Eu não sou especialista, mas a impressão que dá é que havia que ter um grande mutirão que envolvesse o judiciário, sabe? As pessoas estão esperando para serem julgadas, são milhares de pessoas”.
G1
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