A primeira-dama do Estado e presidente de Honra do Programa do Artesanato Paraibano (PAP), Ana Maria Lins, esteve nesta terça-feira (17) no município de Santa Luzia, no Sertão paraibano, quando conheceu a rica produção artesanal da comunidade quilombola Serra do Talhado, uma das mais tradicionais da Paraíba. A 37ª edição do Salão do Artesanato Paraibano, que será realizada em João Pessoa, no mês de janeiro, em parceria com o Sebrae, terá como tema “Artesanato dos Quilombos da Paraíba”, numa homenagem às comunidades existentes no Estado.
Essa é a segunda visita técnica que a primeira-dama, com auxiliares do Governo do Estado, faz a uma comunidade quilombola. O objetivo é levar a notícia de que os remanescentes de quilombos serão homenageados, discutir detalhes dessa homenagem e ouvir suas reivindicações, para que sejam adotadas medidas que melhorem ainda mais as condições de vida e de trabalho desses povos tradicionais.
Durante a visita, Ana Maria Lins ressaltou a importância da homenagem. “A ideia de homenagear o artesanato produzido nas comunidades quilombolas foi do governador João Azevêdo. A visita a um lugar como este não deixa dúvidas de que essa homenagem é merecida, pois representa antes de tudo uma história de luta, de autoestima e de superação”, comentou.
“Na 35ª edição do Salão do Artesanato Paraibano, lá em João Pessoa, foram homenageados os povos indígenas — com grande sucesso, foram mais de dois milhões e meio de reais comercializados. Eu não tenho dúvidas de que esse sucesso se repetirá no 37° Salão no mês de janeiro”, prosseguiu a primeira-dama.
A secretária de Estado da Mulher e da Diversidade Humana, Lídia Moura, disse que, ao homenagear a riqueza artesanal dos quilombos da Paraíba, o Governo do Estado faz justiça. “Aqui tem uma história de luta, de resistência, passando de geração em geração. São décadas que essas mulheres se reúnem para produzir essa arte, que também gera riqueza e renda”, afirmou.
O vice-prefeito de Santa Luzia, Francisco Seráfico (Chicão), agradeceu a homenagem do Salão do Artesanato Paraibano ao quilombo de Serra do Talhado. “É mais um olhar atento, sensível do governador João Azevêdo por Sousa. A comunidade quilombola Serra do Talhado merece demais essa homenagem, que dará a eles muita visibilidade”, disse, destacando que a Prefeitura de Sousa dará todo o suporte necessário para que eles participem do Salão.
A gestora do PAP, Marielza Rodriguez, lembrou que, em mais de 20 anos do Programa, esta é a primeira vez que as mulheres do Quilombo Serra do Talhado vão participar do evento. “A nossa presença aqui, primeiramente, foi para trazer a notícia de que o Quilombo do Talhado será um dos grandes homenageados no 37° Salão do Artesanato. O evento é uma vitrine e vai exaltar o trabalho delas, muito bem feito, tradicional e que tem por trás uma grande história de resistência”, acrescentou.
A visita da primeira-dama do Estado ao Quilombo de Serra do Talhado foi acompanhada, ainda, por Socorro Félix, representante regional do Sebrae de Patos; Janete Rodriguez, curadora do PAP e gerente do Museu Casa de José Américo; Iara Alencar, coordenadora de Capacitação do PAP; Tereza Nóbrega, secretária de Cultura de Santa Luzia; e o deputado estadual Alexandre de Zezé, entre outras autoridades.
Dando forma à tradição — Na Associação Comunitária das Louceiras Negras da Serra do Talhado, 25 mulheres e, entre elas, apenas um homem, preservam um saber que já tem mais de 100 anos. Para uma simples panela de barro ficar pronta, são necessárias 21 etapas — que começa com a busca do barro, a trituração, até chegar no forno. Tirando a trituração, todo o processo é manual, resultando em peças utilitárias que são verdadeiras obras de arte.
Gileide Ferreira, presidente da associação, após a morte da avó, Rita Preta, aos 93 anos e de causas naturais, e da irmã, Maria do Céu, vítima de feminicídio, herdou a responsabilidade de levar o trabalho adiante — mais que trabalho, um fazer que é símbolo de resistência e liderança. “É com muita felicidade que nós recebemos a notícia de que vamos ser homenageados no Salão do Artesanato Paraibano. A luta da minha avó, Rita Preta, e da minha irmã, Maria do Céu, na preservação da nossa cultura não foi em vão”, externou.
O trabalho na Associação Comunitária das Louceiras Negras da Serra do Talhado começa cedo: às 5h da manhã; e só termina por volta das 5h da tarde. São 12 horas de um trabalho que, por ser feito com tanto amor, as louceiras quilombolas nem veem o tempo passar.
José Batista da Silva, de 61 anos, é o único homem do grupo. Ele fala com grande entusiasmo do trabalho como artesão quilombola. “Eu tenho certeza de que a gente faz o serviço que Deus destinou. E o meu é ser artesão. Às vezes faço uns vira-becos como pedreiro, mas, quando venho pra cá, fico renovado. Todo mundo ficou muito feliz com essa homenagem que o Salão vai fazer pra gente”, concluiu.
Além do artesanato quilombola, outras tipologias também estarão presentes no Salão do Artesanato, como renda renascença, brinquedos populares, arte em cerâmica, madeira e metal, além da gastronomia regional e apresentações culturais.
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