De acordo com a profissional do Grupo Morada, a espiritualidade pode ser uma ferramenta de apoio importante ao longo deste processo
A morte representa o rompimento de um laço físico, mas não necessariamente encerra os vínculos sentimentais entre quem fica e quem parte. Por se tratar de um tema que é cercado de dúvidas e vivências muito individuais, cada pessoa encontra formas de passar pelo processo e com a espiritualidade muitas pessoas encontram conforto e respostas para continuar a vida.
Para a psicóloga especialista em luto do Grupo Morada, Alexsandra Sousa, “é possível encontrar auxílio na fé, na esperança e no amor para a elaboração, significação e superação do luto”. Ela explica que buscar o auxílio do sagrado pode permitir a atribuição de significado às vivências que, em virtude de uma ruptura simbólica, não possuem uma explicação disponível na realidade.
“O sagrado favorece a relação entre o sujeito e a finitude humana. Diante disso, entende-se que a religiosidade/espiritualidade pode atuar entrelaçando o acontecimento inexplicável, que é a perda de um filho, por exemplo, às explicações da ordem religiosa ou transcendentais, capazes de preencher um evento esvaziado de sentido”, complementa a psicóloga.
Apesar de serem normalmente equiparadas, a espiritualidade e a religiosidade são coisas diferentes. Para algumas pessoas a fé envolve seguir dogmas e frequentar templos, mas para outras pessoas não, a espiritualidade não está ligada a acreditar em divindades ou mesmo ser vinculado à uma religião.
Sobre isso, Alexsandra explica que o processo de luto é individual e suas experiências são completamente singulares. Ou seja, nada é regra, tudo é escolha. “O elemento espiritual/religioso pode oferecer uma explicação que ultrapassa o caráter puramente científico ou racional da morte – como “a vontade de Deus”, figura que representa um ser superior, e pode oferecer sentido e conforto aos enlutados, facilitando a elaboração do luto”, afirma a profissional do Grupo Morada.
Em alguns casos, diferentemente do que se acredita no senso comum, o discurso religioso não traz conforto e é preciso respeitar o momento do enlutado. Algumas pessoas não encontrarão resposta ou simplesmente não concordarão com afirmações como “Deus sabe o que faz” ou “Aconteceu segundo a vontade de Deus”.
Em resumo, a fé, a religiosidade e a espiritualidade podem ser ferramentas potentes junto ao processo de luto, desde que haja abertura e concordância do enlutado. Uma vez que este não é o único caminho a ser percorrido ao longo do processo de luto, cada indivíduo vai dando sua própria medida quanto a utilização ou não de artifícios religiosos/espirituais.
“Algumas pessoas consideram que a fé é um auxílio a mais, reconhecendo que, além dela, também precisam de ajuda profissional para seguir sua jornada diante da elaboração do seu luto. O importante é entender que quanto mais ferramentas para vivenciá-lo, com todas as possibilidades e agregando leveza e restabelecimento diante da dor, toda experiência que preze por esse tempo de readaptação será bem-vinda”, finaliza Alexsandra.
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