O Rio Grande do Sul vai demorar algumas décadas para se recuperar das enchentes e alagamentos que este ano atingiram 2,3 milhões de pessoas no estado. A estimativa é do experiente engenheiro e professor João Diniz Marcello, morador do município de Canoas, que fica a 18 km da capital Porto Alegre.
Ele atribuiu a tragédia a uma sucessão de fatores além do volume de chuvas, que já tinha ocorrido anteriormente com volumes maiores: a construção de usinas na Serra gaúcha em locais não recomendáveis e ao excesso de chuvas que motivou a abertura das comportas e descida da água na Serra gaúcha (que tem muita declividade) com uma força muito grande, arrastando tudo o que tinha pela frente.
Proibição pelo MPE-RS e assoreamento de rios
“E essa água chega em Porto Alegre, no Rio Guaíba, que é um rio que a gente pode considerar a palma da mão, que é alimentado por cinco outros rios maiores (Caí, Taquari, dos Sinos e Jacuí) e migra para Lagoa dos Patos, a 280 quilômetros ao sul, na cidade de Rio Grande e que vai desaguar no mar. Há 12 anos, o Ministério Público do RS proibiu que fossem dragados os rios, inclusive o Guaíba, que era de onde saía toda a areia da construção civil da região metropolitana de Porto Alegre”, acrescentou.
Segundo Diniz, com essa proibição os referidos cursos das águas ficaram assoreados, muito mais rasos, e não tendo lugar para se expandir mais, a água subiu. Além disso, o vento sul predominante, lá de onde sai a água do Rio Guaíba e Rio Grande, represou a que era para sair e o Rio Guaíba começou a subir de nível.
“Porto Alegre tem um sistema de contenção de enchentes mais moderno que existe no mundo. Tem um muro de contenção na beira do Rio Guaíba, no centro de Porto Alegre, que tem 6 metros para baixo e 3 metros para cima, com comportas e com 23 casas de bombas, porém destas, 3 estragaram, não tinham manutenção. Os portões que eram para abrir e fechar encalharam”, destacou em entrevista ao jornalista Cândido Nóbrega.
Migração sobretudo para SC
Aliado a isso, JD, que também é corretor de imóveis e perito avaliador, criticou duramente toda a ineficiência, as promessas e a politicagem do governo, que até agora não ajudaram em nada e reconheceu que muitas vítimas, atingidas pela segunda ou terceira vez pelas enchentes deixaram o estado e foram para outros, principalmente para Santa Catarina.
Polarização que impede crescimento
“É uma realidade. O Rio Grande do Sul sempre foi um estado polarizado. Metade é Inter, metade é Grêmio, metade é PT, metade é contra o PT, então quando um vai numa direção, o outro tranca, puxa, bota tudo que é processo para parar, para que o outro não tenha sucesso, o que leva a um estado de inércia, a uma instabilidade de crescimento que faz muito tempo que infelizmente por essas questões todas políticas, vigora no Rio Grande do Sul”, lamentou.
O estado se tornará um banhado?
Para Diniz, não se tornará como na recente tragédia se as autoridades “fizerem o que dizem”, “que já estão tomando providências”, se tomarem as providências que têm que ser tomadas, dos diques de manutenção, do que já existe e de algumas outras medidas que devem ser tomadas, a chance obviamente de isso novamente ocorrer vai ser muitíssimo remota. “Tem possibilidades técnicas, viáveis, de se controlar essas questões, mas o Poder Público, que é o responsável por isso tem que querer, tem que agir e se agir, gradativamente as questões voltarão à normalidade.
Por fim, ele agradeceu, emocionado, a demonstração de solidariedade, de amor ao próximo, de devoção do povo, do Brasil inteiro: Nós recebemos e ainda continuamos a receber água dos estados do Acre e do Amapá, bem como alimentos de todo o Brasil. É povo ajudando o povo, o povo voluntariado é que fez a diferença”.
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