Os torcedores terão de conter os brindes durante a Copa do Mundo da Rússia, já que os tradicionais (às vezes múltiplos) za sdarovia, ou “à saúde” não poderão ser celebrados com vodca. Pelo menos não em dia de jogo. No país da vodca (ou “aguinha”, em tradução livre), a venda de álcool mais forte será limitada para evitar confusões como o confronto entre hooligans russos e britânicos que deixou feridos em Marselha, na França, durante a Eurocopa de 2016.
A ordem na capital russa, onde há 12 partidas programadas, é clara: em véspera e dia de jogo, está terminantemente proibida a venda de bebidas alcoólicas num raio de dois quilômetros dos estádios Spartak e Lujniki e na área da Fan Fest. A restrição deve desagradar a uma boa parte dos torcedores russos — há quem diga que alguns tentarão fraudar a lei, por exemplo, carregando garrafas de vodca disfarçadas — e estrangeiros, que chegam ao país loucos para tomar a bebida nacional.
As cervejas, no entanto, estarão disponíveis nos estádios e nas Fan Fests. As regras constam de lei do Presidente da Federação Russa número 202: “Sobre as particularidades de aplicação das medidas reforçadas de segurança no período de realização na Federação Russa da Copa de Futebol Fifa 2018 e da Taça das Confederações Fifa 2017”. Mesmo assim, veem-se por toda a cidade e nos canais de televisão russa anúncios insistentes de cervejas sem álcool.
As autoridades locais concordam que a cerveja é uma bebida que não falta praticamente a nenhum jogo de futebol, mas alertam que as garrafas de vidro podem ser perigosas, especialmente nos minutos que chamam de “explosão de emoções”. As cervejarias russas — e elas são cada vez mais numerosas — não acreditam que as limitações devam influenciar os seus resultados, já que haverá latas e embalagens plásticas para garantir o acesso do torcedor à cervejinha para assistir ao jogo. A Otchakovo, por exemplo, deve produzir uma série limitada de cerveja para os torcedores em vasilhames de materiais diferentes do vidro. Entre os russos, de todo modo, a bebida é vista como inofensiva. Podem-se comprar garrafas de dois e até de cinco litros.
É claro que mesmo cerveja em excesso pode causar problemas, e as autoridades locais têm experiência no assunto. A Rússia é o quarto maior consumidor de álcool do mundo, com pouco mais de 15 litros por pessoa, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS). Mas os anfitriões não são os únicos bons de copo entre os 32 países representados no campeonato, é claro: Portugal é o 11º colocado, com quase 13 litros per capita, enquanto França e Austrália mantêm a 18ª e a 19ª colocações, respectivamente, com cerca de 12 litros anuais por pessoa, cada.
Os britânicos ocupam a 25ª colocação, com o consumo de 11 litros por pessoa. Embora não tenham o mesmo destaque no ranking mundial, não são raros os casos de hooliganismo no país. A palavra “hooligan” — que se origina de um personagem de quadrinhos irlandês, provavelmente adaptada do nome Houlihan — foi adotada pelos russos a partir do inglês e, hoje em dia, virou um insulto, por vezes bem-humorado, para pessoas que não se comportam como deveriam, um mau aluno, por exemplo. Tem até a versão feminina hooliganka, para não deixar ninguém de fora.
HOSPITAIS E CLÍNICAS CONVENIADOS
As autoridades russas também bolaram um plano de assistência aos torcedores embriagados em uma série de hospitais e clínicas do país. Para evitar problemas, a segurança foi reforçada em volta de todos os estádios, nas áreas das estações de trem e pelas ruas. Em Moscou, vários dos tradicionais quiosques que costumavam vender bebidas e rendiam muitas garrafas e latas pelo chão, além de homens e mulheres caídos no fim da noite, despareceram depois das obras realizadas pela cidade para a Copa. Os russos querem mostrar um campeonato exemplar, sem incidentes. Em praticamente todas as 11 cidades que sediarão jogos deverá haver limites para a venda de álcool. Em entrevista ao jornal “Izvestia”, o conselheiro do Comité da Legislatura, Ordem Jurídica e Segurança de São Petersburgo, Ivan Krasnov, afirmou que durante o campeonato entrará em vigor a proibição de venda do álcool em vidro na antiga capital russa. A lei vai abranger os mesmos dois quilômetros de segurança do estádio de Konushennaya. Na região de Sverdlovsk, a proibição valerá por três horas antes do jogo e uma depois. Os pontos de comércio ao redor do estádio de Ecaterimburgo vão parar de vender álcool temporariamente.
Em Krasnodar, a restrição é para um raio de 500 metros do estádio Fisht, das áreas de treino em Sochi, Anapa e Gelendjik. Em Volgogrado, no estádio e na Fan Fest no cais do Exército 62, cervejas só serão encontradas nos estabelecimentos parceiros da Fifa. Ainda não há detalhes sobre os limites em Samara e Nijny Novgorod.
OGlobo
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