Morreu neste domingo, aos 86 anos, José Hugo Celidônio, um dos chefs mais importantes da gastronomia brasileira. Ele teve um mal-estar numa pizzaria no Jardim Botânico, a Ella, e não resistiu. Marialice, sua mulher há 55 anos, estava ao seu lado.
— Zé foi a pessoa mais importante da gastronomia nacional; o primeiro cara a colocar vinho num restaurante e usar ingredientes brasileiros para substituir os franceses, na falta. Foi pioneiro em circular pelo salão com sua roupa chef, palavra, aliás, de que ele não gostava. Dizia que era cozinheiro — comenta a crítica de gastronomia de O GLOBO Luciana Fróes.
Paulistas, os Celidônio desembarcaram no Rio em 1964, junto com os filhos do primeiro casamento dela, Geraldo e Mario Sérgio, e foram morar de frente para o mar, na Avenida Delfim Moreira.
— Vim com dinheiro para viver uns dois anos. O primeiro negócio que fiz aqui foi o Bateau Mouche. Me lembro que fomos fazer um passeio até Paquetá e pensei: “Que coisa! Essa Baía de Guanabara linda desse jeito e não tem um passeio”. Como tinha morado em Paris, me lembrei dos passeios no Sena e pedi licença para usar o nome. Para o embarque e desembarque não ser feito na Praça XV, consegui que fosse em Botafogo. Fiz lá o Sol e Mar, o primeiro restaurante que tive — contou José Hugo em entrevista à revista ELA, em dezembro passado.
Depois do Sol e Mar, ele abriu em 1968 um lugar que virou lenda na noite carioca, o Flag, frequentado por jornalistas, intelectuais, socialites, empresários, mulheres bonitas. Na parte de cima, funcionava um piano-bar, onde se apresentaram Tom Jobim, Vinicius de Moraes, Nara Leão, Dick Farney e Sarah Vaughan. Chico Buarque fez uma temporada memorável, cantando diariamente durante um mês. Eram tempos de ‘Apesar de você’, proibida pelo regime militar — como ele não podia cantar, murmurava a melodia e o público soltava a voz.
— Não tenho nenhuma vontade de parar. Recomendo aos meus amigos que não parem. Se você não tem necessidade de fazer algo rentável, vá fazer um trabalho social. Só não fique em casa enchendo o saco da mulher. Por isso, não vou deixar de trabalhar — disse ele, que fez histórias com suas colunas no Globo.
Gourmet e bon vivant, José Hugo marcou o Rio como um dos primeiros a realizar o casamento da cozinha francesa com a brasileira. Logo se tornou amigo de Paul Bocuse, Gaston Lenôtre, Pierre, Michel e Claude, do clã Troisgros.
OGlobo
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