O Ministério Público da Paraíba (MPPB) fez nesta segunda-feira uma séria denúncia contra os alagoanos Francisco Carlos do Nascimento e Alex Fabiano, e mais nove pessoas. O árbitro e o empresário de jogadores são acusados de fazerem parte de um suposto esquema de manipulação de resultados no Campeonato Paraibano.
A ação agora está sob análise do juízo da 4ª Vara Criminal de João Pessoa e pede punições nas esferas penal e desportiva aos envolvidos no caso. Segundo o Ministério Público, os denunciados são acusados de prática de organização criminosa e ilícitos contra o futebol, ferindo o Estatuto do Torcedor.
Francisco Carlos, que chegou a ser árbitro da Fifa e hoje tem o escudo da CBF, e Alex Fabiano, muito conhecido no futebol de Alagoas, falaram com o GloboEsporte.com e disseram estar tranquilos sobre o caso.
Denúncia
Segundo o MPPB, a investigação constatou que o dirigente Willian Simões, do Campinense, tentou interferir no resultado da primeira partida da final do Campeonato Paraibano deste ano, entre o seu clube e o Botafogo-PB. De acordo com a denúncia, Simões “participou diretamente em fraude relacionada à escalação do árbitro”.
O árbitro foi justamente Francisco Carlos do Nascimento, o Chicão. Em uma conversa interceptada pela Polícia Civil, o dirigente do Campinense falou com Chicão antes da partida, por intermédio de um massagista chamado Danilo Corisco, considerado o interlocutor entre Simões e Chicão.
Ainda de acordo com o MPPB, Willian foi o responsável por pagar a estada do árbitro alagoano na Paraíba e, segundo a denúncia, em uma conversa entre o dirigente e Danilo, Simões deu a “entender a necessidade de trabalharem o quanto antes para a concretização da manipulação do resultado do jogo por meio da corrupção do árbitro”.
Chicão foi ainda denunciado pelo Ministério Público por infringir o Estatuto do Torcedor, por oferecer ou aceitar vantagem indevida para manipular resultados.
O empresário Alex Fabiano, ainda de acordo com o Ministério Público da Paraíba, é um dos participantes da suposta Organização Criminosa e é acusado de prometer vantagem indevida com o objetivo de também manipular resultados.
DEFESA
O Globoesporte.com ouviu o árbitro Francisco Carlos na noite desta terça. Ele se defendeu.
– Já conversei com o meu advogado. Ele me disse que eu devo ficar tranquilo. Não tem nenhum fato novo no processo, as denúncias que já foram feitas contra a minha pessoa eu, por conta própria, fui até lá e provei a minha inocência, coloquei os meus sigilos fiscal e telefônico à disposição da Justiça. Eu fui uma das pessoas mais transparentes nesse processo e tenho convicção da minha inocência, tanto que já voltei a apitar, já fui escalado pela CBF e estou seguindo a minha carreira normalmente – declarou Chicão.
Alex Fabiano, também ouvido pelo GE, disse estar surpreso com a denúncia do Ministério Público da Paraíba e afirmou que as acusações não têm fundamento.
– Eu estava viajando e cheguei de viagem hoje. Quando cheguei, tive conhecimento dessa denúncia e fiquei surpreso. Ora, eu prestei depoimento ao delegado da Operação Cartola, doutor Lucas, e ele me disse que estava sendo ouvido apenas como testemunha. Ao final do depoimento, ele falou que eu não seria indiciado. Amanhã, eu vou conversar com o meu advogado e pedir a ele para entrar em contato com o delegado e pegar mais informações. Eu tenho ligação com o Botafogo-PB não é de hoje, eu tenho jogadores lá desde 2011, mas nunca participei de nada nesse sentido de compra de resultados. A única coisa que eu fiz foi receber uma ligação do presidente, onde ele me perguntava se eu conhecia o Chicão e sabia como é a atuação dele profissional. Mas quem não conhece o Chicão no mundo do futebol? Agora essas coisas do futebol da Paraíba não são de hoje.
Os denunciados:
1. José Freire da Costa (‘Zezinho Botafogo-PB’, presidente do clube)
2. Guilherme Carvalho do Nascimento (‘Novinho’, vice-presidente do Botafogo-PB)
3. Francisco de Sales Pinto Neto (diretor)
4. Alexandre Cavalcante Andrade Araújo (procurador do Botafogo-PB)
5. Breno Morais Almeida (dirigente do Botafogo-PB)
6. Alex Fabiano dos Santos
7. José Renato Albuquerque Soares
8. Tarcísio José de Souza
9. José William Simões Neto (William Simões, principal dirigente do Campinense)
10. Danilo Ramos da Silva
11. Francisco Carlos do Nascimento
A operação
A ‘Operação Cartola’ foi deflagrada no mês de abril pelo Grupo de Atuação Especial contra o Crime Organizado (Gaeco/MPPB) e pela Polícia Civil da Paraíba. As investigações foram iniciadas pela Delegacia de Defraudações de João Pessoa (para apurar supostos desvios de valores nas prestações de contas da Federação Paraibana de Futebol – FPF) e, posteriormente, aprofundadas pelo Gaeco.
Elas revelaram a existência de uma Organização Criminosa (Orcrim) formada por membros da FPF, da Comissão Estadual de Arbitragem da Paraíba (Ceaf), do Tribunal de Justiça Desportiva da Paraíba (TJD/PB) e de dirigentes de clubes de futebol profissional do Estado da Paraíba (os cartolas), que, há anos, obtinham diversas vantagens, entre elas a financeira, através de esquema de manipulação de resultados de jogos de futebol.
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