O jornalista Ivandro Oliveira, diretor de Conteúdo do Tá na Área, em uma análise minuciosa, expões uma série de fatores que tornam o senador José Maranhão (MDB) uma presa fácil num eventual segundo turno com João Azevedo (PSB).
Confira:
Ricardo quer reeditar filme de 2010 e torce para segundo turno entre João Azevedo e Maranhão
A disputa eleitoral na Paraíba ganha novos contornos diante da proximidade do dia 7 de outubro, que é quando paraibanos e brasileiros irão às urnas decidir o futuro da Paraíba e do Brasil. Em um cenário ainda imprevisível no Estado e no País, apesar da aparente certeza quanto a iminente presença de Jair Bolsonaro num eventual segundo turno, os próximos 19 dias são por demais decisivos nas disputas pelos Palácio da Redenção e Alvorada.
Na Paraíba, três candidaturas polarizam uma disputa voto a voto. A despeito da aparente dificuldade de prever com precisão quem serão os dois dos três que passarão à próxima etapa, ouso apontar a certeza de um segundo turno com a provável presença de um lado do ringue do socialista João Azevedo, candidato do PSB e representante maior do projeto cuja figura de proa é o atual governador Ricardo Coutinho. Diante dessa perspectiva, a dúvida reside não apenas no nome que figurará no outro lado da contenda, mas qual das candidaturas oposicionistas, leia-se José Maranhão (MDB) e Lucélio Cartaxo (PV), reuniria as condições necessárias para disputar e vencer o segundo turno das eleições?
Em uma eleição de dois tempos como a que se esboça na Paraíba, o primeiro termina sendo uma disputa de “tribos”, em que os principais personagens correm atrás de seus eleitores tradicionais ou mais fiéis. Superada essa fase, o segundo turno tende a ser marcado por uma briga de rejeições, isto é, o eleitor dos candidatos derrotados no primeiro tem de decidir entre os dois que sobraram.
Não é preciso ir muito longe para compreender que o aspecto rejeição é o primeiro complicador para o senador José Maranhão numa eventual disputa de segundo turno com o governista João Azevedo. Mesmo sem máculas, Maranhão tem 85 anos de idade, já foi quase tudo ao longo de sua interminável trajetória de cargos públicos, com passagens pela Assembléia Legislativa, Câmara Federal, Senado da República (Casa em que ocupa mandato pela segunda vez, tendo ainda mais quatro anos). Além disso, governou o Estado por três vezes, é do mesmo partido do presidente da República mais rejeitado da história (Michel Temer) e, sem medo de errar, pode ser enquadrado no rol da chamada ‘velha e tradicional política’.
Não bastasse a própria comparação de perfis e estilos, além do próprio saldo administrativo dos dois projetos, outro complicador para Maranhão num eventual segundo turno contra o projeto girassol é o fator aglutinação. Se em 2014, Ricardo venceu Cássio anulando Campina Grande com João Pessoa e fazendo frente pelo interior com a adesão maciça de prefeitos, dificilmente a candidatura de Maranhão reuniria as condições políticas necessárias para parear em João Pessoa e vencer com folga em Campina Grande.
Aliás, a história registra que o senador, quando governador, chegou a ser tratado como ‘inimigo de Campina’, fruto de uma relação conflituosa originária desde o episódio do ‘Campestre’, passando pelas administrações de Cássio na cidade e no próprio governo, tendo como ápice a cassação no segundo mandato. Apesar de aparente superação das históricas querelas, seria uma proeza fenomenal Maranhão conquistar a simpatia hegemônica de uma cidade que nunca lhe fez grandes afagos. Não à toa que a torcida governista gira em torno da presença do inexcedível senador no segundo turno.
Sem externar isso, o governo sabe que seu adversário mais letal num segundo turno atende pelo nome de Lucélio Cartaxo. Diferentemente de Maranhão, Lucélio é o novo na disputa, representa duas gestões extremamente bem avaliadas em João Pessoa, com o irmão Luciano Cartaxo (PV), e em Campina Grande, com Romero Rodrigues (PSDB), e pode tornar a disputa muito mais acirrada.
Numa disputa com Lucélio, o projeto girassol estaria extremamente ameaçado e o governador Ricardo Coutinho teria que refazer rotas e planos para levar adiante o objetivo de eleger João Azevedo seu sucessor. De cara, João Pessoa e Campina Grande se uniriam ainda mais em torno de Cartaxo, tendo o reforço das cidades de seu entorno. No interior, seria reeditado o Fla-Flu de disputas históricas e memoráveis, com previsibilidade mínima de acerto.
Em resumo, numa disputa de segundo turno com Lucélio, o cenário para Azevedo seria complicadíssimo e com perspectiva muito mais real de um revés político do que com Maranhão, cuja lembrança os socialistas ainda guardam na mente o filme de 2010. E é esse filme que o governador Ricardo Coutinho e seus aliados preferem reeditar, sem correr riscos e com mais segurança.
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