Polarização de extremos
Merval Pereira, O Globo
Parece consolidada a polarização entre Bolsonaro e o PT e, com a diferença sendo tirada rapidamente por Haddad, cresce a possibilidade de eleitores do campo do centro-direita migrarem já no primeiro turno para Bolsonaro, preocupados com a possibilidade de o “poste” de Lula chegar em vantagem ao segundo turno.
Pelo Ibope, Bolsonaro perderia para Haddad numa segunda etapa da eleição, e esse dado também pode fazer eleitores que ainda estão com Amoedo, Meirelles, Álvaro Dias e até mesmo Alckmin usarem o voto útil ainda no primeiro turno.
O candidato do PT reduziu o ritmo de crescimento, mas Bolsonaro ficou estagnado. As próximas pesquisas indicarão se Bolsonaro chegou a seu limite e se Haddad ainda pode crescer. A distância para Ciro Gomes, o mais próximo adversário de Haddad, ficou muito grande para transformá-lo em objeto do voto útil do centro, e Geraldo Alckmin continua sua saga em busca de ânimo, mas ficou quase estagnado.
Virou moda em certos setores considerar uma heresia colocar no mesmo campo os extremismos de direita e de esquerda, mais exatamente comparar Bolsonaro ao PT. Seriam posições políticas distintas, alegam, pois Bolsonaro defende o golpe de 1964, já elogiou torturadores e admite, pessoalmente, ou através de seus principais aliados como o vice General Mourão, a intervenção militar. Além do mais, ameaçou fuzilar adversários, entre eles Fernando Henrique Cardoso, e, recentemente, “os petralhas”.
Não há dúvida de que Bolsonaro não cabe no figurino de democrata, mas é preciso ter muita boa-vontade para querer dizer que há diferenças de fundo entre os dois, pois o PT seria do “campo democrático”. Não. Uns defendem a ditadura de direita, outros defendem as ditaduras de esquerda. Por que seriam democratas os que defendem regimes ditatoriais, alguns sangrentos, como os de Cuba, Venezuela e Nicarágua? E o que dizer das tentativas de usar a democracia para impor um regime autoritário, como fez o PT no governo?
A utilização de estatais para desviar dinheiro e comprar apoio no Congresso – e encher o bolso de vários de seus dirigentes – foi o mais duro golpe já desfechado, em caráter institucional, contra a democracia brasileira.
Foram várias também as propostas com o objetivo do “controle social da mídia”, todas derrotadas graças à reação da sociedade e do Congresso, mas a intenção era só uma: censurar a imprensa que não segue sua cartilha, como fazem as ditaduras. E o tema continua na pauta petista, basta ler o programa.
Aliás, Bolsonaro alega que não houve ditadura militar, pois o Congresso funcionava na maior parte do período, o Judiciário também. A mesma coisa que alegavam Chavez, e agora Maduro, na Venezuela.
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