O jornalista Ivandro Oliveira, diretor de Conteúdo do Tá na Área, em mais uma análise sobre as eleições presidenciais, que ocorrem neste domingo, dia 28, acentua que a visão míope com que muitos exteriorizam, inclusive intelectuais daqui e do exterior, de que estamos à mercê de um líder fascista, populista e autoritário é um devaneio tremendo só compreendido pela incapacidade de perceber a solidez de nossas instituições.
“Pelo contrário, com todo respeito a quem pensa diferente, não vislumbro qualquer possibilidade de vingar qualquer coisa desse naipe, por razões demasiadamente óbvias e que passam desapercebidas por conta do cabo de guerra firmado desde quando o Partido dos Trabalhadores (PT), no auge da mais deplorável soberba maniqueísta, inaugurou o malfadado nós contra eles”, acentua.
Confira:
Eleição, sociedade e poder moderador
Por Ivandro Oliveira
A iminente vitória de Jair Bolsonaro, conforme apregoam todas as pesquisas de intenção de voto publicada até aqui, não será, como apregoam alguns, o prenúncio de tempos sombrios, sinal dos tempos, tampouco inicio de uma era de exceção. Pelo contrário, com todo respeito a quem pensa diferente, não vislumbro qualquer possibilidade de vingar qualquer coisa desse naipe, por razões demasiadamente óbvias e que passam desapercebidas por conta do cabo de guerra firmado desde quando o Partido dos Trabalhadores (PT), no auge da mais deplorável soberba maniqueísta, inaugurou o malfadado ‘nós contra eles’.
O Brasil dos dias de hoje é, de fato, um país com instituições maduras e independentes, diametralmente diferente da republiqueta de bananas propagada por profetas do apocalipse daqui e de alhures. A visão míope com que muitos, inclusive intelectuais daqui e do exterior, exteriorizam de que estamos à mercê de um líder fascista, populista e autoritário é um devaneio tremendo só compreendido pela incapacidade de perceber a solidez de nossas instituições.
Em mais um brilhante escrito publicado em Veja esta semana, Dora Kramer, certamente um dos mais belos textos do jornalismo brasileiro, com propriedade, acentuou que um eventual governo do presidenciável do PSL seria moldado não por eventuais arroubos de outrora, mas pelo direcionamento de uma sociedade cada vez mais crítica e cônscia do seu papel moderador. Aliás, diferentemente dos tempos do império, quando Dom Pedro I exercia o privilégio da última palavra em tudo e mais um pouco, no uso das atribuições conferidas pela nossa primeira carta constitucional, ainda no século 19, o atual conceito confere muito mais razão e sensibilidade social que qualquer outra coisa ao poder moderador.
O último episódio envolvendo o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL) é o mais eloqüente exemplo da força desse poder regulador no Brasil contemporâneo. Ora, diante da repercussão negativa de suas declarações, sobretudo pela reação da sociedade civil, da imprensa e da própria justiça, o deputado federal recua e reconhece o erro, numa clara e inequívoca demonstração da pujança desse ambiente socialmente regulatório.
A jovial democracia brasileira muito mais rica e complexa. Diferentemente de outros tempos, o cidadão não precisa está num sindicato, partido ou coisa do tipo para ter vez e voz. Em tempos de falência dos tradicionais agrupamentos políticos, horizontalidade da comunicação e democracia digital, basta o próprio smartphone para se fazer ouvir e ser ouvido. De coadjuvante, hoje, o cidadão é protagonista.
A verdade é que o Brasil que está saindo das urnas merecerá no futuro próximo análises mais aprofundadas de sociólogos, antropólogos, cientistas políticos, mas os desdobramentos das pesquisas de intenção de votos já permitem fazer um retrato da sociedade brasileira que Bolsonaro conseguiu compreender melhor do que o PT e demais partidos.
Talvez, quem sabe um pouco mais na frente, o PT, que governou o Brasil por quase 14 anos, faça uma autocrítica do que deu errado na campanha presidencial deste ano, algo que certamente se aplica aos demais partidos, sobretudo aqueles, de uma forma ou outra, contribuíram de alguma forma com a nossa jovial democracia.
O resultado das urnas não porá fim ao grau beligerante de polarização, pelo menos é o que se depreende de um ambiente polarizado pelas discussões em torno de ética, moral e que chega até os limites da religiosidade. Caberá ao tempo e a própria sociedade moderar caminhos e destinos.
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