Ayrton Senna viveu mais um dia glorioso em sua carreira ha exatos 25 anos, em 24 de outubro de 1993. Com mais um show na pista molhada, o tricampeão venceu o Grande Prêmio do Japão, no que viria a ser sua quadragésima e penúltima vitória na Fórmula 1. Mas, apesar do triunfo, aquele domingo em Suzuka também ficaria marcado por uma briga entre Ayrton e o estreante Eddie Irvine.
Quando a Fórmula 1 chegou ao Japão, o campeonato já estava decidido em favor de Alain Prost. Também estava decidida a contratação de Senna para o lugar do rival francês na Williams em 1994. De qualquer forma, Ayrton queria se despedir da McLaren em alta, e por isso mantinha a motivação para as duas provas finais, em Suzuka e Adelaide (Austrália).
Curiosamente, a veloz pista japonesa teve o treino de classificação mais emocionante da temporada, com diversos pilotos brigando pela pole position: além de Prost e Senna, Mika Hakkinen também demonstrou velocidade com a McLaren, e até Gerhard Berger, num raro sopro de competitividade da Ferrari, ameaçou. No fim, Prost foi pole, apenas 0s130 à frente de Senna.
Largada do GP do Japão de 1993, em Suzuka — Foto: Getty Images
Antes da largada, Galvão Bueno lembrava que três anos antes “o apetite era muito por parte dos dois, sobrou carro, e faltou curva…”. Mas dessa vez, a largada de Senna foi tão perfeita, que Prost não teve a mínima chance de manter a liderança, enquanto Berger, Michael Schumacher e Damon Hill, que batera nos treinos e largara em sexto, vinham atrás.
Com uma tática de duas trocas de pneus, Senna forçou o ritmo imediatamente, enquanto Prost mantinha Hakkinen sob controle. Mais atrás, Hill passou por Schumacher, que, preso atrás de Berger, não conseguiu segurar a Williams. Afoito na tentativa de se recuperar, Schumi bateu em Hill na chicane na volta seguinte e ficou fora da corrida, para críticas pesadas de Galvão.
Schumacher abandonou após tocar em Hill na chicane — Foto: Getty Images
Com 13 voltas completadas, Senna fez a troca de pneus e voltou em segundo, atrás de Prost. Logo em seguida começou a chover, o que para ele era sempre uma boa notícia. Com a pista molhando rapidamente, Ayrton voou para cima de Prost e recuperou a liderança, antes de colocar os pneus de chuva. Quem se deu mal foi Hill, que, já com a chuva caindo, viu a Williams lhe dar pneus slicks…
Mais atrás, apesar de uma escapada, Prost se manteve em segundo, com boa distância para Hakkinen. Quem fazia boa corrida era o irlandês estreante Eddie Irvine, que, com conhecimento de Suzuka por correr lá na Fórmula 3000 japonesa, foi convidado pela Jordan e vinha andando forte. Até demais…
Isso porque ele e Hill iniciaram uma disputa quando Senna já se aproximava para dar uma volta em cima deles. Como líder, Senna exigiu a passagem, enquanto bandeiras azuis eram agitadas para Hill e Irvine. No grito, Senna passou o irlandês, que devolveu a manobra e enfureceu o brasileiro. Mas, depois de muito insistir, o brasileiro finalmente se livrou deles.
Eddie Irvine estreou bem e irritou Ayrton Senna por tê-lo atrapalhado — Foto: Getty Images
A chuva parou, e aos poucos a pista foi secando, o que obrigou os pilotos a uma nova troca para pneus slicks. Com tranquilidade, Senna manteve a ponta depois de sua terceira visita aos pits, seguido por Prost, Hakkinen e Hill. Quem vinha bem na prova era Rubens Barrichello, com a Jordan.
Depois das trocas de pneus, Irvine caiu para sétimo, atrás de Derek Warwick. Qual não foi a supresa quando o atrevido irlandês atropelou a Footwork do inglês na chicane a poucas voltas do fim? Fosse hoje, certamente teria gerado alguma punição, mas naquela época os comissários eram mais tolerantes.
McLaren foi perfeita nos pit stops em Suzuka, em 1993 — Foto: Getty Images
Na última volta, Irvine ainda repassou Senna novamente, mas o brasileiro desta vez desacelerou para não correr riscos. Com 11 segundos de vantagem sobre Prost, Ayrton chegou à vitória de número 40, e ficou a apenas 11 do recorde do próprio Prost, que pararia de correr no fim daquele ano e abriria chance ao brasileiro de estabelecer uma nova marca.
Hakkinen terminou em terceiro e chegou pela primeira vez ao pódio, e terminou com tranquilidade à frente de Hill. Já Barrichello marcou seus primeiros dois pontos na Fórmula 1 depois de muito lutar em toda a temporada, enquanto Irvine fechou a zona de pontuação, em sexto.
Ligier correu GP do Japão de 1993 com pintura diferente e elogiada pelos fãs — Foto: Getty Images
Chegando ao parque fechado, Ayrton deu um longo abraço em Ron Dennis, como que querendo mostrar ao mundo que, apesar da saída da McLaren, o clima continuava amistoso entre eles. No pódio, Senna não cumprimentou Prost e fez questão de levantar o braço de Hakkinen, felicitando o companheiro pelo belo resultado.
Senna e Prost juntos no pódio de Suzuka, em 1993 — Foto: Getty Images
Depois de uma entrevista coletiva na qual criticou duramente os retardatários, Senna saiu à caça de Irvine nos boxes da Jordan para tirar satisfações. Insolente, Eddie respondeu monossilabicamente aos questionamentos do brasileiro, que se irritou e desferiu dois socos no irlandês. Barrichello acompanhou a cena de pugilato e disse:
– Não sou um bom comentarista de boxe…
Duas semanas depois, Senna ainda estava muito irritado com Irvine, como deixou claro em entrevista coletiva já na Austrália, onde seria ocorrida a última prova do ano. O tricampeão até chegou a ser julgado pela Federação Internacional de Automobilismo (FIA) pela “indisciplina”, e pagou uma módica multa. E… a vida seguiu normalmente…
Globoesporte (F1Memória)
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