O ano de 2018 foi bem pior para a economia do que o mercado previa há 12 meses. No início de janeiro, os analistas miravam um crescimento próximo a 3%, mas acabaram desviando os palpites em quase dois pontos percentuais. Por outro lado, eles foram certeiros ao prever que os juros não voltariam a subir e que a inflação ficaria em um patamar confortável.
As projeções de mais de 100 analistas são divulgadas toda semana pelo Boletim Focus, do Banco Central, com uma mediana das previsões para o PIB, juros, inflação, balança comercial e investimento estrageiro direto (IED). Ele serve como uma “bússola” para orientar investidores e empresas sobre o futuro.
Via de regra, as previsões do Focus demoram um pouco para refletir o que está acontecendo com a economia em dado momento, lembra o pesquisador sênior da área de Economia Aplicada do FGV IBRE, Marcel Balassiano.
“Por ser uma mediana de muitas instituições do mercado, qualquer mudança de cenário aparece de forma mais lenta. Para o Focus mudar, a mediana de todas as instituições tem que mudar antes”, afirma.
Acidentes de percurso levaram os economistas a corrigirem bastante as avaliações positivas ao longo do ano. O mais impactante foi a greve dos caminhoneiros, que provocou uma inesperada crise de desabastecimento e piorou todos os indicadores da economia, em efeito cascata.
Foi também a imprevisibilidade da disputa eleitoral que corrigiu as expectativas no segundo semestre, em meio a temores de que um futuro governo pudesse abandonar a agenda de reformas, vistas como necessárias para sanar o déficit fiscal.
Veja as projeções do mercado para a economia em 2018:
PIB
- Previsão em janeiro: 2,70%
- Previsão no fim de 2018: 1,30%
O otimismo que marcou o início de 2018 em relação à economia foi reduzido aos poucos por eventos inesperados e por uma disputa eleitoral cercada de incertezas. Começou com previsões de um crescimento próximo a 3% e terminou do ano prevendo um PIB pouco acima de 1%. O resultado só será divulgado em março de 2019.
As projeções do mercado para o PIB ficaram estáveis no primeiro trimestre, começaram a piorar a partir de abril, mas a queda repentina veio no final de maio, quando foi deflagrada a greve dos caminhoneiros.
Na greve dos caminhoneiros, as projeções para o PIB que já vinham caindo praticamente foram cortadas pela metade. “Apesar de a greve ter tido um efeito pontual na economia, a atividade foi prejudicada no dado agregado do ano”, diz o pesquisador.
Durante as eleições, as estimativas estacionaram e chegaram até a melhorar com a perspectiva de que o próximo governo estaria comprometido com uma agenda reformista. No entanto, o fraco crescimento do PIB no terceiro trimestrefez os economistas voltarem a projetar uma expansão menor para 2018.
Câmbio
- Previsão em janeiro: R$ 3,34
- Cotação no fim de 2018: R$ 3,85
Uma série de eventos desencadeados ao longo de 2018 fez o dólar a terminar bem mais valorizado frente ao real do que se previa 12 meses atrás. Na primeira semana de janeiro, o mercado acreditava que a moeda quase não oscilaria e encerraria o ano a R$ 3,34. Se isso de fato ocorresse, seria uma valorização de apenas 0,90% em 2018.
Para o especialista em câmbio da NGO Corretora, Sidney Nehme, o patamar estimado em janeiro era “irrealista” e apontava um otimismo exagerado do mercado.
“Um dólar a R$ 3,34 seria incompatível com a situação atual do país”, afirma Nehme.
O principal motivo para o mercado ter esperado um câmbio tão estável era a expectativa de que a reforma da Previdência (vista como a única saída para reduzir o rombo fiscal) seria aprovada ainda no primeiro semestre – o que não aconteceu.
Além disso, a greve dos caminhoneiros no meio do ano adicionou novas incertezas sobre a recuperação da economia e a guerra comercial entre Estados Unidos e China pressionaram ainda mais a alta do dólar.
“O mercado errou nesse movimento porque, ao contrário de períodos eleitorais anteriores de grande incerteza, o Brasil hoje tem reservas cambiais suficientes para pagar sua dívida e nenhum risco de uma crise cambial”, afirma Nehme, da NGO.
O especialista aponta que o patamar atual do dólar, em torno de R$ 3,90, inclui um “prêmio de risco” pelas incertezas sobre a aprovação da reforma da Previdência e como será feita, que podem perdurar no primeiro semestre do próximo ano.
Inflação
- Previsão em janeiro: 3,96%%
- Previsão no fim de 2018: 3,69%
A inflação fechada de 2018 ainda será divulgada, mas já se sabe que ela virá bem próxima do que previa a média dos economistas um ano atrás. Apesar de as previsões iniciais e finais terem se aproximado, as estimativas para a trajetória dos preços variaram bastante ao longo do ano, impactadas por surpresas inflacionárias.
Segundo Balassiano, da FGV, alguns eventos pressionaram os preços para cima e para baixo. “A partir de abril, percebeu-se que a inflação estava mais fraca do que se esperava, mas logo a greve dos caminhoneiros desabasteceu a economia e jogou a inflação para cima”, recorda.
Em junho, o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) bateu o pico de 1,26%, influenciado pela queda temporária na oferta de produtos e serviços. “Apesar de ser sido um evento pontual, ele teve esse efeito para o dado do ano”, explica Balassiano.
Outro fator que provocou mudanças nas projeções de preços foi a forte volatilidade do câmbio. Um dólar mais forte, graças a fatores externos (tensão comercial) e internos (disputa eleitoral), levou os economistas estimarem uma inflação em torno de 4,5%, no centro da meta.
Selic
- Previsão em janeiro: 6,75%
- Taxa no fim de 2018: 6,5%
2018 foi ano de Selic quase estável, com previsões bem próximas do cenário no final do ano. O mercado esperava em janeiro que o BC levaria a taxa básica a 6,75% em sua última reunião do ano – mas ela terminou a 6,5%, na sétima manutenção seguida. Há 12 meses, a Selic estava em 7% ao ano.
“Em março foi feito um corte até maior do que se esperava, e então a taxa ficou constante o ano inteiro”, lembra Balassiano, da FGV, citando o fim de um longo ciclo de baixa que começou em outubro de 2016, quando ela estava no patamar de 14,25%.
Entre março e abril, os economistas até chegaram a estimar que os juros seriam cortados a 6,25%, mas os choques do câmbio, motivados por fatores externos (tensão comercial e crise dos emergentes) e internos (em grande parte a greve dos caminhoneiros) seguraram a taxa a 6,5%.
Apesar da forte volatilidade do dólar no segundo semestre, a inflação ficou comportada e deu espaço para o BC manter os juros.
“Existia uma perspectiva de que, caso o resultado das eleições fosse desfavorável no sentido de não saírem as reformas fiscais, os juros poderiam voltar a subir após o segundo turno, mas isso não aconteceu”, diz Balassiano.
Balança comercial
- Previsão em janeiro: Superávit de US$ 52,5 bilhões
- Previsão no fim de 2018: Superávit de US$ 57,75 bilhões
A balança comercial terá um resultado melhor do que se esperava em janeiro passado, ainda assim, o desempenho será inferior aos US$ 63,2 bilhões em 2017.
“De maneira muito sutil, o governo começou a deixar de lado a questão do Mercosul e foi em direção a demandas bilaterais, como a questão da exportação de carne para o Oriente Médio, que teve uma significativa melhora nas exportações”, afirma. As exportações de carne bovina bateram recorde este ano.
Outro ponto que beneficiou o comércio brasileiro foi a guerra tarifária entre Estados Unidos e China, que passaram a aplicar tarifas sobre produtos importados de ambos países. A imposição de sobretaxas à soja . Os asiáticos, maiores consumidores mundiais de soja, passaram a comprar mais do mercado brasileiro, já que suspenderam as compras de soja americana.
“Um número maior de chineses começou a olhar o agronegócio brasileiro”, diz Stempniewski. Segundo ele, as exportações de milho de qualidade também cresceram substancialmente, beneficiando a balança brasileira.
IED (Investimentos Estrangeiros Direto)
- Previsão em janeiro: US$ 80 bilhões
- Previsão no fim de 2018: US$ 70 bilhões
O investimeno estrangeiro no Brasil veio abaixo do que se esperava, mas ainda assim terá um desempenho melhor que em 2017, quando o Brasil teve uma entrada de US$ 62,7 bilhões em recursos de fora.
O ano foi marcado pela entrada maçiça de investimentos chineses no Brasil, sobretudo na área de energia de transmissão e energia eólica, aponta o professor de Comércio Exterior Carlos Stempniewski.
“A China foi fundamental para trazer investimentos ao Brasil e hoje somos muito mais dependentes dela para investimentos do que os EUA”, afirma o professor da Rio Branco.
No primeiro semestre, o país asiático substituiu os EUA como principal destino do investidor estrangeiro com US$ 70 bilhões em ingressos, aumento de 6%, após a reforma tributária de Donald Trump ter feito as empresas abandonarem projetos estrangeiros e repatriarem recursos do exterior.
G1
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