O núcleo mais próximo do presidente Michel Temer e seus principais articuladores políticos já começam a admitir abertamente a possibilidade de que a reforma da Previdência não seja votada neste ano na Câmara. O discurso é de otimismo, e há de fato a sensação de que o apoio à proposta vem aumentando entre os deputados. Porém, há dúvidas sobe se será possível angariar todos os 308 votos necessários para a aprovação das mudanças na aposentadoria antes do início do recesso parlamentar, em 23 de dezembro.
“A onda está crescendo. A gente só não sabe se é a onda que a gente precisa”, disse o ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, ao chegar a um jantar na casa do presidente do Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE), na noite desta terça-feira.
“A gente está até com a prancha na cabeça, só esperando a onda chegar”, completou o deputado Carlos Marun (PMDB-MS), que na quinta-feira se licencia do cargo para assumir a Secretaria-Geral de Governo. “Se tivesse mais três semanas [antes do recesso], a aprovação seria certa.”
Padilha disse que a estratégia “é forçar hoje [terça], forçar amanhã [quarta] e na quinta a gente define [uma data para a votação na semana que vem]”. Ele admitiu que alguns parlamentares têm lhe pedido para que a votação fique para 2018, e não descartou essa possibilidade.
Pelos cálculos dos governistas, há entre 270 e 280 deputados dispostos a votar a reforma.
Líder do governo no Congresso, o deputado André Moura (PSC-SE) afirmou que existe a possibilidade de que a discussão em plenário comece já na quinta-feira, estendendo-se até a próxima segunda.
“Para abrir a discussão, nós não precisamos ter todos os votos”, disse Moura. “Podemos trabalhar no fim de semana. E, se encerra a discussão na segunda e não tem voto, vence-se uma etapa para entrar no próximo ano com a reforma pronta para ser votada.”
Segundo ele, essa é “uma possibilidade, que não está descartada”.
Moura, Padilha e Marun chegaram ao jantar junto com o presidente Michel Temer, com quem estavam reunidos no Palácio do Planalto para tratar da reforma. Temer não falou com a imprensa, assim como o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Moreira Franco.
“Na reunião, Temer manteve o discurso de otimismo”, disse o líder do governo na Câmara, Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), que chegou junto com a comitiva presidencial. “A estratégia é forçar a votação e marcar uma data. Se melhorar até o fim de semana, vota. O governo quer ter 320 votos para não correr riscos.”
Um influente senador pemedebista afirmou, ao sair do jantar, que “o adiamento da votação pode ser bom, não é necessariamente uma coisa negativa”. Segundo ele, a economia deve crescer acima do esperado neste ano, criando um clima mais positivo para o presidente e a aprovação da reforma em 2018. “Ano que vem fica mais fácil de aprovar”, disse.
Líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR) também não falou com jornalistas. Em privado, porém, tem se mostrado pessimista com relação às possibilidades de aprovação da reforma.
“Ele foi cético, mas não jogou a toalha. Acha que está difícil [aprovar a reforma]”, disse uma fonte que esteve com Jucá na terça-feira. “Ele até dá uns sinais em sua fala de que não considera que o negócio anda. Mas não falou ”esquece””.
Valor Econômico
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