Do medo ao mundo lúdico e encantado. Da ansiedade à vontade de voltar mais vezes. Essa é a realidade dos pacientes da odontopediatra Cristiane Maia, que há quatro anos atende os pequenos em João Pessoa, com a “super” ajuda de personagens – vestidos por ela – que fazem da consulta um momento tranquilo e até prazeroso.
A ideia surgiu após um acontecimento em um dos atendimentos de rotina de Cristiane, quando uma paciente fez questão de ir para casa pois se negou a ser atendida pela dentista por estar com a farda da escola. “Ela queria estar fantasiada de princesa”, lembra Cristiane. A partir daí veio à mente que a presença de um “mascote” no local diminuiria a ansiedade das crianças.
De início quem se fantasiou foi a própria dona da clínica em que Cristiane trabalha. “Tentamos uma fada, que entrava pela janela do consultório e buscava dentes extraídos pela primeira vez”, recorda. De acordo com a dentista a “fada” não podia falar muito pois seria facilmente reconhecida.
A partir daí veio a oportunidade. “A ideia evoluiu para que eu mesma como dentista pudesse vestir essa fantasia e me entregar num mundo lúdico jamais preenchido, nem enfrentado por dentistas”, disse. Após a fantasia pioneira (de fada), foi comprada a primeira fantasia de super-herói: o Capitão América.
Cristiane contou que a data do início da ideia coincidiu com a proximidade do Carnaval, que aconteceria em fevereiro. Sendo assim, a dentista vestiu a fantasia do herói e postou nas redes sociais para sentir a aceitação das pessoas. “Um misto de vergonha com insegurança pelo possível julgamento que passaria a receber”, relembra.
Ao divulgar a foto, uma dentista renomada pediu para repostar a imagem em um grupo privado. “Nessa noite, lembro de tentar responder a mais de 100 comentários, todos super positivos”, contou. Atualmente, Cristiane compartilha a rotina do consultório nas redes sociais.
Dos heróis às princesas
Foram várias as fantasias usadas durante os quatro anos de atendimento lúdico. Segundo a dentista, muitas já se estragaram com o uso. Mas foi feita uma parceria com uma loja de fantasia que disponibiliza à profissional um leque de opções.
Inicialmente, a ideia seria usar apenas fantasias de super heróis que “combateriam à doença cárie”. Mas com a insistência das meninas, as princesas passaram a integrar a super equipe da clínica. “As princesas atuais são fortes e combatem o mal também”, disse.
Para Valesca Rocha, mãe de Antonio Henriques, de 9 anos, o atendimento lúdico proposto por Cristiane só ajudou, pois o paciente “tinha muita resistência à ida ao dentista”, disse a mãe. “O uso da fantasia foi imprescindível para a chegada ao consultório, primeiro passo, por que existe por trás todo um diálogo preparativo ao que de fato ele vai encontrar lá”. Antonio já é acompanhado por Cristiane há seis meses.
Já para Lígia Mendes, mãe da Luiza, de 9 anos de idade, que é paciente desde os três anos, foi notória a mudança após o uso das fantasias. ”Veio a acrescentar como ela sempre trabalhou, foi uma estratégia que deu certo, pois utiliza-se de linguagem, atividades e componentes apropriados à faixa etária”, falou. De acordo com Lígia, Luiza vai ao consultório três vezes ao ano, e sempre muito “ansiosa” para saber qual personagem vai ajudar no combate à cárie.
A mãe também recordou da primeira vez da filha com a dentista. “O primeiro encontro de doutora Cristiane com Luiza prometia ser desgastante como outras experiências que já tínhamos tido, mas, de alguma forma, o encantamento foi de imediato. Luiza se mostrava confiante e, principalmente, feliz! “, disse.
A psicóloga Danyella Ribeiro afirma que a confiança da criança no profissional é o primeiro passo para o sucesso no atendimento. “Como um consultório de dentista é um local onde a gente já estigmatiza que vai ter dor, essa confiança é necessária”, disse.
Ainda de acordo com Danyella, o trauma fica instalado na criança após uma situação de medo, o que leva os pequenos a se recusarem às próximas experiências. “É interessante mudar as características, pra que a criança se sinta acolhida. Tem que ter uma cautela do chegar ao sair”, afirmou.
A recompensa de todo o trabalho diferenciado? Sorrisos encantados dos pequenos e a gratidão dos pais. É assim que a odontopediatra abastece diariamente a vontade de continuar contribuindo com o bem-estar físico e emocional dos pacientes.
Fonte:G1
Discussion about this post