O Congresso Nacional, que sempre foi uma espécie de ‘balcão de negócios’, sobretudo nos últimos anos, diante da inflexibilidade do presidente Jair Bolsonaro (PSL) em conservar o ‘status quo’ do chamado ‘sistema’, parece ter resolvido instalar um verdadeiro mutirão de chantagens contra o novo governo, uma espécie de esforço concentrado da chamada ‘velha política’, tão acostumada ao velho e malfadado toma lá, dá cá.
Com o auxílio generoso e até comprometedor de setores importantes da mídia tradicional, o movimento tenta não só sabotar o governo legitimamente instalado pelas regras democráticas vigentes, como diligencia uma pauta voltada a transmitir a falsa impressão de que o país caminha para uma grave crise, quando, de fato, o que está em curso mesmo é a construção de uma narrativa inverossímil para catapultar uma estratégia de sobrevivência política e com viés mercadológico.
Não à toa, sob a batuta de Rodrigo Maia (DEM), presidente da Câmara Federal, até então tratado como o ‘Botafogo’ das planilhas da Odebrecht, agora é a vítima do processo e não mais o vilão de outrora, tanto é verdade que os mesmos críticos do ‘modelo’ de concessões políticas do passado, da troca de vantagens por interesses pouco ou nada republicanos, agora o defendem sob o argumento de que o governo precisa articular uma base aliada no Congresso que permita a aprovação de projetos, a exemplo da reforma da previdência.
Aliás, ontem, chamados a falar em comissões, seis ministros foram expostos a críticas de líderes partidários. Deputados da oposição aproveitaram a ‘vulnerabilidade da base’ para aprovar, por 10 votos a 0, a convocação do ministro da Justiça, Sergio Moro , a comparecer à Comissão de Participação Legislativa para falar sobre o projeto anticrime e o decreto de posse de armas. Por ter sido uma convocação, Moro, que ontem esteve no Senado, é obrigado a comparecer à comissão da Câmara.
Mas há sinais de novos problemas para o governo nas próximas semanas. Nos porões do Congresso, parlamentares articulam a aprovação de uma série de mudanças no texto da Medida Provisória (MP) 870, que definiu a estrutura administrativa do governo. Se o plano for levado adiante, a formatação do governo pode ser redesenhada pelos congressistas, com o corte de ministérios e até o remanejamento de repartições entre pastas na estrutura do Executivo, o que seria, a rigor, uma intromissão de um poder noutro, algo extremamente nocivo para um país que tenta se reerguer diante do caos dos últimos anos.
A atitude de parlamentares e boa parte da mídia brasileira não é algo espantoso, sobretudo em se tratando de Brasil, um país acostumado a jeitinhos, barganhas e a todo tipo de relação incestuosa. Na verdade, para essa turma, os verdadeiros anseios do país passam longe de seus próprios interesses.
Com erros e acertos, por mais que se torça contra Bolsonaro, sabotar um governo com menos de 3 meses é, no mínimo, contraproducente, pois o que está em jogo é o futuro de uma nação e de mais de 200 milhões de brasileiros que esperam uma fenda de luz nas suas janelas e um mínimo de oportunidade em suas vidas. Difícil acreditar que representantes do povo, pelo menos é o que institui a Constituição Federal de 1988, tentem dourar uma pílula que faça tanto mal ao paciente só para atender seus inconfessáveis e subrreptícios interesses.
Num governo disposto a jogar duro contra ‘jeitinhos’ e jeitões’, e decidido a pôr fim ao “toma-lá-dá cá”, inclusive sem as concessões de outrora, o balcão, que antes era de negócios, definitivamente mudou para um de chantagens.
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