Começar um negócio em um mercado competitivo e com diversas opções de investimento, mesmo com as facilidades tecnológicas, pode ser um desafio. No entanto, fundadores de startups paraibanas, do ramo da construção civil, enxergaram nos supostos concorrentes uma possibilidade de parceria e decidiram criar o “Construtech PB”. O grupo é uma espécie de associação dessas pequenas empresas, com o objetivo de driblar as dificuldades do início do empreendimento.
De acordo com Rafael Fonseca, Chief Executive Officer (CEO) da Inquality, uma das startups que faz parte do grupo, mesmo que as pequenas empresas ofereçam um produto semelhante, o modelo de negócio não é o mesmo. Por isso, a tendência é que os serviços ofertados se complementem.
“Não existe concorrente, existe parceiro comercial. A ideia é aproveitar o que aquela outra já conseguiu e trazer pra dentro do grupo”, disse.
Atualmente, o Construtech PB conta com seis startups da área, que buscam se ajudar mutuamente, já que grande parte dos projetos ainda está dando os primeiros passos, tendo em vista que a empresa mais antiga foi criada em 2016.
“O sentido do grupo é esse, unir forças para buscar um lugar no sol. Porque por mais que sejamos construtechs, estejamos no mesmo setor, cada uma tem um segmento específico”, pontuou.
A empresa de Rafael, por exemplo, trabalha com desenvolvimento de softwares para otimizar processos, evitar desperdícios e reduzir os erros nas obras, buscando atingir os padrões de qualidade estabelecidos. Contudo, o grupo também conta com iniciativas especializadas nas áreas de cotação de obras, captação de recursos, documentação e construção de lotes de condomínios fechados.
Embora reconheça que o projeto ainda está engatinhando no mercado, Rafael explicou que já é possível enxergar resultados da parceria. Como exemplo, ele citou a indicação de clientes, ou seja, quando uma startup oferece um serviço para uma construtora e indica outra do grupo que também possa contribuir para atender às necessidades do contratante.
“O que a gente tem trocado muito é esse networking. Contato de desenvolvedor, criação de site, webdesigner, esse tipo de coisa. Já tem sido de grande-valia nesse ponto”, afirmou.
“A ideia é não deixar a peteca cair, sempre que está precisando a gente procura as habilidades de cada um do grupo para tocar o negócio do outro”, comentou.
Para a analista do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) na Paraíba, Danyele Raposo, essa iniciativa de formar um grupo representa a junção de características dessa nova geração empreendedores.
Como gestora do projeto de startups do Sebrae, ela participa de processos de criação, validação e desenvolvimento de ideias e afirmou que é necessário que a proposta esteja alinhada com as demandas do mercado e que tenha um público bem definido.
“Essa nova geração de empreendedorismo já consegue perceber que a união realmente consegue estabelecer um pilar mais estruturado para soluções, principalmente de um mercado forte. E quanto mais focado e nichado, as soluções tendem a ser mais eficientes. Então esse pensamento de ajuda mútua, de colaboração, é realmente um grande diferencial”, pontuou.
Parceria e ‘happy hours’
Na maior parte do tempo, a troca de experiências acontece por meio de um grupo em uma rede social. Contudo, em alguns momentos, segundo Rafael, os fundadores conseguem organizar as agendas para se encontrar pessoalmente, em conferências ou “happy hours”.
Apesar do nome, essas reuniões não envolvem necessariamente um drink gelado depois de um dia cansativo de trabalho. “Sempre a gente procura organizar dentro de coworkings. Quando tem algum evento a gente procura se encontrar, até mesmo para aproveitar o gancho do evento”, explicou.
Conforme Rafael, o “ConstrutechPB” surgiu após a participação de algumas startups, como expositores, em uma feira de construção civil, realizada em novembro e dezembro de 2018, onde os empreendedores se conheceram.
Tradicionalismo e inovação
De acordo com a analista do Sebrae, o mercado da construção civil é marcado pelo tradicionalismo que, por vezes, se torna um empecilho para o crescimento e consolidação das startups.
Contudo, Danyele ressaltou que há espaço para desenvolvimento, desde que haja uma estratégia bem montada. “O mais importante para as construtechs agora é se apoiar na necessidade real de mercado, numa solução tecnicamente viável e que tenha realmente um bom modelo de negócio, totalmente focado na necessidade desse mercado”, pontuou.
Já Rafael contou que enxerga uma certa resistência, porém comentou que os construtores têm gostado do produto ofertado e que, por isso, têm se tornado mais abertos às novidades que surgem na Paraíba.
“Tem demanda e esse mercado consegue absorver”, disse.
“Por exemplo, um senhor me deu um feedback sobre o que poderia melhorar no filtro do nosso sistema, aí eu achei super interessante, porque de onde eu menos esperava, veio. Ou seja, o pessoal está interessado no sentido de que a empresa venha para ajudar”, salientou.
‘Caminho promissor’
Embora atualmente o grupo seja formado por cinco startups de João Pessoa e uma de Campina Grande, o objetivo é expandir essa rede, seguindo o exemplo, de uma iniciativa já existente em Recife.
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