A ex-secretária de Administração dos governos Ricardo Coutinho e João Azevedo, ambos do PSB, Livânia Farias, resolveu abir o jogo e teria revelado detalhes de como a organização criminosa que desviava recursos públicos da saúde, através do contrato do governo da Paraíba com Organizações Sociais, a exemplo da Cruz Vermelha gaúcha, além de vários integrantes do esquema. A decisão de Livânia foi tomada ainda no período quaresmal e as revelações contadas em dois depoimentos aos integrantes da Força Tarefa da Operação Calvário, capitaneada pelo Grupo de Atuação Especial Contra o Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público Estadual.
Nos bastidores da investigação, cada depoimento teria sido de aproximadamente 6 horas, totalizando 12 horas de gravações. A organização criminosa, segundo investigações da Operação Calvário, teria movimentado quase R$ 2 bilhões desde julho de 2011, quando o ex-governador Ricardo Coutinho decidiu adotar o modelo de terceirização por meio de OS e celebrou contrato com a Cruz Vermelha, filial do Rio Grande do Sul.
O detalhe é que determinação para soltura de Livânia se deu após parecer do Ministério Público favorável à sua liberdade provisória, como resultado de uma colaboração negociada, secretamente, por ela com integrantes do Gaeco. A delação teria se dado, inclusive, à revelia dos advogados Solon Benevides (que deixou a defesa de Livânia ainda ontem) e Sheyner Asfora (saiu nesta terça após tomar conhecimento da delação).
Informações de bastidores indicam que a ex-secretária foi ouvida em local mantido sob sigilo, quando teria deixado um dos interrogatórios para, supostamente, fazer alguns exames médicos. Seria despiste.
Restrições
A ex-secretária fica impedida de acessar repartições do governo do Estado, manter contato com testemunhas e/ou fornecedores da secretaria de saúde, fornecedores de campanha eleitoral e seus parentes até o 3º grau. Também não pode se deslocar a locais com distância superior a 200 km da Comarca de João Pessoa, nem exercer cargos públicos. Livânia Farias também estará obrigada a comparecer mensalmente ao Ministério Público da Paraíba, em datas a serem ajustadas diretamente com os investigadores do órgão.
Calvário
Livânia foi tornada ré na ação pela juíza Andréa Gonçalves Lopes Lins há duas semanas no bojo da operação Calvário. Além dela, cinco outras pessoas viraram réus na mesma ação. Os outros implicados são Elvis Rodrigues Farias, Leandro Nunes Azevedo, Daniel Gomes da Silva, Michelle Louzada Cardoso e Maria Aparecida de Oliveira. Deles, Livânia, Daniel e Michelle são os únicos presos atualmente. Leandro chegou a ser preso na segunda etapa da operação, mas foi solto a pedido do Ministério Público após acordo de colaboração premiada.
A ação investiga a suposta participação da ex-auxiliar do governo estadual em esquema de recebimento de propinas pagas pela Cruz Vermelha Brasileira filial Rio Grande do Sul. O esquema foi delatado pelo ex-assessor da Secretaria de Administração, Leandro Nunes Azevedo, preso na segunda fase da operação. O mandatário da Cruz Vermelha, Daniel Gomes, também foi preso na segunda etapa da operação e permanece detido no Rio de Janeiro.
Livânia é acusada do recebimento de propinas pagas por dirigentes da Cruz Vermelha Brasileira filial Rio Grande do Sul. A instituição, em conjunto com o Instituto de Psicologia Clínica, Educacional e Profissional (IPCEP), administrou recursos da ordem de R$ 1,1 bilhão entre 2011 e 2018. Elas são responsáveis pela gestão dos hospitais de Emergência e Trauma Senador Humberto Lucena, Metropolitano Dom José Maria Pires e o Regional de Mamanguape.
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