Referência no Estado e Hospital Amigo da Criança, a Maternidade Frei Damião, em João Pessoa, está perto de alcançar uma das metas do Ministério da Saúde, através da Rede Cegonha, faltando apenas cinco pontos percentuais para que 65% dos partos realizados na maternidade sejam normais. A maternidade aumentou a capacidade de rotatividade de leito e, hoje, realiza de 300 a 350 partos por mês, o equivalente a 12 partos por dia.
A diretora-geral da Maternidade Frei Damião, Selda Gomes, explica que a dor é o maior obstáculo do parto normal, no entanto, a preferência cultural do parto cesariano tem mudado. “O medo de sentir dor é o que define a via de nascimento de seu filho, mas a procura pelo parto humanizado tem sido cada vez maior”, disse.
Foi na Maternidade Frei Damião que Bárbara Isabel teve a segurança para dar à luz a Mariana, fruto de sua terceira gestação. Ela conta que teve seu primeiro filho também na instituição. “Na primeira gestação tive dificuldade na dilatação, entrei às 10 horas da manhã na maternidade e só vim ter meu bebê às 22h da noite. Apesar do parto de meu filho ter sido sofrido recebi um atendimento humanizado pela equipe, fui acompanhada por nutricionista, fisioterapeuta. Essa segurança fez toda a diferença.Já o parto da minha filha foi tranquilo e rápido”, disse.
A instituição dispõe de vários serviços de saúde que visam oferecer atendimento humanizado às mulheres do parto à amamentação. Entre as ações desenvolvidas estão o combate à violência obstétrica, redução da mortalidade materna, serviço de planejamento familiar, pré-natal para gravidez de alto risco e assistência durante a amamentação, em parceria com o Banco de Leite Humano Anita Cabral.
Nos serviços de alta complexidade, a Maternidade Frei Damião disponibiliza de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) neonatal para recém-nascidos (de até 29 dias) e Uti adulto para mulheres. Oferece também ambulatório pré-natal para gestantes que fazem parte do grupo de alto risco, conforme critérios estabelecidos pelo Ministério da Saúde: mulheres com mais de 35 anos, cardiopatas, pressão alta, diabetes, trombofilia, entre outros.
Projeto Eternizar: acolhida em casos de risco
Como as pacientes de alto risco permanecem meses internas e não têm a oportunidade de desfrutar a gestação em casa, a Maternidade Frei Damião criou o projeto Eternizar com O intuito de possibilitar momentos especiais a essas gestantes.
O projeto presenteia as gestantes com cuidados estéticos, maquiagem e ensaio fotográfico com arte gestacional. As pacientes também ganham enxoval e um álbum fotográfico para que o momento seja eternizado.
A idealizadora do “Eternizar”, Selda Gomes, ressalta a importância de tornar mais agradável a estadia da gestante na maternidade até o nascimento do bebê. “Quando identificamos no ambulatório de alto risco uma gestante com pressão alta ou diabetes elevada, por exemplo, a equipe médica não a deixa voltar para casa. Muitas gestantes ficam conosco até 39 semanas, por isso, o acolhimento é tão importante”, explicou.
Grávida de gêmeos, 25 anos, Jéssica Almeida estava com seis meses de gestação e tornou-se uma paciente de risco devido a um sangramento. “Estava fazendo o pré-natal direitinho mas tudo em gêmeos é mais intenso. Estou tendo que tomar remédio para impedir o nascimento prematuro dos bebês”, falou.
Apesar de triste com a situação, a jovem de cabelos longos tem se adaptado à nova rotina. “ É minha primeira gestação. Tenho tido um atendimento humanizado, uma equipe sempre disposta a ajudar”, declarou.
Aleitamento Materno
Segundo recomendação do Ministério da Saúde deve-se alimentar o bebê exclusivamente com leite materno nos primeiros seis meses de idade e até dois anos como alimentação complementar. O leite materno é importante e essencial. Ele possui propriedades únicas, exclusivas e insubstituíveis. Por ser um alimento vivo e dinâmico o leite humano oferece ao bebê aquilo que ele necessita. Além de todos os macro e micronutrientes básicos como carboidratos, lipídios, proteínas, minerais, entre outros, o modo como o bebê faz a sucção tem total influência na composição desse leite.
A Maternidade Frei Damião disponibiliza orientação sobre a importância e benefícios do aleitamento materno no ambulatório de alto risco tanto para a mãe quanto para o bebê. No ambulatório, a equipe multiprofissional esclarece os mitos que cerceiam a amamentação, o principal deles segundo Selda Gomes, é sobre a nutrição e aparência do leite. “Por ser transparente e de fácil absorção, as mulheres têm a impressão de ser fraco. O bebê acaba se alimentando várias vezes, então ocasiona a sensação de não saciamento da fome”, declarou.
As mães permanecem em média três dias na maternidade, o objetivo da equipe é ensiná-las sobre amamentação para que essas orientações virem rotina. “Nosso foco é incentivar e fortalecer a política do aleitamento materno para que quando a mãe sair da maternidade continue aplicando os conhecimentos adquiridos”, enfatizou a diretora.
Natural de Itabaiana,38 anos,Suelene Alves teve cuidado redobrado da equipe médica por ser diabética, hipertensa e ter dificuldades na amamentação devido a um início de câncer na juventude. “Eu era de menor e não tinha noção da gravidade. Fiz cirurgia nas duas mamas, passei 14 anos com a mama direita aberta (nenhum médico queria mexer), meu mamilo não se reconstruiu. Não recebi alta ainda por causa da amamentação mas as enfermeiras me ajudam muito”, relatou Suelene Alves, mãe de Miguel.
Referência para atendimento de violência sexual
O Ministério de Saúde disponibiliza um programa de atendimento a mulheres vítimas de violência sexual. De 2018 até agosto deste ano, foram notificados 636 casos de violência sexual na Paraíba, sendo o estupro o maior índice, com 439 notificações. O serviço de referência é oferecido em seis instituições públicas de saúde, entre maternidades e hospitais, distribuídos nos municípios de João Pessoa, Campina Grande, Monteiro, Patos, Santa Luzia e Cajazeiras.
A violência sexual abrange quatro formas: o assédio sexual, estupro, pornografia infantil e exploração sexual. Este programa realiza atendimento para profilaxia de doenças sexualmente transmissíveis, hepatites e HIV; contracepção de emergência até 72 horas e interrupção da gravidez nos casos previstos na lei do Aborto Legal, entre eles: a gravidez ocasione risco iminente de morte à mulher, gravidez resultante de violência sexual ou o bebê seja anencéfalo.
A Maternidade Frei Damião foi a primeira unidade hospitalar da Paraíba a estar habilitada a realizar o Aborto Legal. Antes o procedimento era permitido apenas com a liminar do juiz, hoje, uma equipe multidisciplinar qualificada (médico, psicólogo, assistente social e enfermeiro) faz o acolhimento da vítima, realiza as profilaxias necessárias e analisa sua narrativa. “Para a equipe multidisciplinar autorizar o procedimento com segurança, realizamos o exame clínico (ultrassonografia) e ter certeza que a data de concepção do feto corresponde ao relato da vítima”, disse Selda Gomes, diretora geral da Maternidade Frei Damião.
Do ano de 2017 a agosto deste ano, foram realizadas 42 interrupções de gravidez nas cinco instituições públicas de referência disponibilizadas na Paraíba. O Instituto Epídio de Almeida (11 casos) e o Instituto Cândida Vargas (27 casos) apresentam os números mais elevados de procedimentos.
Segundo orientação do Ministério da Saúde, o serviço de interrupção deve ser feito em até 12 semanas após o estupro. A gerente executiva de Equidade de Gênero, Elinaide Carvalho, da Secretaria de Estado da Mulher e Diversidade Humana (SEMDH) revela que apesar de vítimas, as mulheres sentem-se constrangidas em procurar o serviço de interrupção da gravidez devido à cultura de criminalização do aborto. “Temos uma cultura muito perversa que acaba fragilizando a mulher, tanto na procura pelo serviço quanto na tomada de decisão pela interrupção da gravidez. Outra questão é que muitos médicos sentem-se desconfortáveis em serem partes integrantes do programa” explicou.
Observa-se que o quantitativo dos procedimentos realizados é baixo, questionada sobre os motivos, Elinaide Carvalho analisa ser um conjunto de fatores intrínsecos na cultura do estupro. “ O estupro é uma violência que marca muito a vida da mulher e o desejo de esquecê-lo desencoraja a procurar o serviço. Outros fatores são a cultura da culpabilização da mulher, a desinformação dos serviços oferecidos e do direito garantido por lei. São muitas nuances que podem justificar a baixa procura do atendimento”, analisou.
Sara Gomes
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