Quem gosta de Bolsonaro, achou seu discurso sensacional; quem não gosta, achou um horror. Numa análise fria e intelectualmente desapegada de qualquer viés de pensamento, seja mais à direita, à esquerda ou mesmo ao centro de um país demasiadamente divido, ainda em cima do palanque e em clima de Fla x Flu.
Sem arrodeios, a conclusão que se chega é que as pessoas não cansam de ser previsíveis? De todo modo, claro, tem até um lado cômico nisso tudo, porque expõe sobremaneira até ponto chega a paixão dos ‘torcedores’. Por outro lado, mostra a imensa dificuldade de se pensar com distanciamento crítico, nos tempos atuais.
Com um discurso contundente, às vezes áspero e em alguns momentos em tom acre, o presidente Jair Bolsonaro demarcou território na abertura da Assembleia Geral da ONU ao fazer a defesa intransigente da soberania nacional, inclusive deixando claro que a Amazônia pertence ao brasil e aos brasileiros.
No melhor estilo “ame-o ou deixe-o”, Bolsonaro repetiu o que desde a campanha vem entoando, renovou o compromisso com os seus eleitores ao reafirmar posicionamento a favor da preservação de valores, a exemplo da família, e disse com todas as letras que existe “um novo Brasil” com a sua chegada à Presidência da República.
Para dizer que não falei das flores, entoou críticas ao socialismo e ao lulopetismo, culpando-os por todas as mazelas e, também, pelos “ataques dos valores religiosos” e pela forte corrupção no País. “Meu país esteve muito próximo do socialismo, o que nos colocou em uma situação de corrupção generalizada, grave recessão econômica, altas taxas de criminalidade”, externou ao acrescentar: “Líderes socialistas que me antecederam roubaram o país, comprando parte do Parlamento e da Mídia, remetendo recursos roubados para outros regimes socialistas. Aqui foram aplaudidos. Graças a patriotas como Sérgio Moro, foram desmascarados e punidos.”
Aliás, em todo o discurso, o ex-juiz que comandou a maior operação de combate à corrupção do país e que fez o que ‘nunca foi feito na história desse país’, pelo menos no que diz respeito aos chamados crimes de colarinho branco, foi o único ministro citado no discurso de vinte minutos.
Sem tirar e nem pôr, pode-se não concordar com Bolsonaro, mas dizer que ele fez o Brasil passar vergonha na ONU, francamente, não tem conexão nenhuma com a realidade.
Não à toa, alguém imaginava Bolsonaro dizendo coisas do tipo “o que nos une é maior do que o que nos separa?” Na verdade, o discurso que muitos dirão foi colérico, estúpido, imbecil e por aí vai, outros dirão que foi sensacional, extraordinário, inédito, enfim… mas o que que ficou bastante mesmo é que o perfil do atual mandatário do país é o de um líder polarizador, em uma democracia polarizada. Possivelmente será assim até o final de seu mandato, doa a quem doer e independentemente da vociferação a favor ou contra aqui e alhures.
A verdade é que tem algo que este discurso deixa (mais uma vez) bastante claro que Bolsonaro não é um líder disposto a contemporizar ou “compor” ao centro (seja lá o que isto queira dizer). Ele age como o jogador, no dilema do prisioneiro, que espera que o outro sempre traia, algo bastante típico de sua própria natureza, forjada na luta muitas vezes inglória da ‘caserna’.
Em tempos de Fla x Flu, mais uma vez e agora ao mundo inteiro, Bolsonaro não só mostrou como provou que é bom de combate, não se queda aos perigos e nem muito menos aos desafios.
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