Não é apenas pelo momento que vive na Série A do Brasileiro ou pela referência que se tornou. É fácil exaltar a nova fase, conceituar números e gols. Principalmente pela realidade distante que viveu, pelo passado recente de vaias e quase unânime reprovação do torcedor. Quem entende o contexto sabe o poder de superação que Romarinho enfrentou no Fortaleza. Observando o atual cenário com olhar distante de 2018 e parte de 2019, jamais acreditaria na reviravolta técnica e tática que o atleta driblou, tão rápido como faz dentro de campo para se fixar entre os cinco maiores dribladores do atual Brasileirão da Série A. Aliás, se não for injusto arriscar, apenas uma pessoa acreditava na dimensão deste potencial: Rogério Ceni.
– Ele sempre foi o mesmo, o torcedor não entendia e não tinha paciência com ele. Só tem a crescer, e, infelizmente, sair daqui – destacou Rogério.
E quanto mais se destaca, o meia-atacante torna-se referência, vitrine e ganha os olhares de projeção do futebol. A rápida evolução em relação ao que já foi fez o Fortaleza se prevenir em relação a eventuais buscas para contratar o atleta. Romarinho tem contrato com clube até julho de 2022, com multa fixada em 20 milhões de euros para negociação com clubes fora do Brasil, que convertido, passam dos R$ 90 milhões. Caso haja um clube brasileiro interessado em contratar o atleta, essa multa se fixa em R$ 20 milhões.
A maior venda do futebol cearense, até hoje, foi a de Felipe Jonatan, do Ceará para o Santos, com multa de R$ 6 mi.
Evolução rápida
Ceni sempre destacou e exigiu que atletas ‘pensem’ dentro de campo e possam compreender o jogo, no conceito técnico e tático. Esse é um dos maiores destaques do treinador tricolor, em exigir o máximo de cada jogador, principalmente dentro das características individuais e funções desempenhadas. Quando eles aceitam essa condição, a tendência é evolução, caso de Romarinho. Quando não aceitam, perdem espaço, casos de Madson e Alan Mineiro.
Romarinho é uma das maiores cotas de responsabilidades do treinador. Destaque do Globo na Copa do Brasil 2017, foi contratado pelo Fluminense, não teve destaque e nem espaço, voltou ao Globo, se destacou, mais uma vez, na Série C de 2018 e estava em negociação com Ceará, mas quem fechou foi o Fortaleza, inclusive, à pedido de Rogério Ceni. Fortaleza tinha perdido Edinho e Osvaldo, seus principais pilares naquele momento na campanha do título da Série B. O Tricolor repôs com Marcinho, Marlon e Romarinho, último a chegar ao Fortaleza.
Tecnicamente apresentou qualidade, com dribles e bom domínio de bola, mas as sequências nas jogadas eram equivocadas e ‘quebravam’ muitos ataques promissores do time, além de ter uma recomposição abaixo do exigido. Romarinho sofreu com vaias e perdeu gols durante a campanha da Série B do Brasileiro. Fundamentos ele tinha para se tornar um atleta útil ao elenco, mas não tinha bons conceitos táticos, trabalhado e insistido por Ceni. Jogou 14 jogos em 2018, quatro como titular, sendo substituído em três deles, em um deles, sofrendo vaias do torcedor.
Não foi ‘de uma hora pra outra’ o crescimento do jogador. Acompanha o olhar promissor de quem o pediu. Os treinamentos entre agosto de 2018 (quando chegou) e a continuidade em 2019 providenciaram amadurecimento, aprimorando a sua capacidade técnica e criando uma evolução tática dentro das exigências de Rogério Ceni. O ponto inicial foi a retomada da confiança, o gol nas semifinais da Copa do Nordeste contra o Santa Cruz, que levou o Fortaleza a final da competição. Ali, era o recomeço de Romarinho. E, de repente, utilizou a retomada com ausência da principal referência do time naquele momento, Edinho.
Gol salvador no empate contra o Vasco, o do título da Copa do Nordeste, universo conspirava a favor do jogador que passou a desempenhar multifunção no esquema com quatro atacantes do Fortaleza, conseguindo jogar aberto pelos dois lados do campo ou atuando como segundo atacante, alternando também como um meia mais armador, jogando como elemento surpresa. É um dos líderes do time em assistências, são 29, três para gol e 26 para finalizações. Dentre as funções realizadas, ele é também finalizador. São três gols marcados em 32 tentativas na Série A.
Se existia uma unanimidade na reprovação, a reviravolta apresenta, talvez, unanimidade em aprovação do torcedor em Romarinho como referência tricolor no cenário atual. Se não bastassem os números expressivos em assistências e finalizações, o meia-atacante desempenha em grande escala o seu principal fundamento: dribles. Ele é top 5 entre os atletas que mais driblam e quebram linhas defensivas e um dos que mais sofrem faltas. Seguindo a lógica, quanto maior o embate individual, maior o risco de ser parado sem desarmes limpos na bola.
Romarinho, antes vaiado e reprovado, hoje idolatrado e aplaudido. A mudança do conceito é reflexo dos resultados apresentados durante os jogos, que são precedidos pelo trabalho individual entre Rogério Ceni e o jogador, da contratação até insistência. E, claro, a manutenção do Fortaleza na Série A representa valorização do atleta, com a continuidade da referência para 2020, ou para o mercado. De qualquer forma, o clube sai fortalecido dessa relação, dentro de campo ou fora dele.
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