O fatídico, lastimável e ultrajante episódio que expõe o confronto de um Senador da República com policiais militares em greve, no Ceará, expôs em foto três por quatro que o país permanece em verdadeiro cabo de guerra, flertando constantemente com o perigo e em estado permanente de confronto. Na guerra de narrativas cada vez mais míopes, quem joga um retroescavadeira contra dezenas de pessoas está absolutamente certo, mas quem reage para defender sua própria vida completamente errado.
Quem acompanhou o noticiário da chamada ‘grande mídia’ sobre o lamentável episódio envolvendo o senador licenciado do Ceará, Cid Gomes, e policiais, em Sobral, no Ceará, pode ter concluído que o ilustre parlamentar agia de boa fé, como exímio negociador, assumindo a missão de negociar o fim de um movimento paredista, até que, de repente, foi vítima de um atentado. Ocorro, contudo, na era do protagonismo das redes sociais, logo surge um vídeo que mostra justamente o contrário, isto é, o referido Senador da Repúblico com um trator disposto a tratorar policiais e seus familiares.
A atitude do parlamentar, além de totalmente impensada, é tresloucada e irresponsável. O que ele esperava ao tentar passar por cima de policiais armados? Cid esqueceu que o policial é treinado para defender a vida, a começar pela própria. E não poderia dar em outra coisa. Enfim, deu e agora, por mais que se tente recontar o fato, outras verdades que não as contadas pela mídia tradicional terminam por ganhar corpo e forma nas mãos das pessoas.
O ato de Cid ilustra bem a trajetória dos irmãos Gomes, no Ceará. O grupo dos Ferreira Gomes conseguiu consolidar-se como a principal força política do Ceará nos últimos anos. Esse feito se deu a partir de uma bem-sucedida rede de alianças, integrada pela
maioria dos deputados federais, deputados estaduais, prefeitos e vereadores, além do apoio formal das grandes forças partidárias do Estado, compondo uma articulação que produziu um dos arranjos mais poderosos do Nordeste na atualidade. Esse aglomerado, marcado pela heterogeneidade de lideranças e partidos, laços familiares, apoio da gramática lulista e extremo pragmatismo, tem nos irmãos Ciro e Cid o seu núcleo central.
Com mãos de ferros e acostumados a peitar quem não reza suas cartilhas, Cid e Ciro acumulam episódios como esse, em que o irracional sempre prevalece para garantir suas próprias vontades. Por mais que se tente dizer que Cid fez o que fez por ser um homem com nervos a flor da pele, não faz sentido algum e precisa ser condenado por isso. A verdade é que todo o episodio é muito lamentável e mostra a tipica realidade truculência dos Ferreira Gomes.
Cid, felizmente, não morreu. Passa bem e nada será feito contra ele, mesmo tendo concorrido para quebra do decoro ao atentar contra vidas humanas. Os manifestantes, infelizmente, serão enquadrados na ‘lei’ e terão que pagar por seus ‘crimes’.
No país do nós contra eles e da gangorra entre direita e esquerda, até quem reage em legítima defesa é tratado como bandido ou, para utilizar um termo mais contemporâneo, miliciano bolsonarista. Tudo isso sob a pena e a luz da ‘grande mídia’, que resolveu não apenas escolher um lado, mas, também, decidiu destruir o outro, sem qualquer prurido e nenhum pudor.
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