Parapan do Tiro com Arco, entre os dias 22 e 29 de março, na cidade de Monterrey, México; e duas etapas do Circuito Mundial: Tucson, nos Estados Unidos, em abril; e Nové Mesto, na República Tcheca, em junho.
Esse é o cronograma de Jane Karla antes dos Jogos Paralímpicos de Tóquio, de 25 de agosto a seis de setembro. Rotina pesada e desgastante que exige muito treino da goiana de 44 anos. Para isso, ela, que reside em Portugal, esteve recentemente no Centro de Treinamento Paralímpico em São Paulo.
“Foi um projeto da Confederação do Tiro e do Comitê Paralímpico (CPB). A ideia foi ajustar os detalhes técnicos e fazer os exames médicos preparatórios para Tóquio”, explica a atleta, que teve poliomielite aos três anos de idade. Henrique Campos, técnico da Seleção Brasileira, dá mais detalhes.
“Tivemos dois técnicos e um fisioterapeuta a acompanhando. Fizemos várias baterias de exames clínicos para termos comparativos às vésperas dos Jogos. Esse tipo de trabalho nunca foi feito no Tiro. O apoio e o investimento estão sendo totais por parte do CPB”, comemora.
Cuidados para melhorar ainda mais um desempenho, que vem sendo muito bom. Na recente temporada europeia de competições “indoor” (em ambientes fechados), Jane quebrou três vezes o recorde mundial paralímpico da modalidade.
A marca mais recente foi alcançada em janeiro, em Nimes (França), 582 de 600 pontos possíveis (42 das 60 flechas foram certeiras, com a pontuação máxima de 10 pontos, e 18 próximas ao centro do alvo, cada uma valendo 9 pontos). Mas agora é hora de “virar a chave” e partir para a temporada outdoor (em ambientes arbertos), que terá as Paralimpíadas como auge.
“Fiquei muito feliz com os meus resultados, mas eu preciso usar essa experiência para buscar o melhor nesses próximos torneios. O indoor exige muita precisão. Chega na frente quem acerta sempre a “mosquinha” (o centro do alvo). No outdoor, tudo pode acontecer. É imprevisível. Sol, chuva, vento. O que nos foi passado é que o calor vai ser muito forte no Japão. Existe até uma chance de alterarem o horário das provas.”
Enfim, é importante participar do maior número possível de disputas para chegar “bem”, diz a atiradora, que obteve a vaga às Paralimpíadas para o Brasil, com a sexta posição no Mundial da Holanda no ano passado (na modalidade a vaga é do país).
A definição da atleta, que irá ocupar esse posto, só sairá às vésperas dos Jogos. Mas, é claro que, só uma mudança gigantesca no quadro atual tirará a goiana dos Jogos.
“No Parapan do México, o objetivo da Jane será treinar. Todos os melhores das Américas estarão lá e a chance será excelente para termos esse primeiro comparativo. Depois, no torneio dos Estados Unidos, a gente vai aproveitar para testar a questão climática. Estaremos no deserto do Arizona, com um clima bem parecido ao que devemos enfrentar lá no Japão. E, na República Tcheca, Jane vai se encontrar com todas as adversárias das Paralimpíadas. Por isso, acho que vai ser o compromisso mais importante para gente nesse semestre”, afirma o técnico Henrique.
Liderança do ranking mundial em 2018
Após vencer torneios nos Emirados Árabes e na Itália, Jane Karla assumiu a liderança do ranking do arco composto paralímpico. Entre os atletas olímpicos e paralímpicos, ela foi a primeira brasileira a alcançar tal posição. “Foi uma conquista que há três anos era impensável. E ela chegou lá. Mas, o mais importante é que agora a Jane está super preparada para chegar no topo novamente. É isso que estamos buscando”, planeja Henrique.
Quarta paralimpíada da carreira
Nas primeiras experiências paralímpicas, a goiana não precisou usar nenhum arco nem ser precisa com as flechas. Em Pequim 2008 e em Londres 2012, a atleta representou o Brasil no Tênis de Mesa na classe 8 (para os “andantes”).
“Os momentos vividos ficam guardados para sempre na lembrança. Foi tudo muito especial. Principalmente o quinto lugar em Londres.”
Em 2014, a Confederação Brasileira de Tênis de Mesa decidiu trazer a seleção brasileira de “andantes” para treinar em São Paulo e a Jane Karla precisou se decidir: deixar a família em Goiás e encarar o desafio ou mudar de modalidade? A resposta: mudar de modalidade.
Foi aí que o Tiro com Arco entrou na vida dela. Mas com o mesmo sucesso. Tanto que, apenas dois anos depois, mais uma Paralimpíada. Desta vez, no Rio de Janeiro. “Estar com a torcida brasileira foi maravilhoso. Eu sonhava com isso desde os Jogos de Pequim. Vi aquela torcida toda na China e fiquei pensando que se a gente pudesse ter algum dia aquele apoio todo do público para nós seria maravilhoso. E realmente foi muito especial.”
E por muito pouco, a festa no Rio de Janeiro não foi ainda maior. Jane Karla chegou às quartas de final, sendo derrotada pela chinesa Yueshan Lin (que finalizou com a prata). “Ela chegou muito perto. A menina batia e ela batia igual. Muito no detalhe. A Jane passava e ela ultrapassava. Foram várias viradas.
A definição saiu literalmente na última flecha”, lembra o treinador. Agora, para Tóquio, o objetivo é um só: a medalha.
“É o nosso sonho. O trabalho diário é para isso. Agora ela está mais “madura”, mais preparada”, revela o técnico Henrique. “É claro que esse período de preparação e dos Jogos de Tóquio ficarão guardados na memória de uma forma muito mais especial se vier a medalha. E é para isso que estamos aqui, para tornar realidade esse sonho” diz a atiradora.
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