O setor de energia renovável do Nordeste brasileiro enfrenta uma crise sem precedentes devido a restrições severas impostas pelo sistema energético nacional. O curtailment, prática de limitar a produção de energia para evitar sobrecargas na rede, tem limitado drasticamente a geração por empreendimentos como o Complexo de Energia Solar de Santa Luzia, operado pela Rio Alto Energias Renováveis, por exemplo.
Além de comprometer a produção e distribuição para outras regiões como a Sudeste, que pareceu com apagões em São Paulo, abalam a confiança de investidores e desestabilizam a economia.
Inaugurado há 8 meses com alta expectativa, o Complexo de Energia Solar de Santa Luzia tem potencial para transformar a matriz energética da região Nordeste. No entanto, sua operação foi reduzida a um mínimo lamentável, com registros de 0 MWh e 32 MWH de produção nas últimas quarta e quinta-feira, respectivamente, decorrentes de restrições severas impostas pelas autoridades governamentais.
O número inicial de colaboradores do Complexo, de 800, foi reduzido para 100 e ainda é possível manter a estrutura que inclui áreas arrendadas de proprietários rurais que, há quase um ano, devido ao volume do investimento, criaram expectativas otimistas de renda a longo prazo.
Impactos locais: promessas não cumpridas
Além deles, toda uma cadeia decorrente dos empregos indiretos gerados, como comerciantes e hotéis, inclusive de municípios próximos, como Patos, a 43 km de distância, onde o Hotel Nord criou vagas até para mensalistas e, de olho nessa promissora oportunidade, iniciou a construção de outro empreendimento.
A realidade é amarga; afeta e impacta diretamente e inegavelmente as populações locais. A promessa de empregos e desenvolvimento, que uma vez manteve o Nordeste em uma direção otimista quanto à expansão de fontes geradoras de limpas de energia, agora oscila entre a incerteza e a indignação. Pequenos e médios empresários das regiões afetadas, que esperavam bons ventos de crescimento, sentem o peso das decisões centralizadas que desconsideram os efeitos locais e regionais.
Desafios de planejamento e infraestrutura
“Nos tornamos reféns de uma máquina descontínua e imprevisível que opera sem considerar o futuro a longo prazo”, desabafa Edmond Fahrat, diretor-presidente da Rio Alto Energias Renováveis, empresa responsável pelo Complexo de Energia Solar de Santa Luzia. Essa situação caótica, reverberada pelos números crescentes de prejuízos, exige uma reação imediata e decisiva do governo brasileiro para reverter o cenário antes que a confiança dos investidores internacionais seja irremediavelmente danificada. Sem isso, qualquer esperança de transformar o Nordeste em um hub verdadeiramente global de energia renovável se dissipa.
O protagonismo do Ministério e as falácias de Davos
As raízes desse problema estão na ausência de um planejamento adequado por parte da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), vinculada ao Ministério de Minas e Energia. Embora a expansão da geração de energia renovável fosse previsível, a infraestrutura necessária para suportar esse crescimento não foi implementada. A falta de novas linhas de transmissão, essenciais para evitar o atual gargalo, evidencia essa falha.
E destacou: “Já sabíamos a quantidade de energia que entraria no sistema, mas faltou planejamento para contemplar todos esses projetos”. Ele criticou a ausência de novas linhas de transmissão que deveriam ter sido construídas para evitar o atual gargalo.
Os recentes desenvolvimentos no setor energético do Brasil pressionam um dos maiores polos de energia renovável do país, assim como refletem também a aparente dissonância entre o discurso governamental e a realidade econômica enfrentada pelos investidores do setor. Durante um evento mundial em Davos, o Ministro das Minas e Energia, Alexandre Silveira, assegurava que a regulação do sistema elétrico nacional estava preparada para atrair investidores. No entanto, as empresas relatam perdas diante das restrições impostas, evidenciando um planejamento insuficiente e promessas não cumpridas.
O peso dos investimentos perdidos
“O que nós vemos hoje é um completo descaso com os investidores que acreditaram nas potencialidades energéticas do Brasil”, afirma Edmundo Fahrat, diretor-presidente da Rio Alto Energias Renováveis. “A estabilidade prometida não passa de uma falácia. Esperávamos garantias; o que recebemos foram obstáculos”
A crise ameaça o futuro dos investimentos em energia renovável no Nordeste e também coloca em risco a confiança de investidores internacionais. “Quem vai investir no país se você não tem a segurança da sua receita de amanhã?”, questionou o CEO, ressaltando que a insegurança regulatória e jurídica pode afastar novos investimentos. A continuidade das restrições pode inviabilizar projetos futuros, incluindo iniciativas promissoras como a produção de hidrogênio verde, que dependem da estabilidade e previsibilidade do setor energético.
O impacto econômico é significativo para a região, que já investiu bilhões em infraestrutura de energia limpa. A Rio Alto, por exemplo, já destinou R$1,2 bilhão, dos quais R$200 milhões foram alocados para estações de suporte a futuras usinas. Com as restrições atuais, a empresa enfrenta a possibilidade de perder esse investimento, o que representaria um prejuízo monumental para a companhia e, consequentemente, para toda a economia do Nordeste, especialmente a Paraíba, que depende desses projetos para crescimento e desenvolvimento.
Um chamado à reforma urgente e transparente
Essas restrições operativas, que limitam drasticamente a capacidade de geração de energias renováveis, não apenas afetam as receitas das empresas como manifestam um impacto em cadeia, atingindo consumidores. “Limitar nossa produção é equivalente a esfriar o mercado com medidas que penalizam quem mais investiu” complementa Fahrat, salientando a amplitude dos prejuízos.
O cenário atual exige uma resposta rápida e eficaz do governo para evitar a paralisação de investimentos e o colapso de um setor vital para o desenvolvimento sustentável do país. Sem uma solução imediata, o Nordeste, que poderia se consolidar como um polo de energia renovável, corre o risco de ser deixado para trás, penalizando ainda mais uma região que já enfrenta desafios econômicos significativos.
A reflexão sobre a condução do setor é urgente. A continuidade nas promessas ilusórias de um planejamento energético estável pode levar a desastres econômicos ainda mais severos. “Estamos diante de um enigma que requer soluções, não mais palavras sem compromisso” ressalta Edmond Fahrat, conclamando por ações que alinhem os ideais de crescimento sustentável com as realidades operacionais do setor.
Em suma, a falta de planejamento e a ausência de infraestrutura adequada por parte das autoridades competentes comprometem o presente e colocam em xeque o futuro da energia renovável no Brasil. É imperativo que medidas sejam tomadas para reverter esse cenário e garantir a continuidade dos investimentos e o desenvolvimento sustentável da região.
A necessidade de reformas, transparência e alinhamento estratégico
A situação evidencia a urgência por reformas significativas na gestão do setor elétrico. Como sugerem os críticos, um alinhamento entre aspirações regulatórias promovidas em palcos internacionais e implementações práticas no solo nacional é imperativo. Sem isso, o país corre o risco de afastar investidores internacionais, perdendo a chance de se consolidar como líder energético global.
A narrativa dominante, segundo especialistas do setor, anula as promessas otimistas de desenvolvimento energético sustentável, destacando a necessidade de uma reorganização regulatória focada em resultados tangíveis e uma governança comprometida efetivamente com a estabilidade e viabilidade do setor renovável. Edmond Farhat finaliza: “A realidade precisa ser vista, preservada e reformada, não mascarada por discursos vazios.”
O futuro do setor energético e do desenvolvimento econômico do Nordeste está claramente em jogo. Medidas práticas e diligentes devem ser executadas para garantir a continuidade e o crescimento sustentáveis, recuperando o Brasil como um protagonista renovável.
Diante desse trajeto árduo, torna-se incontestável a necessidade de o Brasil alinhar suas práticas energéticas com seus potenciais discutidos em palanques internacionais. Através de medidas globais coesas e conduzidas com a necessária transparência, o país pode estabelecer as bases de um desenvolvimento sustentável genuíno. Assim, a confiança internacional pode ser regenerada, permitindo que o Brasil, e especificamente o Nordeste, reiniciem seu percurso rumo à consolidação como líderes em energia renovável, inspirando segurança e concretizando um impacto positivo tanto local quanto globalmente.
Cândido Nóbrega
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