Por Alek Maracaja: analista de dados, publicitário, professor universitário e diretor nacional da Associação Brasileira dos Agentes Digitais (Abradi).
A polarização política no Brasil tem se intensificado cada vez mais, infiltrando-se em todos os aspectos da vida cotidiana. Este fenômeno não é apenas uma manifestação de divergências políticas, mas um reflexo de um confronto mais amplo de visões de mundo, intensificado pela tecnologia e pelas mídias sociais.
De acordo com os últimos estudos divulgados pela empresa de marketing e análise de big data Ativaweb apontam para uma divisão profunda entre os eleitores, principalmente no que diz respeito à disputa entre os candidatos Lula e Bolsonaro.
Essa polarização tem se refletido não apenas nas pesquisas de intenção de voto, mas também no comportamento dos eleitores nas redes sociais e em diversas outras esferas da vida pública, o que torna essa divisão cada vez mais acirrada, com posicionamentos cada vez mais extremados em ambos os lados.
Esse cenário representa um desafio significativo para a democracia brasileira, uma vez que dificulta o diálogo e a construção de consensos em torno de questões fundamentais para o país. Por isso, é crucial compreender os fatores que têm alimentado essa polarização, a fim de encontrar caminhos para promover uma maior unidade e entendimento entre os cidadãos.
Recentemente, a primeira edição da pesquisa Genial/Quaest sobre a eleição presidencial de 2026 apontou que se as eleições fossem realizadas hoje, 55% da população não concederia uma nova oportunidade ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Enquanto isso, 42% apoiam a reeleição do petista, com os restantes 3% não tendo uma resposta ou preferindo não opinar, conforme revelado no levantamento divulgado na última segunda-feira, dia 13 de maio.
O resultado da pesquisa Quaest dialoga com as análises da Ativaweb no sentido de que Lula e Bolsonaro permanecem como os principais protagonistas no cenário político, ambos representando os nomes mais robustos de seus respectivos espectros ideológicos. Mas é preciso ir além. Lula e Bolsonaro não são apenas os respectivos representantes da esquerda e da direita no Brasil, eles são os ícones do extremismo em nosso país, se retroalimentando quase que simultâneamente através de uma série de embates que ultrapassam os limites dos temas e das pautas políticas.
Paralelamente, as plataformas digitais, que prometiam democratizar a comunicação, acabaram por se tornar arenas onde grupos polarizados se fortalecem em bolhas ideológicas. Dentro dessas bolhas, as pessoas encontram não só um eco de suas próprias vozes, mas também um arsenal de conteúdo que reforça suas convicções e antagoniza o “outro” lado. O algoritmo das redes sociais, programado para engajar, aprendeu que a polarização vende, e com isso, alimenta um ciclo de animosidade e desinformação.
Esse cenário digital tem um impacto particularmente forte sobre aqueles que, na era pré-internet, poderiam ter permanecido observadores passivos. A tela do computador ou do smartphone oferece não apenas anonimato, mas uma espécie de coragem virtual que permite até mesmo aos mais tímidos expressarem suas opiniões com uma autoridade e agressividade que raramente exibiriam em interações face a face. Esta nova dinâmica muitas vezes transforma discussões saudáveis em trocas hostis, onde o objetivo não é compreender ou persuadir, mas derrotar.
Esta polarização encontrou solo fértil até mesmo em espaços tradicionalmente vistos como sagrados e unificadores, como as igrejas. Conflitos que antes se resolviam com diálogo e concessões agora se prolongam indefinidamente, com cada lado acreditando estar em uma batalha moral absoluta pela verdade e pela virtude.
No centro dessa tempestade estão as figuras políticas e líderes de opinião, que, reconhecendo o poder das divisões, as manipulam para consolidar seu próprio poder e atender aos interesses de uma minoria. A promessa de que tudo “vai terminar em pizza” não passa de um eco distante, substituída pela realidade de uma sociedade cada vez mais fraturada.
Contudo, há uma ironia que morde o coração dessa polarização: enquanto a população se engaja em batalhas verbais cada vez mais violentas nas redes sociais, os verdadeiros artífices do caos observam à distância, lucrando com cada clique de indignação. Não é segredo que líderes políticos, de todos os espectros, frequentemente inflamam as tensões para desviar a atenção de falhas administrativas ou escândalos de corrupção. De maneira similar, a grande mídia, sedenta por audiência, frequentemente escolhe destacar e até mesmo exacerbar conflitos, transformando debates políticos em espetáculos teatrais que pouco contribuem para soluções reais. Assim, a polarização não é apenas um subproduto acidental da política moderna, mas uma ferramenta deliberadamente empregada para fragmentar e enfraquecer a sociedade, permitindo que pequenos grupos mantenham o controle enquanto a maioria se perde em disputas intermináveis.
A grande pergunta que se impõe é: quem está manipulando os cordéis dessa polarização cotidiana? Embora a resposta possa incluir desde políticos e empresários até os próprios arquitetos das redes sociais, a verdade é que a responsabilidade é compartilhada. Cabe a cada um de nós, como consumidores e produtores de conteúdo, refletir sobre o papel que desempenhamos na perpetuação dessa divisão e buscar caminhos para uma sociedade mais coesa e menos polarizada.
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