O ex-governador do Rio Sérgio Cabral mudou de advogado e de estratégia de defesa. Ele está preso, condenado a mais de 200 anos de prisão. E agora decidiu admitir que recebeu, sim, propina.
O ex-governador procurou o Ministério Público na semana passada para anunciar uma nova postura. Traduzindo: Sérgio Cabral prometeu falar a verdade.
“O meu advogado tem que me orientar quando eu devo falar porque eu quero falar tudo”.
Até agora o ex-governador sempre usava meias palavras e desculpas para admitir apenas o uso de dinheiro de caixa dois.
“Eu errei ao obter recurso de maneira incorreta, ilegal, em nome das campanhas eleitorais que liderei, e que usei esses recursos. O que não fiz foi pedir propina. Agir como corrupto isso eu nunca agi”.
O discurso mudou.
“Soares me dava propina minha, é outra coisa que eu posso falar também em outra situação”.
Arthur Soares foi o maior fornecedor do governo na gestão de Sérgio Cabral.
Sérgio Cabral não fez uma delação. Os procuradores o tratam como réu confesso. No depoimento gravado em vídeo o ex-governador revelou o pagamento de propina em obras, contratos com fornecedores e negociações envolvendo o governo do estado nas duas gestões dele.
Ele contou que o ex-chefe da Casa Civil Régis Fichtner, preso pela Lava Jato no dia 15 de fevereiro, era uma espécie de primeiro-ministro também das negociatas.
“Tudo comandado pelo Régis. Eu dava na mão dele. Dizia: eu quero assim, faz assim, ele ia fazendo, coordenando e tirando os próprios proveitos dele. Eu tirava os meus proveitos dos meus combinados, eu quero x% da obra, 2%, 3% da obra e o Régis fazia um acordo, se beneficiava também dessa caixa”.
Sérgio Cabral revela que os esquemas começaram assim que ele assumiu o governo do Rio.
“Desde o começo do governo em 2007. Se não foi janeiro, foi fevereiro, se não foi fevereiro foi março, quando começou a rolar a propina paga por aqueles fornecedores. Prestadores de serviço”.
“Se nós não tivéssemos feito o acordo, podia ser mais barato. Podia ser mais barato, se o jogo não fosse combinado”.
MP: E o seu caixa era formado pelo que a Odebrecht pagava?
Cabral: O que a Queiroz pagava, o que a Cowan pagava, o que a Carioca pagava.
MP: Todas as construtoras do metrô pagavam?
Cabral: Uma não, que eu não sei o nome, uma não pagou nada.
Até agora, Sérgio Cabral também costumava desqualificar qualquer subordinado que tentasse desmentir as versões dele sobre caixa dois. Foi assim com Carlos Miranda, apontado como o homem da mala da quadrilha.
“Ele também era um amarra-cachorro meu. Ele recebia um salário. Ele recebia um salário mensal. Eu achava ele um sujeito sem graça e casado com a minha prima”.
Mas isso parece ter mudado também.
“O Miranda era meu: ele entrava quando era chamado por mim para alguma coisa. Mas o Miranda sabia, às vezes eu fazia questão de contar para ele: dizia olha, esse dinheiro veio daqui, daqui, daqui”.
Pelo que diz o ex-governador nesta nova fase vem mais por aí.
“Gente, eu estou muito aliviado, sabia? E quero continuar ficando aliviado. Seja o tempo que eu passar na cadeia”.
O que dizem os citados
A defesa de Régis Fichtner negou as acusações. Afirmou que as declarações de Sérgio Cabral só podem estar servindo ao propósito de obter benefícios ilegítimos para alguém que já foi condenado em inúmeros processos.
A defesa de Carlos Miranda confirmou as declarações do acordo de colaboração premiada, em que Miranda reconhece sua participação no grupo liderado pelo ex-governador Sérgio Cabral no gerenciamento de valores.
A Odebrecht declarou que tem colaborado de forma eficaz com as autoridades em busca do pleno esclarecimento dos fatos narrados pela empresa e seus ex-executivos.
G1
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