Onde antes havia uma profusão de fiéis e turistas vestidos de branco, há ruas em grande parte vazias, lojas com anúncios de promoção e pousadas com portas fechadas.
A prisão do médium João Teixeira de Faria, conhecido como João de Deus, tem afugentado visitantes da pequena Abadiânia, cidade no interior de Goiás onde o médium costumava realizar atendimentos espirituais.
Até então, o município recebia por mês cerca de 10 mil fiéis em busca de orações e cirurgias do “João curador” – número equivalente a quase metade do total de seus habitantes.
Agora, a quantidade de visitantes é incerta. Desde a última semana, quando surgiram as primeiras denúncias de abuso sexual que teriam sido cometidos pelo médium, o número de turistas no local tem registrado forte queda.
Nesta semana, três dias após a prisão de João de Deus, ocorrida no domingo (16), o baixo movimento já levava pousadas a anteciparem recessos de fim de ano ou a fecharem temporariamente as portas.
Segundo o prefeito José Aparecido Diniz, em menos de dois dias, o município contabilizou ao menos 150 demissões, a maioria em comércios e pousadas que ficam “no lado da Casa” da cidade – termo usado comumente por moradores para chamar a parte do município, separado pela BR-060, onde fica a Casa Dom Inácio de Loyola, espécie de hospital espiritual criado pelo médium em 1976.
“Alguns que demitiram já pediram até para encerrar a firma”, relata o prefeito, que afirma ter feito a estimativa com base em um levantamento da prefeitura junto a escritórios de contabilidade.
Sem ter hóspedes nesta semana, o empresário Sérgio Abrantes, proprietário de uma pousada a quatro quadras da Casa Dom Inácio, acabou por antecipar o recesso a todos os funcionários.
“Trabalho sempre com 70% a 80% de ocupação. No fim do ano, o movimento já cai em alguns dias para 30%. Mas agora caiu ainda mais”, diz.
Uma situação que se repete em outros hotéis e pousadas. Em visita à região, a reportagem contou ao menos três delas de portas fechadas ou com avisos de recesso.
Quem manteve o atendimento sentiu a queda de visitantes. Em uma pousada na avenida Frontal, rua onde fica o centro espiritual, o atendimento que chegava a 80 pessoas em dias normais ficou restrito nesta semana a apenas oito, que devem ir embora em breve.
“Também já estamos recebendo pedidos de cancelamentos para o próximo ano”, diz a funcionária Fabiana, que pede para não ter seu nome completo divulgado por receio de represálias.
Responsável pela administração da pousada, ela diz que, caso a queda não seja revertida, poderá haver demissões.
“Vamos segurar as pontas até o ano que vem. Se a situação não reagir, vou demitir cinco e ficar só com duas pessoas”, afirma.
Nesta quarta (19), lojas e restaurantes também ficaram vazios. “Eu mesmo tive que demitir uma pessoa ontem [terça]. O movimento despencou, e não sabemos como vai ser depois”, diz Luiz Augusto Paranhos, dono de uma sorveteria a poucos metros da Casa Dom Inácio.
“Sem o seu João, é difícil recuperar o movimento como antes”, afirma ele, que acabou por desistir temporariamente de uma reforma que faria no local.
Notícias ao Minuto
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