O Brasil ultrapassou os 970 mil casos prováveis de dengue, de acordo com dados do Ministério da Saúde. Os dados vão até a semana epidemiológica 8, encerrada no sábado, 24, e foram anunciados nesta terça, 27. Isso significa que, em dois meses, o País já registrou mais da metade (58,6%) de todas as notificações do ano passado, quando 1,65 milhão de infecções foram observadas.
Frente a esse cenário, sete unidades federativas (AC, DF, GO, MG ES, RJ e SC) – a maioria delas no eixo Centro-Sul do Brasil – e 154 municípios decretaram emergência, de acordo com o último informe diário da pasta. A nível nacional, a incidência da dengue é de 479,3 casos a cada 100 mil habitantes – a maioria dos decretos ocorreu após a cidade ou estado ultrapassar os 300 casos/100 mil habitantes.
Para Julio Croda, infectologista da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e professor da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS), o acumulado de casos nesta época do ano é, de fato, “inesperado” e “não usual”. “Vamos viver o pior ano da epidemia de dengue que a gente já viu no País”, alerta.
“A expectativa é que esses números continuem a crescer, e que a gente supere o recorde histórico de número de casos e, infelizmente, também o número de óbitos”, completa. Considerando que nosso sistema de vigilância mudou pouco nos últimos anos, o médico lembra que há uma estimativa de nove casos subnotificados para cada registro oficial de caso provável, além dos assintomáticos. Ou seja, o número real deve ser bem maior.
Em coletiva nesta terça-feira, 27, o ministério destacou que o avanço de casos ocorre em um momento em que não só a dengue circula, o que eleva a preocupação. “Temos chikungunya, temos covid, começamos também agora uma temporada de vírus respiratórios, que precisamos prestar atenção”, disse Ethel Maciel, secretária de Vigilância em Saúde e Ambiente do Ministério da Saúde.
“Aos primeiros sinais de sintomas de febre, dor no corpo, dor nas articulações, dor atrás dos olhos, mal-estar, dor de cabeça, mancha no corpo, procure um serviço de saúde”, pediu. A ministra Nísia Trindade anunciou um “dia D” do combate à dengue, que ocorre no sábado, 2, com ações de prevenção e de incentivo à eliminação dos focos do mosquito Aedes Aegypti, vetor da dengue – 75% dos criadouros estão dentro de nossas casas.
O número de mortes por dengue é de 195 até o momento. Em todo o ano passado, foram 1.094 mortes, o recorde histórico. A letalidade (a razão entre o número de mortes e dos casos prováveis de dengue), porém, é menor do que no ano passado, de acordo com a pasta. Comparando as oito primeiras semanas epidemiológicas de cada ano, a taxa de letalidade era de 0,07 em 2023, e, agora, está em 0,02.
Em coletivas de imprensa realizadas ao longo deste ano, autoridades já chamavam a atenção para essa queda, atribuindo o resultado a uma melhor preparação das equipes de saúde para manejar os casos. A dengue não tem tratamento específico, mas um protocolo adequado de hidratação salva vidas.
Mesmo faltando alguns dias para o fim de fevereiro, o acumulado de casos dos primeiros dois meses deste ano já é 236.37% maior do que o registrado nos dois primeiros meses do ano passado. De acordo com o painel de arboviroses do ministério, foram registrados 289.366 casos prováveis de dengue em janeiro e fevereiro de 2023.
O último informe semanal da pasta, que traz informações um pouco mais detalhadas, publicado em 20 de fevereiro, o maior número de casos deste ano ocorreu na semana epidemiológica 5, que compreende o período entre 28 de janeiro e 3 de fevereiro, quando houve registro de 175.015 infecções prováveis. O pico de 2023 aconteceu na semana 15 (111.840), entre 9 e 15 de abril.
A dengue tem um comportamento sazonal. De acordo com o Ministério da Saúde, o aumento do número de casos e o risco para epidemias ocorre, principalmente, entre os meses de outubro de um ano a maio do ano seguinte.
O ideal é que nos preparemos para o pior. Ou seja, para que o pico aconteça entre abril e maio”
Julio Croda, infectologista da Fiocruz e professor da UFMS
Mas os picos não costumam ocorrer já nos primeiros meses do ano. “Ultrapassamos o pico da doença de 2023 com dois meses de antecedência”, destaca Croda.
Ethel disse, na coletiva desta terça, que a curva de casos deste ano é atípica. Os casos começaram a subir antes do que ocorria e em uma velocidade “muito rápida”. O Ministério da Saúde já chegou a apontar que o Brasil pode estar vivendo uma antecipação da sazonalidade.
Croda acha que é muito cedo para termos certeza de que o pico se antecipou. “O ideal é que nos preparemos para o pior. Ou seja, para que o pico aconteça entre abril e maio.”
Na coletiva desta terça, a ministra Nísia e Ethel frisaram que não é possível ser categórico neste momento e que muitas incertezas permeiam essa hipótese. “Não sabemos ainda, e estamos monitorando os dados, se vai haver uma descida”, disse Ethel. Segundo ela, outras perguntas importantes, caso haja um decréscimo, são: “a descida vai ser sustentada?” e ” ela vai ser tão rápida como a subida”. Todas elas sem resposta, afirma.
Previsão
A estimativa do Ministério da Saúde é de que, neste ano, o Brasil atinja 4,2 milhões de casos. É mais do que o dobro dos registros do ano passado e algo nunca visto antes no País.
Um dos motivos para a previsão nada otimista é que, após muitos anos, os quatro sorotipos da dengue circulam no País, embora DENV-1 e DENV-2 prevaleçam. Além disso, há a influência das mudanças climáticas e do El Niño, que causam aumento de temperatura, e um ritmo anormal de precipitações. Trata-se do cenário ideal para o mosquito Aedes Aegypti, o vetor da dengue, transmitir o vírus e se proliferar.
As informações são da Revista Exame
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