A investigação se baseia especialmente em pagamentos de acusados de integrar a facção para um dos advogados que defendeu Adélio, mas que foram feitos dois anos depois da tentativa de assassinato do ex-presidente Jair Bolsonaro.
Na reportagem, o jornal informa que o fato foi descoberto depois da obtenção de dados do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) e que a cúpula da PF não concordaria com essas informações preliminares do inquérito.
A investigação, presidida pelo delegado Martin Bottaro, foi instaurada em 2022, depois que a Justiça autorizou a PF a ter acesso ao conteúdo do celular de advogados que fizeram a defesa de Adélio. Bottaro é considerado um dos principais especialistas em PCC na PF atualmente.
As principais conclusões, até agora, do inquérito são:
- A descoberta por meio do Coaf de pagamentos fracionados de R$ 315 mil realizados em 2020, por pessoas supostamente ligadas ao PCC para uma empresa no nome Magalhães. Esse valor viria de empresas consideradas laranjas e utilizadas pelo “Setor de Ajudas” do PCC, estrutura que custeia despesas de integrantes da facção.
- O montante é próximo ao valor máximo citado por Zanone Oliveira Junior, advogado que fez parte da defesa de Adélio, como o que seria cobrado caso tivesse ficado no caso até eventual chegada de recursos ao Supremo Tribunal Federal
- Um registro no livro-caixa de Zanone com pagamento de R$ 25 mil e a rubrica “caso Adélio”;
- Um grupo de troca de mensagens entre os advogados no aplicativo WeChat com o nome “Adélio PCC”.
Conversas no grupo do WeChat acessado a partir do celular de Zanone giravam em torno da preocupação com o fato de Fernando Magalhães ter atuado na defesa de membros do PCC, relatam as investigações.
Até então, dois inquéritos concluíram que Adélio agiu sozinho e a Justiça acatou laudos de insanidade mental, fazendo com que ele fosse considerado inimputável. Ele cumpre medida de segurança na penitenciária federal de Campo Grande (MS).
Segundo informação obtida pela Folha em off (sem citar a fonte), a Diretoria de Inteligência da PF considera a nova linha de investigação inconsistente e a principal falha na tese seria o lapso temporal entre a facada e o pagamento.
Segundo a Folha, o ex-chefe da DIP Alessandro Moretti contesta a versão da atual cúpula e afirma que o delegado Martin Bottaro teve autonomia para conduzir a apuração. Moretti foi nomeado diretor-adjunto na Agência Brasileira de Inteligência (Abin) por Luiz Fernando Corrêa, indicado por Lula para chefiar a agência. Integrantes da cúpula da PF e do governo tentam barrar essa nomeação, já que o delegado tinha proximidade com o ex-ministro da Segurança do governo Bolsonaro, Anderson Torres.
Em entrevista ao jornal, o advogado Fernando Magalhães afirmou que os pagamentos recebidos por sua empresa não têm qualquer relação com a defesa de Adélio Bispo, mas “estão relacionados à defesa dos interesses de clientes, diretamente por mim ou terceiros contratados, nunca, jamais, tendo relação com qualquer suposta facção criminosa”.
O advogado disse, ainda, que nunca teve relação com o PCC e que, caso algum contratante de seus serviços de advogado tenha relação com o grupo, isso não o liga à facção. Sobre a defesa de Adélio, disse que o contrato e negociação de valores foram feitos por Zaone e que teve prejuízo com a causa.
Por fim, sobre o grupo de advogados que foi batizado de “Adélio PCC”, Magalhães afirmou que “foi uma galhofa impensada de um dos advogados, e, pela minha seriedade e compromisso, repreendi de imediato, vez que o tema é sério e não me parecia aceitável tal brincadeira”.
Com informações da Revista Oeste e da Folha de São Paulo
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