A enxurrada de votos contra que atingiu os Sarney no Maranhão também sepultou, por hora, outros grupos familiares que sobreviveram à sombra da corrupção em outros estados. A família de Jorge Picciani, que saiu da cadeia para prisão domiciliar, não conseguiu reeleger o ministro do Esporte Leonardo Picciani (MDB-RJ), também investigado na Operação Lava-Jato. Aliado dos Picciani, o filho do ex-governador Sérgio Cabral, Marco Antônio Cabral (MDB), foi derrotado na disputa de uma vaga na Câmara Federal. A derrota também tirou da Câmara a deputada Cristiane Brasil (PTB), filha do presidente do partido, Roberto Jefferson.
No Maranhão o único sobrevivente do clã Sarney é o neto Adriano Sarney, filho de Zequinha, eleito deputado estadual. João Alberto diz que o grupo se reunirá nos próximos dias para entender o que aconteceu, já que as pesquisas indicavam a eleição de Lobão e Zequinha para o Senado. Uma coisa é certa, anuncia: o grupo de Sarney não desistirá da política. Ele culpa o governador Flávio Dino (PCdoB) pela desgraça da oligarquia. Diz que tudo que ele não conseguia fazer, botava culpa nos Sarney. Dino não só derrotou Roseana no primeiro turno, como elegeu no lugar de Lobão e Zequinha os aliados de sua coligação Weverton Rocha (PDT) e Eliziane Gama (PPS).
— Nosso produto era muito bom, mas não deu certo dessa vez. Roseana era uma ótima candidata, Lobão e Zequinha iam vencer e houve uma reviravolta inexplicável no último dia. O pior de tudo, acho, é que não olhávamos para o eleitor deles, só olhávamos para as pesquisas. Nossas passeatas eram fenomenais, e depois o povo faz isso? Vamos continuar na oposição e ver o que vem aí pela frente, mas não vamos abandonar a política — disse João Alberto Souza.
O secretário particular de Sarney, Wanderley Azevedo, que disputou uma vaga ao Senado como suplente de Fátima Pelaes (MDB) no Amapá, também não teve sorte.
— A disputa foi braba e desleal. Eu nem falava no nome de Sarney na campanha para não gerar incompreensão. Eu tenho por ele uma grande admiração, respeito e uma amizade paternal — diz Wanderley Azevedo, revelando que o poder de Sarney no Amapá, estado que buscou um mandato no Senado, também derreteu.
DESGASTE DO PT
No Acre, com o desgaste do PT e do governo estadual, depois de 16 anos no poder, o eleitor afastou os irmãos Jorge Viana, ex-vice presidente do Senado, e Tião Viana, governador que não conseguiu eleger seu sucessor. A vitória do candidato a governador adversário Gladson Cameli se concretizou no primeiro turno. Jorge e o ex-governador Binho Marques integraram o chamado grupo “meninos do PT”, que movimentou a política do Acre no início da década passada, no auge da criação do partido .
Binho critica a gestão de Tião Viana, com quem rompeu pelo desgaste do grupo.
— Jorge e Tião nunca formaram um grupo. São muito diferentes e nunca seguiram o mesmo caminho. Para o eleitor, entretanto, são um só grupo. É verdade. Por este motivo o Jorge não foi eleito — avalia o ex-governador Binho Marques.
Se por um lado os Sarney, Cabral, Picciani, e Viana sofreram um duro golpe nas eleições desse final de semana, outros clãs se fortaleceram, mesmo se equilibrando em pesadas denúncias de corrupção. É o caso do senador Renan Calheiros (MDB-AL) e de Renan Filho, eleitos para novos mandatos; e do senador Jader Barbalho (MDB-PA). Além de renovar seu mandato, Jader também pode eleger o filho ministro Helder Barbalho para o governo do Pará nesse segundo turno. Do clã dos Barbalho ainda foram eleitos para a Câmara federal a ex-mulher Elcione Barbalho (MDB) e o sobrinho José Priante (MDB).
O cientista político da Fundação Getúlio Vargas, Jairo Pimentel, avalia que as dinastias políticas que sobreviveram, como Renan, estão mais próximos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Jairo diz que o que abateu as outras famílias foi o esgotamento desse tipo de grupo político. Mas alerta que o que se observa é uma renovação de clãs na politica, lembrando que o presidenciável Jair Bolsonaro (PSL), elegeu o filho Flávio para o Senado, e Carlos para a Câmara Federal.
— É o final dos tempos. A tendência é por uma renovação. Não necessariamente uma mudança na prática do domínio das famílias na política. O que vemos é uma mudança de atores, uma mudança de dinastias — avalia o cientista político Jairo Pimentel.
Herdeiro político do ex-cacique político do antigo MDB, o ex-presidente da Câmara e do partido, Paes de Andrade, o presidente do Senado Eunício de Oliveira (MDB-CE) não concorda que integre um clã político, nem que isso tenha determinado sua derrota para um novo mandato neste domingo.
— Paes? Já morreu há 12 anos! Aqui foi traição do prefeito da capital e de duas cidades da região metropolitana. Das 184 cidades eu ganhei em 168 — rebate Eunicio Oliveira.
Com O Globo
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