O ex-presidente da Petrobras e ex-senador Jean Paul Prates criticou as restrições impostas pelo governo federal às empresas que geram energia renovável no Brasil, especialmente no Nordeste. Ele apontou que o chamado curtailment (contingenciamento da capacidade de transmissão de energia) tem gerado insegurança entre investidores do setor, afetando o crescimento da energia solar e eólica na região.
“Essa situação decorre de uma má gestão do Ministério das Minas e Energia e dos órgãos responsáveis, que não planejaram adequadamente a expansão da geração distribuída e dos grandes parques solares e eólicos”, afirmou ao jornalista Cândido Nóbrega, durante recente evento promovido pelo LIDE Paraíba, em João Pessoa. A entrevista que pode ser conferida clicando aqui,
Expansão previsível
Segundo ele, o governo federal alegou que o crescimento da geração renovável ultrapassou as expectativas, levando à necessidade de limitar a produção de algumas usinas para evitar sobrecarga no sistema elétrico. No entanto, argumenta que essa expansão era previsível, vez que foi impulsionada por políticas públicas e leilões federais.
E também destacou que a criação de margens de segurança mais amplas, após um apagão atribuído à intermitência da energia renovável, acabou resultando em um controle excessivo por parte do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), comparando sua atuação à de um “guarda de trânsito” que regula o fluxo de energia sem transparência suficiente.
3 caminhos
Diante desse cenário, Prates propõe três soluções principais: reduzir o curtailment, revisar as margens de segurança adotadas pelo ONS e discutir potenciais indenizações para os investidores prejudicados: “O Brasil precisa garantir previsibilidade ao setor, uma vez que todas as novas instalações solares e eólicas já são registradas na Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), tornando possível um planejamento mais eficiente. Caso as restrições continuem, o país corre o risco de perder investimentos e comprometer o crescimento do mercado de energia renovável”, alertou.
Brasil Equatorial
O ex-secretário de energia e assuntos renováveis do RN lembrou ainda que o Nordeste tem um dos maiores potenciais de geração de energia limpa do mundo, especialmente na faixa que ele chama de “Brasil Equatorial”, que vai de Pernambuco ao Amapá, uma região, historicamente esquecida, que se tornou uma potência energética global graças à abundância de sol e vento. “No entanto, as recentes limitações impostas pelo governo colocam em xeque a atratividade desse mercado, levando empresas a repensar seus investimentos no setor”, acrescentou.
Por fim, ressaltou que a matriz energética do país passou por uma transformação significativa nos últimos anos, citando metaforicamente, que a energia no Nordeste era distribuída a partir de um centro gerador principal, como um coração bombeando sangue para as extremidades.
“Com a chegada dos parques eólicos e solares, a geração passou a acontecer diretamente nas “pontas dos dedos” desse sistema, exigindo novas adaptações na infraestrutura elétrica. É essencial que o planejamento do setor acompanhe essa realidade, garantindo que a energia limpa continue se expandindo e beneficiando o Brasil e o mundo”, concluiu.
Cândido Nóbrega
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