Em O Globo, Merval Pereira diz que “o PT, depois de ter sido derrotado por um sentimento majoritário antipetista e antilulista, mantém-se na posição de dono da esquerda brasileira, anunciando uma oposição sem trégua ao novo governo, a partir do patético discurso da derrota de Fernando Haddad. O fracasso parece ter-lhe subido à cabeça, e também à da presidente do PT Gleisi Hoffman.” Confira, na íntegra, o artigo e análise:
Não aprendeu nada
Por Merval Pereira
Parafraseando Talleyrand, Ministro dos Negócios Estrangeiros por quatro vezes, e o primeiro Primeiro-Ministro da França com Luis XVIII, o PT não esqueceu nada, não aprendeu nada. Talleyrand se referia aos Bourbons, que reassumiram o poder na sequência da Revolução Francesa, que havia decapitado Luis XVI, e não entenderam os novos tempos. Foram derrubados novamente anos depois.
O PT, depois de ter sido derrotado por um sentimento majoritário antipetista e antilulista, mantém-se na posição de dono da esquerda brasileira, anunciando uma oposição sem trégua ao novo governo, a partir do patético discurso da derrota de Fernando Haddad. O fracasso parece ter-lhe subido à cabeça, e também à da presidente do PT Gleisi Hoffman.
Haddad insistiu na “prisão injusta” do ex-presidente Lula, e Gleisi, na antevéspera da eleição, disse que o presente ideal para Lula seria indultá-lo. Só no dia seguinte se dignou a enviar um voto de boa sorte através do twitter. As urnas disseram o que pensam sobre isso.
Depois dos discursos contundentes do senador Cid Gomes e do rapper Mano Brown, que jogaram água no chopp petista ao denunciarem os equívocos cometidos pelo partido, e seu distanciamento do povo, foi a vez do candidato terceiro colocado na corrida presidencial Ciro Gomes, que adotou uma posição de bom senso e anunciou um claro rompimento com o PT.
Em entrevista à Folha de S.Paulo, faz várias críticas ao partido, que se quer hegemônico e é traidor, na sua opinião. O PDT vai entrar em rota de colisão com o PT, que muito provavelmente ficará isolado na condição de oposição radical a qualquer preço. Ciro parece querer ser uma oposição mais equilibrada, até onde isso é possível tratando-se de um político com seu temperamento. Haverá um caminho pelo meio para a oposição de esquerda, mais responsável, que pode render frutos para sua liderança.
A única chance de o PT voltar a se colocar como grande esperança do povo brasileiro é se nada no governo Bolsonaro der certo. Por isso o partido jogará no quanto pior, melhor, apostando no fracasso do governo Bolsonaro. Não é a primeira vez que o PT faz isso, não votou em Tancredo Neves para presidente, não apoiou o governo de transição de Itamar Franco, não assinou a Constuição de 1988, não apoiou o Plano Real.
A denúncia de uma suposta parcialidade do juiz Sérgio Moro contra Lula, por ter sido convidado por Bolsonaro para o ministério da Justiça, tem precedentes no partido. Já em 1989, depois de ter sido derrotado por Fernando Collor no segundo turno da primeira eleição direta depois da redemocratização, o PT acusou o presidente eleito de estar pagando favores, depois que Collor convidou o Ministro Francisco Rezek, do STF, que coordenara a eleição como Presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), para ministro das Relações Exteriores.
Rezeck aposentou-se do cargo de Ministro do STF para poder compor o ministério, mas, em 1992, retornou ao STF, período em que Collor lutava para escapar do processo de impeachment -ele não participou do julgamento de Collor por considerar-se impedido. Para que Rezek pudesse retornar ao STF, Célio Borja, que tinha sido Assessor Especial de Sarney, que o nomeou em 1986 para o STF, aposentou-se, em abril de 1992, assumindo o Ministério da Justiça no chamado “ministério dos notáveis” de Collor, última tentativa de resistir à queda política.
A integridade do ministro Rezek não foi afetada, pois ele foi ser membro da Corte Internacional de Justiça da ONU em Haia. É o mesmo processo de agora, quando os advogados de Lula, e os líderes petistas, consideram prova de parcialidade de sua atuação o Juiz Sérgio Moro ser convidado pelo presidente eleito Jair Bolsonaro para ministro da Justiça.
Moro provavelmente aceitará o convite, depois de conversar com o presidente eleito hoje, e a principal medida será a elaboração de um Plano Nacional contra a Corrupção. Nada mais natural que um candidato eleito em grande parte pela luta contra a corrupção e o apoio à Operação Lava-Jato convide para seu governo o símbolo maior desse combate.
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