Sandra, Conceição, Lili e Pequeno, são apenas algumas pessoas que há mais de 50 anos foram abandonados pelas famílias em uma “colônia”, como eram popularmente chamados os hospitais psiquiátricos antigamente, por possuírem transtorno mental grave. A maioria com diagnóstico de esquizofrenia e histórico de agressividade, hoje são moradores das residências terapêuticas da Capital, mantidas pela Prefeitura Municipal de João Pessoa (PMJP).
As residências terapêuticas, ou Serviço Residencial Terapêutico (SRT) são casas localizadas no espaço urbano, constituídas para responder às necessidades de moradia de pessoas portadoras de transtornos mentais graves, institucionalizadas ou não. Segundo dados da Coordenação Geral de Saúde Mental do Ministério da Saúde, atualmente existem 256 Residências Terapêuticas em quatorze estados e 45 municípios do país, onde moram 1.400 pessoas.
Atualmente, a SMS mantém duas Residências Terapêuticas, uma feminina e uma mista, cada uma com oito moradores. Além disso, mais uma casa está sendo preparada para absorver os pacientes de Longa Permanência do Instituto de Psiquiatria da Paraíba (IPP).
Cada SRT está localizado no território de referência de um Centro de Atenção Psicossocial. São esses CAPS de referência que realizam o cuidado integral da casa, prestando toda a assistência tanto na parte da saúde e seus cuidados, quanto à administração do local.
“A questão central da residência terapêutica é a moradia, o viver na cidade, por isso as residências não são exatamente serviços de saúde, mas espaços de morar articulados à rede de atenção psicossocial de cada município, os CAPS”, explica Sandra Carvalho, diretora de um dos CAPS da rede municipal de saúde.
A coordenadora da Saúde Mental da SMS, Alessandra Cruz, explica que podem ser atendidas pelo SRT pessoas com transtornos mentais graves que saíram dos hospitais psiquiátricos, mas que não puderam contar com suporte familiar ou de qualquer outra natureza que viabilizem sua reinserção no espaço comunitário; pessoas em acompanhamento nos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), para as quais o problema da moradia é identificado e moradores de rua com transtornos mentais severos, quando inseridos em projetos terapêuticos especiais acompanhados nos CAPS.
As residências ficam localizadas dentro das comunidades onde os moradores possam acessar os dispositivos locais favorecendo a reinserção social. Cada moradia tem um profissional cuidador que administra a casa e sua logística, além de um técnico de enfermagem que auxilia no cuidado da saúde dos moradores.
Para a cuidadora de uma das casas, Rosânia de Souza, cuidar dessas pessoas é um trabalho extremamente gratificante. “No início foi um choque, afinal, cada pessoa é uma cabeça em um mundo diferente do que estamos habituados, mas com o tempo aprendi a lidar com cada um em seu mundo. Essas pessoas são extremamente carentes e precisam de muito amor e é assim que a gente trabalha, cuidando de tudo aqui com bastante amor”, conta a cuidadora.
“Os moradores dessas residências são idosos, em sua grande maioria, com grande comprometimento clínico e muito dependentes de um cuidado integral, por isso, cada moradia tem um cuidador 24h, um técnico de enfermagem durante o dia e recebe uma atenção especial dos profissionais dos CAPS”, conclui Sandra Carvalho, diretora de um dos CAPS da rede municipal de saúde.
Serviço – Em João Pessoa, a PMJP, através da SMS, dispõe de quatro Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), que são instituições destinadas a acolher pessoas com transtornos mentais e persistentes ou que fazem uso abusivo de substâncias psicoativas. Esses centros substituem a internação psiquiátrica, buscando a reinserção social através do tratamento, uma política defendida pelo Ministério da Saúde, através da portaria 10.216/2001 que diz respeito à reforma psiquiátrica.
A Rede de Atenção Psicossocial é composta pelo Caps I – Cirandar; Caps AD – David Capistrano; Caps Caminhar; Caps Gutemberg Botelho, além de uma Unidade de Acolhimento Infantil, um Pronto Atendimento em Saúde Mental (Pasm), duas Residências Terapêuticas e leitos em hospitais gerais que fazem parte da Rede de Atenção Psicossocial (Raps) e funcionam de acordo com a Política Nacional de Saúde Mental.
No Centro, o paciente recebe acompanhamento médico e psicológico, além de participar de oficinas, grupos terapêuticos, atividades esportivas e culturais que procura integrá-los em um ambiente social e cultural junto às famílias. Uma equipe multiprofissional acompanha de perto os usuários para garanti-los a responsabilização e ao protagonismo em toda a trajetória do seu tratamento. Alguns centros, como o Cirandar e o AD, oferecem apoio psicológico e oficinas artesanais com assistentes sociais aos acompanhantes e familiares dos usuários.
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